O que aprender com a Argentina para não repetir no Brasil?

Até o dia que esse artigo foi escrito, há incertezas de como procederá a passagem da faixa presidencial. Mais misterioso que isso, somente a equipe que o novo presidente do Brasil está montando.

Alguns nomes já aparecem no pleito, mas não passam de meras especulações.

O que está claro para a maioria dos brasileiros é não querer um futuro semelhante ao dos nossos vizinhos argentinos. Com um nível de pobreza recorde e inflação em alta, cada ano que passa fica mais difícil fazer reformas estruturais num país tomado pelo estatismo.

Abaixo, duas medidas – uma microeconômica e outra macroeconômica – que vem ajudando a acentuar a crise que o povo argentino passa.

1) O congelamento de preços

Na última segunda-feira (02/11), o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, informou aos veículos de comunicação que está preparando um plano econômico de congelamento de preços para conter a inflação. O plano deverá ter 120 dias de duração e começará em dezembro deste ano.

Os preços tabelados podem ser consultados pelo aplicativo “Mi Argentina” e o estabelecimento que descumprir o programa será multado.

Além de uma afronta à liberdade do comerciante não vender seu produto pelo preço que quiser, o problema se estende até chegar a falta desses mesmos produtos que inicialmente o governo queria que não faltassem. E por que isso acontece? A microeconomia explica.

Na figura abaixo, temos um gráfico explicando genericamente o que ocorre quando há um congelamento de preços na economia. Nota-se que existe um preço de equilíbrio no mercado (Pe). Nesse ponto, existe uma eficiência econômica: não há excesso de oferta nem de demanda.

Com o congelamento de preços, os ofertantes não podem ofertar seus produtos pelos preços que desejam. Ou seja, a quantidade ofertada é inferior a quantidade demandada (Q2 > Q1), gerando assim escassez dos produtos que tiveram seus preços congelados. O congelamento de preços é o triunfo definitivo do burocrata sobre o mercado.

Fica mais fácil imaginarmos como o ofertante agiria numa situação dessa. Imagine você como produtor de um desses bens que tiveram seus preços congelados. Quais serão seus incentivos para aumentar a produção – e, consequentemente, os custos – sabendo que os preços estão congelados? Qual o incentivo que novas empresas possuem para entrar num mercado em que o preço está congelado?

Os mais pobres – que veem essa ação com bons olhos -, são os mais prejudicados.

Pior que isso: existe o surgimento de um mercado paralelo para suprir a necessidade dos demandantes. Nada impede que um consumidor compre os produtos que estão com os preços congelados e o revenda com preços abusivos – deixando os mais pobres em pior situação.

Essa é a razão pela qual justamente os produtos que estão na lista do congelamento simplesmente somem das prateleiras.

2) Política monetária desastrosa

A política monetária expansiva na Argentina é um problema crônico. Como  o governo gasta muito mais do que arrecada, existe a necessidade de arranjar um jeito de financiar esse déficit. Surgem então duas alternativas: financiamento externo ou impressão de papel-moeda.

Para a primeira alternativa se tornar viável, a Argentina precisaria de reformas estruturais que sinalizassem ao investidor externo uma mudança de postura no combate aos problemas econômicos. Privatizações em massa, corte de subsídios, diminuição dos tributos, responsabilidade fiscal…

Não foi isso que aconteceu no passado recente.

Até Mauricio Macri, esperança de vários liberais de salvar a economia do iminente colapso, não conseguiu fazer muita coisa. Pedir dinheiro ao FMI também seria outra alternativa. O problema é que a Argentina tem um histórico bem ruim com esse fundo – um passado de calotes milionários.

Resta-lhes a impressão de papel-moeda e, consequentemente, a inflação.

Com uma inflação que chegará a 95% este ano, como alertam alguns economistas, a Argentina tenta controlar esse problema com a subida dos juros. O problema é que o peso já não atrai tanto a confiança da população que está preferindo a troca por dólar para proteger seu poder de compra.

Para se ter uma ideia do tamanho do estrago da impressão desenfreada de papel-moeda, o gráfico abaixo mostra o quanto de peso argentino é necessário para comprar um dólar americano.  A série mostra os últimos 10 anos da inflacionada moeda. Hoje são necessários 157,57 pesos para comprar 1 dólar.

Diante toda essa tragédia monetária, a confiança no mercado doméstico também despenca. O risco-país, por exemplo, da Argentina – índice que investidores levam em conta para investir no país – está maior que o da Ucrânia.

O Brasil precisa usar a Argentina como um exemplo e fazer de maneira oposta tudo que nossos vizinhos fizeram. Liberdade econômica, responsabilidade fiscal e moeda forte são os caminhos convencionais para uma nação prosperar economicamente.

Que Deus esteja conosco.

Maxwell Marcos
Estudante de economia


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