O que a equipe do Terraço leu de bom em 2017?

Nesse período de fim de ano, nada melhor do que fazer um levantamento do ano que se encerrou, participar daquele amigo secreto que não dá pra escapar, ouvir as clássicas piadas do tiozão do pavê e, por que não, colocar a leitura em dia. Para te ajudar nessa missão, nós da equipe do Terraço Econômico indicamos abaixo alguns dos livros que mais gostamos de ter lido em 2017.

Observação: as recomendações foram escritas pelos próprios membros e, deste modo, expressam as opiniões dos mesmos.

Arthur Solow

Agassi – Autobiografia

Uma história que todos deviam conhecer. Talvez esse seja o melhor resumo das minhas impressões dos relatos memoráveis narrados por André Agassi em sua autobiografia, que tive a oportunidade de ler após 7 anos do seu lançamento oficial. A [pública] vitoriosa do tenista americano esconde as memórias que Agassi conta nesse livro arrebatador, muito bem escrito e de fácil leitura. É difícil não se identificar com as dúvidas que ele tem, seus questionamentos, sua dificuldade de compreender a indiferença dos outros com seus próprios dilemas. Afinal, alguém um dia se preocupou de ouvir a verdadeira história do tenista multicampeão?

Um casamento fracassado, problemas com drogas, derrotas seguidas para Pete Sampras. Um novo casamento e a chegada de filhos, a montagem de uma Equipe vitoriosa, o êxito em se tornar o mais velho jogador a alcançar o número 1 do mundo. Odiar o tênis e ser incapaz de querer parar de jogar. Contradições que marcam a vida de André Agassi, como ele próprio gosta de frisar ao longo de seu livro. Um livro imperdível para quem gosta de esportes, de tênis, mas acima de tudo, de boas histórias para se inspirar.

Dirceu – A Biografia

A história e trajetória de José Dirceu é construída a partir de entrevistas e documentos coletados pelo jornalista Otávio Cabral. De líder estudantil no auge do Período Militar no final da década de 60 até a chegada ao poder com a vitória de Lula em 2002 Dirceu se transformou de um ideólogo apaixonado até um político frio e ardiloso, que facilmente sucumbiu ao poder. Em seu momento de maior poderio ideológico, chegou a combater os militares por meio de foco guerrilheiro organizado, já na década de 70 e caiu na clandestinidade quando o movimento foi desmantelado. Anos depois, com o regime militar enfraquecido, voltou ao Brasil e foi apresentado ao seu maior aliado e rival: Lula, o metalúrgico que começava a conquistar multidões.

Uma relação nada amistosa, mas que trouxe uma coisa que Dirceu perseguia enormemente nos últimos anos: chegar ao poder. E Lula trazia essa possibilidade de forma viva, em tons vermelhos. Já no governo, Dirceu faz de tudo para manter o poder decisório perto de si e de seus aliados – que vão diminuindo ao longo do tempo. Suas falcatruas e desmandos se confundem com o próprio governo Lula e culminam com o Mensalão, que, até então, era um dos maiores escândalos de corrupção que o Brasil tinha visto. Dirceu sai enfraquecido após o julgamento em 2012, e participa pouco do governo Dilma.

Daniel, Hoffmann, Carlos Henrique, Pedro Caroço. Cubano, argentino, brasileiro. Todos foram – são – José Dirceu, o homem que queria chegar ao Palácio do Planalto e não chegou a lugar algum.

Arthur Lula

Simon Singh – O último teorema de Fermat

Você sabia que um dos maiores desafios da Matemática é tão simples de entender, mas tão difícil de provar, que sobreviveu as tentativas dos maiores matemáticos de todos os tempos? Pois é, o último teorema de Fermat foi uma das conjecturas que Pierre de Fermat deixou nas margens do livro Aritmética, de Diofante, mas sem solução (embora o matemático afirme nas mesmas notas que ele teria solucionado).

O problema inicia-se com o Teorema de Pitagoras: “Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos”, ou melhor, x²+y²=z², para todo x,y e z. Se eu te disse que esta igualdade não vale para qualquer potência acima de 2 (x^n+y^n=z^n,com n>2) você consegue entender facilmente, mas a prova formal dessa frase era praticamente impossível. Eis que em 1993, Andrew Wiles – matemático e professor da Universidade de Princeton – conseguiu desvendar o problema. Antes dele vieram Leonhard Euler, Carl Friedrich Gauss, Augustin Cauchy, entre outros grandes matemáticos que morreram sem ver a solução de tal desafio.

O livro de Simon é uma grande viagem desde a origem da matemática, passando pela escola pitagórica e diversos matemáticos, até chegar em Fermat e seu problemas. Depois, nos conta a história de como o maior problema da matemática sobreviveu séculos aos maiores matemáticos até morrer nas mãos de Andrew.

