O pior investimento do mundo

Gerson Caner*

Recente pesquisa do Ibope aponta que 50% dos paulistanos dizem reduzir de alguma forma o uso do carro.

Já é um avanço considerável se imaginarmos que o automóvel era na segunda metade do século 20 e é, ainda nos dias de hoje em menor escala, o principal símbolo de status e sucesso.  A publicidade envolvendo carros continua oferecendo glamour e virilidade, assim como a do cigarro fazia até o início deste século.

Independente de debates acerca do papel do automóvel e da eficiência do transporte alternativo nas grandes cidades, vamos analisar alguns aspectos financeiros desse ativo.

Os usuários de cidades grandes fazem uso do automóvel por cerca de 2 horas por dia, em média. Nas demais 22 horas do dia, ou 92% do tempo, o carro fica parado. E depreciando a cada dia.

Se você investir o valor de um carro de R$ 50 mil, depois de um ano terá, a juros atuais, R$ 57 mil. Mas se você tiver investido esse valor na compra de um carro, após um ano, você terá um ativo de R$ 42 mil na melhor das hipóteses.

Além de perder 20% anualmente, o IPVA lhe terá custado mais  R$ 1,3 mil, o seguro mais R$ 2 mil e a manutenção do veículo, mesmo nas revisões “gratuitas”, mais R$ 1,5 mil.

Sem falar em combustível, multas e eventuais acidentes, apenas por existir o carro lhe custou R$ 12,8 mil no ano. A hipótese alternativa, de ter investido esse dinheiro em qualquer ativo financeiro sem risco, já estaria dando uma diferença de cerca de R$ 20 mil.

Em cidades como Paris e Londres, mais de 80% dos habitantes não possuem carros. Injusto comparar essa realidade com a de cidades brasileiras que nem de longe oferecem alternativas similares de transporte público.

Assim, parece que o glamour e a falta de opções ainda asseguram ao automóvel um lugar importante na sociedade.

Mas será que em algumas gerações, o consumo de automóvel não será visto como algo tão bizarro quanto o consumo generalizado de cigarros existente no século 20?

Gerson Caner Economista pela FEA/USP, MBA em Finanças, 20 anos de experiência no mercado financeiro, atuou como diretor de empresas de consultoria (Ernst Young) e é palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais, além de Gestor de Investimentos

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