Paulo Guedes e Sérgio Moro. O primeiro, fiador da agenda econômica liberal e o segundo, reserva moral na luta contra a corrupção. Os dois “superministros” eram as principais apostas do presidente Bolsonaro. Passados 9 meses de governo, tempo de uma gestação, ainda pode ser cedo para chamar de decepção, mas parece inegável que os dois patinam e perdem força.
Já estamos em outubro e a Nova Previdência ainda não entrou em vigor, a reforma tributária passou a ser capitaneada pelo Legislativo e o “pacote anticrime” ainda está longe de virar lei. Enquanto isso, outros setores do governo tem apresentado resultados bem mais interessantes para a sociedade. Entre eles destacam-se o Ministério da Infraestrutura, o Banco Central do Brasil e o Ministério da Agricultura e Abastecimento.
Ministério da Infraestrutura
O ministro Tarcísio Gomes de Freitas é um exemplo de indicação técnica e qualificada e que está fazendo a diferença no importante setor de infraestrutura, área fundamental para melhorar a produtividade e fomentar o desenvolvimento econômico do país. O ministro tem no seu curriculum duas funções anteriores que ajudam a explicar esses avanços: antes de assumir a infraestrutura, o engenheiro formado pelo IME havia atuado tanto na CGU (Controladoria Geral da União) quanto no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte). Ou seja, tinha conhecimento e vivência tanto do que precisava ser feito, quanto de como funciona a máquina pública.
Com isso, vem colhendo os frutos que estavam baixos na árvore do seu ministério e desatando alguns dos nós da infraestrutura no Brasil. A estratégia de terminar as obras que os governos anteriores já tinham iniciado, parece óbvia, mas sabemos que não dá para contar com bom senso dos governantes neste setor. Mudar o desenho do programa de concessões, evitando-se controlar o lucro dos investidores e deixando a livre concorrência agir também foi outra mudança simples, mas que funciona. Resumidamente, parou-se de bater a cabeça na parede nessa área e a cabeça parou de doer.
Banco Central do Brasil
Contando com uma equipe técnica excelente, número recorde de (duas!) mulheres na diretoria e nenhum transloucado que defende a volta da CPFM, o Banco Central também tem colhido frutos de um bom trabalho. Discreto, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, não é “parça” do presidente como seu colega da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães e, mesmo assim, tem cumprido de forma eficiente a sua função.
Se na gestão de política monetária, ele não chega a ter o brilhantismo do seu antecessor Ilan Goldfajn, (eleito o melhor banqueiro central do mundo de 2018 pelo grupo Financial Times), o novo presidente do BC tem apostado na inovação tecnológica e em mudanças na regulamentação do setor bancário para melhorar o ambiente de negócios do sistema financeiro nacional. Um exemplo importante de mudança estrutural que trará bons frutos no futuro é o Open Banking, tema já comentado neste mesmo Terraço.
Esse investimento em tecnologia deve ajudar, inclusive, no trabalho do novo Coaf, agora rebatizado de “unidade de inteligência financeira”. Outra área que tem trazido boas notícias é o crédito, como ressaltou o colunista da Folha de São Paulo, Vinicius Torres Freire: “O total de dinheiro emprestado (estoque de crédito) para pessoas físicas cresce ao ritmo de mais de 7% ao ano, em termos reais (já descontada a inflação). O estoque de “crédito livre” (que os bancos emprestam sem regras determinadas pelo governo), cresce mais de 8% ao ano.” Não é pouca coisa para uma economia que está projetada para crescer menos de 1% este ano, mas trata-se de fator fundamental para que esse crescimento seja mais forte nos anos seguintes.
Ministério da Agricultura e Abastecimento
O mais polêmico dos analisados até aqui é o trabalho da ministra da Agricultura e Abastecimento, Tereza Cristina. Empossada sob o apelido de “musa do veneno”, conquistado na época em que era presidente da Frente Parlamentar de Agropecuária e aprovara o projeto para facilitar o uso de agrotóxicos nas lavouras.
A ministra tem uma tarefa delicada: abrir novos mercados para os produtos agrícolas brasileiros em meio a uma política de relações exteriores e de meio ambiente que mistura guerra cultural com negacionismo científico. Não é fácil. Mesmo assim, Tereza Cristina foi escolhida como a melhor ministra do governo Bolsonaro em uma pesquisa feita pelo Congresso em Foco com líderes do Congresso Nacional, sendo bem avaliada inclusive por políticos da oposição.
Tereza Cristina é considerada equilibrada e acessível e sua área vai bem. Este ano teremos mais um recorde de safra (o IBGE estima um crescimento de 5.9% na safra deste ano em relação a 2018). Já em termos de novos compradores, além da assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Européia (que caso seja ratificado abrirá mercados importantes para os produtos brasileiros), há expectativa de ampliação de mercados especialmente na Ásia e no Oriente Médio. São medidas fundamentais para o setor que segurou a economia e impediu uma crise econômica ainda mais catastrófica nos últimos anos.
Enfim, para quem quiser ficar um pouco otimista esses são os setores para ficar de olho, já que os piores todo mundo conhece. Os mesmos líderes parlamentares que escolheram Tereza Cristina como melhor ministra colocaram entre os piores, pela ordem: Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Damares Alves (Direitos Humanos) e segurando a lanterna, surpreendendo um total de zero pessoas, Abraham Weintraub (Educação).