Leo Monastério – Técnicas Avançadas de Sobrevivência na Universidade

Esse livro deveria ser leitura obrigatória para todo ingressante de universidade. Bom, pelo menos para os cursos de economia. O nome já é bem claro: o livro é um manual de como sobreviver a rotina da vida acadêmica, nos dando dicas de praticamente tudo no mundo universitário.

Desde como utilizar bem a biblioteca, passando por dicas de como fazer melhor as anotações para suas publicações, softwares que nos ajudam no dia-a-dia, forma de coletar dados, como fazer apresentações, como se relacionar com professores, como escrever sua tese, e etc.

Sempre com bom humor, Leo Monastério consegue ser também bem objetivo e reúne a experiência de quem já está a muitos anos da vida acadêmica.

Daniele Chiavenato

É isto um homem? – Primo Levi

Se questo è un uomo é considerado um dos mais belos livros sobre uma das páginas mais negras da história da humanidade: o Holocausto.

Primo Levi era um químico italiano que foi mandado ainda bastante novo ao campo de concentração de Auschwitz. Dos 650 judeus italianos deportados, foi um dos 20 sobreviventes. Como ele coloca ainda no prefácio, o livro é o resultado da necessidade que os prisioneiros sentiam de contar ao mundo o que se passava ali, algo que era tão latente quanto a fome ou a sede.

Trata-se de um conjunto de relatos sobre o cotidiano do campo. Sem autopiedade ou rancor, o livro foge do foco nos horrores nazistas. É uma narrativa simples, mas extremamente delicada. É também um convite à reflexão sobre diversos temas…história, filosofia e (por que não?) economia.

Sim, caso você se interesse apenas pela economia, ou talvez não tenha estômago para ler até que ponto a (des)humanidade pode chegar, pode ir direto ao capítulo “O Mercado Proibido”. Nele, Levi conta como o comércio era proibido pelos nazistas, mas como ainda assim ocorria e talvez tenha evitado ainda mais mortes.

O andar do bêbado: como o acaso determina nossas vidas – Leonard Mlodinow

Recomendaria este livro não apenas a economistas, matemáticos ou qualquer outro profissional com noções de estatística. Como Mlodinow bem coloca já no início de sua obra e demonstra magistralmente ao longo de todo o livro, o ser humano não está preparado para lidar com o acaso.

Os eventos aleatórios, apesar de determinantes em todas as esferas de nossas vidas, geralmente são mal interpretados por uma grande parcela da população e mesmo por profissionais entendidos do assunto. Com exemplos que vão desde casos clássicos de Hollywood e do mundo esportivo até aplicações no direito e no mercado financeiro, o livro aborda conceitos cruciais de probabilidade e estatística. Tudo isto de uma maneira leve, mesclando com trechos da história da matemática e instigando mesmo os já familiarizados com o tema.

Caio Augusto

Soros: a vida, os momentos e os segredos do maior investidor financeiro do mundo – Robert Slater

Nesta biografia não-autorizada de 1996, são levantados diversos aspectos da vida e atuação do ​famoso investidor George Soros. O livro trata da vida do investidor partindo desde sua origem e, a partir de sua ascensão no mundo dos investimentos (desde 1969), discorre sobre os métodos e táticas usadas por ele para ter tido substancial sucesso no mundo dos investimentos.

A obra apresenta também diversos aspectos que rodeiam o mito dos investimentos e o colocam como figura ímpar, tais como uma investigação conduzida pelo governo dos Estados Unidos para esclarecer sua enorme influência sobre os mercados financeiros do mundo e a atuação curiosa das Fundações Soros que, ao redor do mundo, promovem ações filantrópicas e de incentivo a reformas políticas em países subdesenvolvidos.

Apesar de ser um livro com mais de vinte anos de publicação, aprofunda-se em temas que ajudam a compreender como George Soros se tornou tão poderoso quando o assunto são os investimentos. É surpreendente o quanto aspectos que parecem não ser correlacionados com esse mundo tiveram influência sobre a formação deste aclamado e controverso personagem.

Narconomics: how to run a drug cartel – Tom Wainwright

A indústria das drogas é um tabu mundial e central. Qual caminho deveria ser adotado? Regularizar o uso para conter a ação do narcotráfico? Reprimir ao máximo? Qualquer que seja a opinião que o leitor tenha, é notável que este é um imenso e multibilionário negócio. Neste livro, o repórter apresenta por um retrato fiel do mundo das drogas por dentro dos cartéis mexicanos.

