Os efeitos da greve dos caminhoneiros na indústria brasileira

O mês de maio não deixou saudade, sobretudo por conta da greve dos caminhoneiros. A atividade econômica brasileira, que já não estava num ritmo ideal para a recuperação das perdas da crise passada, sofreu um duro golpe naquele período.

Praticamente todos os setores da economia e todos os consumidores foram afetados, e seus efeitos ainda se fazem presentes. Uma primeira leitura de impacto setorial está disponível na Pesquisa Mensal da Indústria (PIM) do IBGE, que mensura o desempenho mensal da produção desse setor.

De acordo com o IBGE, a produção industrial brasileira recuou incríveis 10,9% nesse mês de maio, na série ajustada sazonalmente. O resultado é impressionante, pois é o pior tombo desde dezembro de 2008 (-11,2%) quando o setor sentiu o primeiro pontapé da crise financeira internacional. O normal do setor é apresentar crescimento em torno de 1% ou 2% e quedas no máximo dessa mesma magnitude.

Com esse resultado, como se pode ver no gráfico abaixo, o patamar de produção retornou a nível próximo ao de dezembro de 2003, ficando, dessa forma, 23,8% abaixo do ponto recorde alcançado em maio de 2011. É claro que teremos uma boa recuperação no mês seguinte, mas certamente não teremos recomposição de toda essa perda.

A notícia “boa” é que a queda foi abaixo do que o esperado. Utilizando algumas variáveis antecedentes que já conhecíamos, como fluxo de caminhões em estradas pedagiadas, expedição de papelão, índice de confiança setorial, produção de veículos automotores, nível de utilização da capacidade ociosa, nós (e o mercado) estimávamos uma queda que girava em torno de 14%!

Cabe destacar que o mês de maio não é o mais forte para o setor, mas desde o ano passado o nível de produção mensal estava superando aquele verificado em igual mês do ano anterior, o que claramente não se verifica nessa leitura.

Se olharmos como uma lupa onde foi o maior estrago dentro da indústria, é notável a queda na produção de bens de capital (-18,3%) em maio, o que terá impacto direto no nível de investimento da economia no segundo trimestre. Além disso, é impressionante a queda na produção de bens de consumo duráveis, com uma brutal queda na produção de carros. Em outras palavras, o país perdeu ¼ da sua produção mensal de veículos e esse tipo de prejuízo não deve ser recuperado.

Se olharmos por atividade da indústria, fica ainda mais claro o nível do impacto. Destaque para atividades de primeira necessidade, como produção de bebidas, alimentos e vestuário, que exibiram quedas de mais de 15% em sua produção, além da queda de mais de 10% na produção de itens farmacêuticos.

Por fim, cabe destacar que o resultado de maio compromete a recuperação setorial, muito por conta do choque negativo sobre a confiança dos empresários do setor e o aumento da incerteza. Dessa forma, se a produção do setor voltar para o nível de abril, ou seja, recuperar todas as perdas de maio, ainda assim teríamos uma queda de mais de 2,5% na produção setorial no segundo trimestre deste ano, o que gera um forte efeito negativo para o PIB.

Ainda estamos aguardando os dados do comércio e dos demais serviços para maio, que o IBGE deve soltar no meio do mês para ter uma visão mais abrangente do impacto da greve na economia como um todo.

Arthur Lula Mota

Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP/ESALQ) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal de São Paulo. Já trabalhou no mercado financeiro, auxiliando mesa de operações de fundos institucionais e departamento econômico com análises macroeconômicas.
Yogh - Especialistas em WordPress