O silêncio dos perdedores

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O ano era 2019. Para além de um movimento considerável de queda da Selic – começou 2019 em 6,5% e terminou o ano em 4,5% -, o que vimos foi uma vultosa valorização do Ibovespa: 31,58% em apenas um ano, batendo o martelo final aos 115 mil pontos. Definitivamente a escolha entre 4,5% e 31,58% é fácil: todos os caminhos levavam à bolsa.

Tudo parecia um mar de rosas. Literalmente você deve conhecer alguém que, se não o fez, ao menos falou que se aposentaria de seu emprego para passar o dia olhando as cotações da bolsa. Não à toa, o número de investidores pessoa física da Bolsa saltou para 3 milhões em 2020. Em 2018, eram menos de 800 mil CPFs na bolsa.

Foi aí que um daqueles acontecimentos que ninguém espera – mas que acontecem de tempos em tempos – aconteceu. O coronavírus, que já vinha mostrando seus efeitos na Ásia e na Europa, desembarcou por aqui. Os mercados que já estavam assustados em um ritmo cada vez maior desde fevereiro entraram em pânico. Resultado? Queda de 29,90% em um mês, o temido março de 2020.

Sim, observamos um movimento de recuperação desde que o fundo do poço foi alcançado. Ainda assim, sabe quanto tivemos de rendimento para o Ibovespa no acumulado deste ano até agosto? -14,07%. Pois é: mesmo a surrada Selic, em atuais 2% ao ano, está dando uma surra naquele índice que “matou a renda fixa” em 2019.

É claro que o índice representa o agregado de todas as ações e sim, tivemos recuperação em algumas delas. Mas temos nesses dados até então apresentados uma possibilidade imensa: o pessoal dos trades vencedores de 2019 estão em um cemitério conhecido do mercado agora – o dos perdedores. Ou você acredita que na mesma velocidade em que te contam “bater o mercado” te dizem que o dinheiro simplesmente sumiu?

“Tá, mas eu ainda acho a Selic baixa… E agora?”

Fique tranquilo, leitor. Não iremos sugerir a você que abandone toda a renda variável em prol de aportes sem medo na Selic. Mas, levando em conta que você já tem uma reserva de emergência e está procurando alternativas para investir seu dinheiro, de fato é hora de pensar em alternativas melhores.

Com esse cenário nunca antes visto por aqui de redução de taxa de juros, o brasileiro médio está se deparando com uma realidade que já existe nos mercados mais desenvolvidos: não há retorno que não envolva ao menos um pouco mais de risco. Mais diretamente: aquele “1% ao mês no seu bolso sem esforço” que se tinha com uma Selic consistentemente em dois dígitos parece que foi embora pra nunca mais voltar.

Com esse escoamento de dinheiro veremos diversos mercados tirarem ideias do papel e colocá-las em realidade. E é nesse momento que muitas oportunidades ficam disponíveis.

Já falamos aqui nesta coluna sobre algumas delas: o setor imobiliário, o investimento em startups através do equity crowdfunding e até mesmo a busca de retornos por meio de royalties musicais. Esses são os chamados ativos da economia real e, para além dos mercados financeiros e da dívida pública, verão ainda uma quantidade imensa de dinheiro escoando para eles.

Quanto? Bem, não custa lembrar que a alocação mais tradicional do Brasil, a Poupança, tem um estoque atual de recursos (considerando o mês de agosto/2020) de R$986,78 bilhões. Não é razoável supor que todos esses recursos sairão dali, até porque mais de 80% dos brasileiros preferem essa alocação, mas pense o que aconteceria com talvez um quarto desses recursos indo a outros mercados.

Ativos reais x Ativos financeiros

Não é nossa intenção aqui rivalizar os dois tipos, mas colocar na mesa a diferença entre eles. Ativos financeiros são aqueles cujo controle não está necessariamente nas mãos do investidor, tendo certo distanciamento entre o dinheiro que entra e aquele que volta após investido. Já os ativos reais são aqueles que, ligados diretamente a economia real, trazem uma correlação direta aos movimentos dessa.

Qual é o melhor? Na dúvida, esteja em ambos. Mas saiba que, ainda que em espaços curtos de tempo os investimentos financeiros possam entregar resultados fabulosos, em casos de correções – esperadas ou fora da curva – o susto pode ser razoável. Isso geralmente não pode ser dito dos ativos reais que, estando ligados a economia real, podem sim passar por correções, mas seguirão ali fornecendo certa segurança – e, claro, rentabilidade acima do juro básico da economia (SELIC).

Um exemplo bastante direto: durante uma forte oscilação de cenários, estar em um Fundo de Investimento Imobiliário pode te render um susto porque um grande locador decide sair e o fundo desaba; caso a ideia seja deter imóveis diretamente, ainda que com o trabalho adicional que isso geraria, diante de uma grande correção basta você segurar o ativo e seguirá o tendo, podendo auferir ganhos maiores. 

Ou, de outro modo: um fundo imobiliário pode vir a quebrar, seus imóveis, bem, só se intempéries da natureza ou outros eventos fora da curva literalmente os destruírem.

É claro que acima demos apenas um exemplo. Mas é válido parar pra pensar na diferença entre ativos reais – que estão de alguma forma “sempre presentes” – e ativos financeiros – podem oferecer uma volatilidade que nem todo investidor está preparado para lidar. 

É hora de arriscar! Com cuidado, é claro

De novo, a triste notícia: no atual cenário não existe mais o já conhecido “1% no bolso sem esforço” de outros tempos, então se você quiser buscar algum retorno que seja próximo a isso, terá de colocar seu dinheiro em algum local com mais risco. Mas temos aqui a boa notícia: alternativas para isso não faltam hoje, sobretudo no mundo dos ativos reais.

Aliás, nossos parceiros da Hurst Capital fizeram um vídeo para que você reflita sobre a diferença entre os dois tipos de ativos.

Vale a pena estudar o que é melhor de ser feito com seu dinheiro agora que a Selic não é mais aquelas coisas. O que não vale é ignorar todas as possibilidades de fazer mais com seu dinheiro que existem agora! 

Ah, e claro: cuidado com aquelas histórias de enriquecimento rápido e trades sempre vencedores. Os perdedores, escanteados pelo mercado que quer mostrar apenas o lado do glamour e riqueza, estão sempre ali: quietos, mas estão lá. Nunca se esqueça disso.

 

 

 

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.
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