Não surpreende a quem assistiu as temporadas de Narcos pelo Netflix, mas o profissionalismo demonstrado pelos grandes comandantes do narcotráfico e apresentado no livro equivale ao discutir de negócios de grandes CEOs que podemos encontrar em capas de revistas. Com um diferencial considerável: o produto, combatido e reprimido em grande parte do mundo, torna-se escasso o suficiente a ponto de permitir uma margem de lucro imensa.

A obra foca em aspectos econômicos que justificam a continuidade destes imensos mercados mundo a fora e, dentre outros aspectos, mostra como aplicar conceitos econômicos a uma política pública de redução dos efeitos dos narcóticos poderia fazer muito mais sentido do que a simples e direta repressão mainstream observada.

Rachel Borges de Sá

Linhas de Falha – Como as rachaduras ocultas ainda ameaçam a economia mundial

“Se você só tiver tempo de ler com atenção um livro sobre a crise da economia global, esta obra de Raghuram Rajan é minha mais forte sugestão”. O prefácio de Pedro Malan resume perfeitamente minha opinião por essa obra deste brilhante economista indiano PhD pelo MIT, escrita antes de assumir sua posição como Presidente do Banco Central da Índia, em 2013. Um presente de um amigo querido, o livro me permitiu entender com muito mais clareza os pormenores da crise global de 2008 – tragédia que completará incríveis 10 anos no ano que vem, mas cujas características e complexidade fascinam e nos trazem lições até hoje, e cujos impactos certamente permearão o cenário econômico por muitos anos a fio.

Com a clareza permitida apenas à alguém que sentia desde o início que “algo de errado não estava certo”, o autor expõe aquilo que chama de linhas de falha que culminaram na quebra do banco Lehman Brothers. Estas incluem desde a política monetária frouxa conduzida por um FED demasiadamente otimista durante nos anos 2000, ao as vezes muito competitivo e desregulado mercado de trabalho norte-americano, à global savings glut fruto do desequilíbrio do comércio global, à personalidade de jovens ambiciosos no controle do mercado financeiro do país, à cegueira da academia e à complacência interesseira do poder executivo. E o mais importante? Rajan demonstra que muitas delas continuam ali, levemente temperadas com novos aromas, mas encobertas até a eclosão de um próximo desastre, na ausência de um esforço internacional conjunto para reparar desequilíbrios de um século caracterizado pelo excesso, pela abundância. Rajan concluiu seu livro em 2011. Esperemos que tal esforço esteja hoje fortalecido, ou que o economista esteja redondamente enganado.

A Queda dos Gigantes – o primeiro livro da trilogia “O Século”

Saindo um pouco da seara da economia, o primeiro livro da trilogia escrita pelo filósofo e escritor britânico Ken Follett é uma verdadeira obra prima de historiografia. Para apaixonados pelo século XX, política e economia, as mais de 700 páginas (em versão “pocket”) são um prato cheio para longas tardes chuvosas, manhãs ensolaradas, noites de tédio – ou seja, qualquer momento. Centrado em um núcleo familiar da aristocracia britânica, o livro descreve com impressionante riqueza de detalhes o desenrolar da primeira Guerra Mundial, onde histórias paralelas de personagens norte-americanos, russos e alemães se cruzam com passagens históricas em uma narrativa cativante e impossível de parar de ler!

Confesso que grande parte de meu 2018 será dedicado as próximas 600 e tantas páginas do livro seguinte da trilogia, “O Inverno do Mundo”. Um primo distante de um dos personagens acaba de se tornar membro do partido de um tal de “Adolf Hitler”, jovem bacana com ideias que fazem sentido para uma Alemanha destruída, onde famílias há pouco permeadas por luxo hoje se queixam da falta de um mísero bolo de aniversário. Eu sei que já sei onde isso vai dar, mas mesmo assim, mal posso esperar :).

Victor Candido

The Man Who Knew – The Life and Times of Alan Greenspan

Trata-se de um livro profundo, um dos melhores que eu já li, que esquadrinha a vida de um dos homens mais interessantes da história econômica recente. Após 18 anos como Mr. Chairman (1987-2006), a frente do FED – Federal Reserve, o todo poderoso banco central americano, Greenspan saiu no auge. Porém, dois anos depois, com a eclosão da crise armagedônica de 2008, seu legado foi posto em cheque, e um dos heróis da economia americana se tornou um de seus maiores vilões. Para seu biógrafo, este julgamento foi parcial e errado. Mallaby diz ser preciso analisar a figura de Greenspan num contexto bem mais amplo, que vai do final da Segunda Guerra até os dias de hoje.

O livro é imenso, 700 páginas, ainda sem tradução para o português, mas vale muito a pena, para os interessados em economia é uma aula. É muito importante lembrar que políticas econômicas não acontecem de forma espontânea no vácuo como fenômenos cósmicos, elas são produtos de homens que são subprodutos do tempo em que vivem, logo olhar a vida desses homens, mesmo que por janelas abertas parcialmente por seus biógrafos, é sempre um exercício de reflexão para o interessado em economia.

