Enfim as eleições chegaram ao seu tão aguardado – e por várias vezes especulado – desfecho. Muitos falaram que foi uma eleição diferente de todas as outras, e realmente foi. Mas trago aqui um dos motivos que talvez o leitor desconheça: trata-se do podcast “Presidente da Semana”, produzido pelo Rodrigo Vizeu da Folha de S. Paulo.
Trata-se de uma sequência com episódios que foram publicados semanalmente às segundas, desde o primeiro presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca. Cada episódio aborda o mandato e grande parte da biografia de um presidente na sequência cronológica, sendo que na última semana antes do segundo turno o personagem fora Michel Temer. Após o resultado, na semana seguinte foi a vez do recém eleito Jair Bolsonaro.
A série, segundo o próprio Vizeu, foi inspirada na podcast americano “Presidential”, que foi ao ar no período eleitoral de 2016 nos EUA, seguindo a mesma dinâmica adotada pelo “Presidente da Semana”. Os próximos parágrafos serão a respeito da minha opinião como ouvinte, como editor do Terraço e de algumas observações pertinentes, respectivamente.
Como ouvinte, devo dizer que foi de uma qualidade e originalidade ímpares. Durante o período das publicações, segunda de manhã era sinônimo de “Presidente da Semana”. As idas para o trabalho eram mais prazerosas, ouvindo acerca da história da República e mais para o final, sobre a nossa adolescente democracia. Claro que depois sempre gerava excelentes discussões com outros editores da página que, assim como eu, escutavam religiosamente os episódios.
Como editor do Terraço Econômico, devo destacar a imparcialidade do Rodrigo Vizeu. Certamente ele não deve ter apertado o branco ou anulado o voto nessas eleições, da mesma forma que ele deve, sim, ter uma opinião política formada. Ao mesmo tempo, é difícil – quase impossível – cravar exatamente qual seria seu ponto de vista, apenas escutando seu podcast, o que é muito bom. Destaco esse ponto porque isso faz parte da cultura do Terraço, e, naturalmente, tendemos a valorizar muito um jornalismo transparente e apartidário. Claro que os membros têm suas preferências, e eu me incluo nisso, mas ao utilizar o nome da equipe, é benéfico deixar a própria opinião dentro de uma zona cinzenta, e assim faz o Rodrigo.
É possível também, destacar algumas observações pertinentes. A voz de alguns presidentes compondo a vinheta é de uma riqueza ímpar, exatamente por passar a impressão da atemporalidade de algumas frases. Destaco “Isso é um absurdo, aconteceu exatamente o contrário!”, “Com absoluta convicção eu digo: este país vai dar certo.” e “Não há razão para ser pessimista!”, de Fernando Collor, FHC e João Goulart, respectivamente. Acredito eu que sejam três frases que poderiam se encaixar em qualquer período da história da República. Porém, se procedem ou não, já é outra conversa.
Ainda há as canções que surgiram ao longo da história, criticando ou fazendo alguma sátira do governo, como por exemplo, em marchinhas de carnaval e nos programas humorísticos (com grande destaque para o lendário Casseta e Planeta). Isso demonstra que a criatividade, inserida em um vocabulário mais contemporâneo – a “zoeira” – dos brasileiros sempre foi bastante fértil quando se trata de alfinetar figuras públicas.
Sendo assim, em épocas de lacração, fake news, mídias tradicionais em descrédito e um debate extremamente raso, Rodrigo Vizeu deu seu recado: o jornalismo vive. Se pudesse dar um conselho, seria que o autor procurasse algum outro tema da história do Brasil que pudesse ser abordado via podcasts. Sobre isso vêm algumas sugestões, como as moedas que passaram pelo Brasil ou até mesmo a Operação Lava Jato. Posso afirmar, e o Rodrigo sabe muito bem disso, que neste país jamais faltará assunto e principalmente polêmica. Por último, fica aqui os meus parabéns pelo brilhante trabalho e um obrigado pelo enriquecimento do debate.
Até a próxima!