Os brasilianistas são um grupo de verdadeiros heróis, provenientes em sua grande maioria dos EUA e que desembarcaram no Brasil com algumas antíteses. Em geral, eles desempenharam um papel importante no enfrentamento de vários “vilões tupiniquins”: o atraso científico e a repressão do governo militar. Forçando um pouco a barra nas comparações, o grupo descrito acima até poderia ser ligeiramente confundido com o grupo dos Vingadores, mas não é o caso!
Esse grupo de heróis — de carne e osso — chegou ao Brasil principalmente a partir das décadas de 1960 e 1970 e atende pela denominação brasilianistas. Logo de cara, encontraram um ambiente instável onde se acirrava a disputa estratégica entre os EUA e União Soviética.
Em relação ao termo “brasilianistas”, não existe muito consenso. O que seria exatamente um brasilianista? Para alguns, o brasilianista é um estrangeiro que se especializou em assuntos brasileiros. Enquanto outros acreditam que o termo pode ser ampliado, podendo ser utilizado para qualquer indivíduo — brasileiro inclusive — bastando apenas estudar o mundo de uma perspectiva brasileira.
O grupo dos brasilianistas contou com nomes de enorme destaque, pesquisadores como: Albert Fishlow, Werner Baer, Robert Levine, Ralph Della Cava, Joseph Love, Warren Dean, Riordan Roett, Stuart Schwartz, Kenneth Maxwell e Thomas Skidmore.
Albert Fishlow, por exemplo, investigou o desenvolvimento econômico no Brasil e na América Latina, estando ainda hoje presente no debate econômico brasileiro. Werner Baer foi outro grande economista a realizar uma profunda análise acerca da economia brasileira, além de ter colaborado com a criação e a consolidação dos principais centros de pós-graduação em economia do Brasil e da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC). Thomas Skidmore, outro brasilianista, foi um dos principais historiadores a se debruçar sobre a história brasileira, tendo descrito de maneira profunda — e de forma imparcial — quase todo o século XX brasileiro. Seu trabalho abrange o Governo Vargas vai até ao término do Regime Militar. Os demais autores citados também foram responsáveis por importantes trabalhos em que o cerne era o Brasil.
O trabalho dos brasilianistas, apesar de ter sido aparentemente esquecido, foi absolutamente crucial para o desenvolvimento e pela inserção, mesmo que ainda modesta, do Brasil no cenário científico internacional. Sem os brasilianistas, provavelmente, não haveria, ou demoraria décadas a mais, para a fundação de centros de pós-graduação com reconhecida excelência como: USP, UnB, UFMG, UFRGS, UFPE, UFCE, UFPA e UFBA, principalmente em ciências sociais.
Apesar disso, como já foi citado, o contexto em que se deu a chegada do grupo foi extremamente instável, o que incitou para uma série de suspeitas sobre as reais intenções dos brasilianistas. A chegada desses pesquisadores no Brasil teve um forte motivo estratégico, sendo uma forma dos EUA aumentar os seus conhecimentos e a sua influência sobre a América Latina.
Os brasilianistas foram batizados de Filhos de Havana, dado que a decisão de enviar esses pesquisadores se deu muito em razão da Revolução Cubana de 1959. Esse evento ligou o alerta vermelho para o governo norte-americano sobre um perigo iminente do domínio soviético sobre a América Latina. Além da motivação considerada por muitos como pouco nobre e até mesmo suspeita e perigosa da vinda dos brasilianistas para o Brasil, houve também uma certa rixa acadêmica que surgiu em alguns acadêmicos brasileiros em relação a esse grupo. Supostamente, pesquisadores estrangeiros tinham maior liberdade, além de informações privilegiadas, algo que despertou certo desconforto e descontentamento.
Apesar das polêmicas — e de possíveis rixas — a importância dos brasilianistas para a ciência brasileira é imensa. Devido a isso, esse grupo de heróis (mesmo que vistos com desconfiança por alguns) nunca deveria ser esquecido, dado que sem os brasilianistas a ciência econômica brasileira ainda estaria mergulhada em anos e anos de atraso.
Artigo escrito em colaboração com Bernardo Gomides, aspirante a economista pela Universidade Federal de Viçosa e empreiteiro do futebol junto ao Chicago Fire na MLS.
Excelente texto Lucas, no entanto não enxergo os brazilianistas como “espiões” norte-americanos, uma vez que os que logo após a instituição do AI5 em 1968, a universidade de Benkeley desfez o acordo com IPEA (então EPEA), vide a insatisfação com as medidas autoritárias do governo.