Os desafios do novo presidente da Argentina

Javier Milei é o novo presidente  da Argentina. Com quase 56% dos votos válidos, o economista austríaco tem uma árdua missão: trazer de volta o glorioso passado argentino, esmagado por políticas coletivistas.

O povo argentino escolheu neste domingo (19) Javier Milei como representante máximo do poder executivo do país. Com uma vitória um pouco mais folgada do que estamos acostumados a ver na América Latina – o famoso 49% x 51% -, Milei tem ganhado notoriedade por suas ideias liberais.

Ideias essas que não são desconhecidas pelos argentinos.

Em 1959, Ludwig von Mises – um dos economistas mais proeminentes da escola austríaca – proferiu diversas palestras na Universidade de Buenos Aires (UBA). A transcrição dessas palestras, feita pela sua esposa Margit von Mises, deu origem a obra As seis lições.

Na obra, são defendidas ideias caras ao novo presidente argentino e apresentam a base do que defende a escola austríaca de economia. Assim como Mises, Milei vê o indivíduo, e não o Estado, como o principal agente econômico.

A julgar pelo passado recente dos presidentes argentinos, Mises estaria se revirando no túmulo. Peronistas, kirchneristas e sociais-democratas se digladiavam para descobrir quem levaria o povo argentino para a ruína mais rápido. Sergio Massa, velho conhecido da família Kirchner, estava no páreo desta vez.

Thomas Sowell dizia que quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-las. Ler o plano de governo do candidato Sergio Massa é passar por essa experiência.

No seu plano de governo, promete fortalecer aquilo que deixou a Argentina no estado atual: aumento dos gastos públicos para sustentar as políticas de bem estar social, muitos subsídios e a figura do Estado como principal agente econômico.

O problema é que o candidato já assume um cargo na atual gestão. A população argentina mostrou que prefere não acreditar nessas promessas, em suma, percebeu a realidade daquele provérbio latino de que não há bônus sem ônus.

Mas o novo presidente terá de negociar com as bancadas…

Na atual conjuntura, existem 3 principais bancadas no congresso argentino: União pela Pátria, Juntos por el Cambio e La Libertad Avanza.

O partido La Libertad Avanza – partido de Millei – não tinha muitos deputados eleitos até essas últimas eleições. Antes das eleições tinham 3 cadeiras. Agora, 37. Na teoria, os deputados do seu partido apoiarão seus projetos.

A segunda bancada mais numerosa é o Juntos por el Cambio, bancada à qual Maurício Macri lidera e que teve Patricia Bullrich como candidata à presidência. Eles tiveram grandes baixas (saíram de 118 para 93) mas ainda continuam sendo relevantes para a formação da classe congressista.

Por fim, a bancada que tem mais representantes – Unión por la Patria – é a bancada de Sergio Massa. O grupo elegeu 108 deputados. A governabilidade de Millei passa pelo seu poder de convencimento em relação aos deputados do partido Juntos por el Cambio.

As propostas de Millei passam longe do populismo de Massa. Apelidado como Plano Motosserra, Milei anunciou que passará uma “motosserra nos gastos públicos e nos políticos, que são um bando de delinquentes que seguem mentindo para o povo”.

A retórica de Milei é bem incisiva contra os políticos. “Não passam de ladrões que não gostam destes cortes pois não terão mais onde mamar, terão que ficar sem roubar e vão ter que trabalhar como as pessoas honestas […]”, disse Milei em uma de suas lives.

O que Milei herdará do seu antecessor…

A Argentina, que outrora fora um dos países mais ricos do mundo, vive hoje um caos político-econômico. Assistencialismo governamental, altos subsídios e política monetária expansionista explicam parte do problema.

Só para se ter uma noção do estado atual da Argentina, vale mencionar alguns números:

  • A taxa acumulada de janeiro a outubro da inflação foi de 120%. O Brasil, nesse período, teve 3,8%. Houve também uma retração de 2,5% do PIB neste ano. Com números tão ruins, a população mais vulnerável vê sua qualidade de vida desabar.
  • Além da desvalorização da moeda, a pobreza já atinge 40,1% dos argentinos. A produção de soja é a menor em 15 anos – vale ressaltar que o país é o líder mundial na produção e exportação de farelo.
  • Carga tributária de 37,2%, com mais de 160 impostos diferentes e a dívida com o Fundo Monetário Internacional chega a U$ 44 bilhões. Para o investidor externo, a Argentina deixou de ser viável há muito tempo.

Chesterton dizia que, quando estamos na beira de um precipício, a única maneira de progredir é retroceder. O resultado dessas eleições mostraram que a maioria não está mais disposta a sustentar políticos com planos socializantes.  É difícil cravar o que vai acontecer com a Argentina nesses próximos quatro anos.

O povo quer mudança e escolheu Milei para fazê-las. A Argentina será um grande laboratório para se colocar em prática as ideias do primeiro presidente libertário da história moderna. ¡Viva la Libertad, carajo!

Maxwell Marcos
Graduado em Economia

Terraço Econômico

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