Populismo cada vez mais maduro

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“To the left. To the left. To the left, to the left!”

– Beyoncé Giselle Knowles Carter

Após casos e casos de políticas populistas [1] que dão com os burros n’água, fica difícil entender por que os eleitores ainda escolhem políticos que vão levar a economia ao abismo. Seriam os eleitores e seus governantes populistas malucos, ou o movimento à esquerda populista é algo previsível e racional?

Um estudo publicado em 2013 pelos economistas Daren Acemoglu, Georgy Egrov e Konstantin Sonin mostra que o viés populista à esquerda é característico de países com alguns traços institucionais em comum: um alto grau de desigualdade de renda, instituições políticas fracas e uma pitada de possibilidade de estelionato eleitoral (political betrayal no original dos autores).

A desigualdade de renda contribui para que elites econômicas tenham poder político desproporcionalmente alto. O lobby desse grupo para cooptar políticos leva a um efeito colateral: como políticos precisam de muitos votos para se eleger e a elite econômica não garante tal quantidade de votos, políticos precisam se voltar aos grupos maiores de eleitores. Para convencê-los de que o candidato irá cuidar de seus interesses, a proposição e adoção de políticas populistas é uma saída. E a retórica é aquela mesma de sempre: “Vou defender os pobres contra a elite”, “Vou combater o imperialismo yankee”, “Nunca tive rabo preso com esses coronéis”…

Assim, um político que consiga efetivamente se desvencilhar (pelo menos fazer com que o eleitorado acredite que ele o fez) da imagem de “ligado à elite” e convencer o eleitorado que defenderá o cidadão comum da elite político-econômica, conseguirá obter votos suficientes para se eleger e, principalmente, reeleger.

Mas se sabemos que políticos se comportarão dessa forma, por que ainda temos o viés populista? Bem, algumas explicações são propostas e aqui elencamos as mais interessantes: (i) quanto maior o valor de permanência no cargo, maior será o viés populista – a reeleição é uma possível explicação; (ii) quando os políticos são tidos como desonestos, maior será o viés populista, já que quem sinalizar bem que não faz parte da laia corrupta, será eleito e; (iii) quanto maior a desinformação entre as políticas efetivamente adotadas e o que chega ao eleitor, mais proeminente será o viés populista.

Um ponto que chama a atenção na análise teórica é que, para políticos honestos, a simples tentativa de sinalizar que não faz parte da elite político-econômica do país já os fazem escolher programas populistas. Já os políticos corruptos tenderão a escolher e implementar políticas à esquerda do que o seu eleitorado geralmente prefere, mas não necessariamente populistas na definição dos autores.

Entretanto, caso os políticos tenham um alto benefício ao se manterem nos cargos públicos, a escolha de políticas populistas será feita inclusive por políticos corruptos conectados com a elite econômica do país!!!! Exatamente isso que você leu: um político de “direita”, ligado a grupos de interesse da elite político-econômica poderá escolher políticas populistas tão ou mais à “esquerda” que os políticos que tendem a agradar os que defendem o social. Ficou confuso para o eleitor identificar quem é de esquerda e quem é de direita, né?

E quanto maior o benefício de se manter no cargo, quanto menor a chance de ser pego e/ou punido em atos de corrupção, mais populistas serão as políticas escolhidas pelos políticos ligados a lobbies. Ou seja, se você observar que seu país possui as características descritas pelos autores, não acredite muito nas políticas adotadas pelo seu candidato eleito, ele pode ter rabo preso com os mesmos grupos de interesse de outrora, mesmo que ele te diga que está protegendo o cidadão comum.

Uma conclusão óbvia para reduzir o viés populista e, consequentemente, evitar a rota econômica rumo ao abismo é a proposta de proibição da reeleição. Soa óbvio, efetivo e tentador. Mas não nos esqueçamos das características de tais países, principalmente a de fracas instituições políticas. Ou você não lembra que de duas décadas para cá tivemos mudanças constitucionais para permitir a reeleição na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela…

 

Notas:

[1] A definição usada para políticas populistas ao longo do artigo segue aquela descrita pelos autores do paper: políticas apoiadas por uma parcela significativa da população, mas que acaba por causar danos ao interesse econômico da maioria da população. Além disso, políticas populistas estão à esquerda da preferência do eleitor mediano.

Leonardo Palhuca

Doutorando em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg. Interessado em macroeconomia - política monetária e política fiscal - e no buraco negro das instituições. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2018.

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