The Soul of a New Machine – Tracy Kidder

Esse livro foi uma grata surpresa, uma das compras seguindo o “talvez você também goste de:” da Amazon. Também não existe tradução para o português, peço desculpas por sugestões apenas em inglês, não é proselitismo.

O livro, vencedor do Pulitzer, é uma biografia de um mini-computador. Detalhe no mini, ele era enorme para os padrões atuais, maior que uma geladeira, mas era mini, ainda não o micro como denominamos hoje.

A história narrada se passa no final dos anos 70, em um andar subterrâneo de uma já extinta empresa, a Data General, a número 500 do ranking Forbes 500. Além da história da máquina em si, existem várias pequenas biografias paralelas sobre as dezenas de pessoas que juntos criaram a máquina, chamada internamente de EAGLE.

Apesar do nome que inspira agilidade, o EAGLE era uma máquina enorme, ao contrário dos computadores de hoje que possuem praticamente apenas uma placa mãe, os “minis” do passado possuíam dezenas de placas. Diferentemente de hoje, em que as empresas simplesmente compram peças de vários fabricantes e ‘embalam’, naquela época era preciso produzir suas próprias placas e softwares. Cada computador era uma genuína criação, apesar de no final das contas todos estarem tentando copiar os computadores feitos pela IBM.

O livro é uma história da manufatura, um interessante mergulho na criação de algo que não existe mais, um olhar análogo sobre como nossos avós foram criados e como isso moldou a forma que nós fomos criados, o mesmo vale para a transição dos computadores “minis” para os micros de hoje.

Talitha Speranza

The Rise and Fall of Nations – Ruchir Sharma

Você acha que pode prever quais nações florescerão e quais falharão nos próximos anos? Provavelmente não. Ruchir Sharma também não. Mas ele acredita que pode dar um “chute educado”, baseado em 10 regras que formulou ao longo de 25 anos viajando pelo mundo, estudando e conversando com economistas e políticos influentes.

De sua vasta experiência em Wall Street, Sharma herdou uma profunda desconfiança em relação a extrapolações para fazer previsões, especialmente em horizontes de tempo mais longos. Então, propõe uma heurística muito bem embasada para captar sinais de sucesso e fracasso econômico dentro de mais ou menos 5 anos.

Sharma criou estas regras a partir da decomposição do crescimento do PIB: uma parte deriva do incremento populacional e outra do aumento da produtividade. A primeira regra, portanto, é olhar para a pirâmide etária e verificar se o país está tomando providências para manter o crescimento populacional no curto e médio prazo. As outras 9 regras lidam, de uma forma ou de outra, com a questão da produtividade.

O método de Sharma parece se aplicar bem ao Brasil e a outros emergentes. Ele postula que um sinal de decadência é a permanência de um líder (ou partido) no executivo por seguidos mandatos, cujo sucesso inicial deveu-se à bonança dos anos pré-crise de 2008, o que o tornou negligente em relação às reformas estruturais que o país precisa para depender menos dos ventos externos.

Esses e outros insights fazem deste livro uma leitura extremamente instrutiva, com a vantagem de que Sharma escreve de forma agradável, sem utilizar linguagem técnica, e fornecendo exemplos abundantes.

A Little History of Philosophy – Nigel Warburton

Este livro pode parecer um passatempo despretensioso, por ser relativamente curto (240 páginas), de linguagem leve e recheado de exemplos didáticos. Mas longe disso. Depois de ler um ou dois capítulos, você sempre irá parar para refletir sobre o que leu. Nigel Warburton preenche o livro com perguntas instigantes e, apesar de em um primeiro momento parecer respondê-las com clareza, sempre deixa uma parte da tarefa com o leitor.

Warburton escreve para o leitor leigo em filosofia, mas nem por isso o livro deve deixar de fazer parte da prateleira do estudioso mais experiente. Como se propõe a contar a história da filosofia a partir das histórias dos filósofos, há um pequeno capítulo para cada pensador, de Aristóteles a Peter Singer. Em cada um, Warburton mostra o que motivou a obra do filósofo, e assim descobrimos uma série de curiosidades sobre suas vidas.

Das observações sobre a excentricidade de Kant às acerca da infância roubada de Stuart Mill por seu pai, o também filósofo James Mill, e da rivalidade entre Hegel e Schopenhauer, Warburton ilustra a vida destes pensadores como ninguém. Assim, torna a apreensão dos conceitos intrincados destes últimos 3400 anos de filosofia algo mais do que palatável: é extremamente envolvente.

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