Diversos acadêmicos já se dispuseram a enfrentar a pergunta que intitula este artigo e não há, até o momento, uma única explicação para ela. A taxa de juros é o preço da economia que liga o presente e o futuro. Quanto maior a taxa, menor o valor do que se está no futuro, ao passo que quando os juros caem, atribuímos mais valor ao “amanhã”. Dada essa relação, podemos inferir que os juros são altos no Brasil porque as pessoas têm pressa.
As famílias ao pouparem pouco (e, portanto, gastarem um percentual elevado de suas rendas) tornam o capital um recurso muito escasso no país, essencial para a dinâmica de transição do status de emergente para, quem sabe um dia, desenvolvido. Se há pressa, o “convencimento” vem através das altas taxas, que geram o incentivo para deixar de gastar hoje para desfrutar um dispêndio maior amanhã.
Não são apenas as famílias que demonstram essa pressa, mas também os governos. A dinâmica política faz com que a cada quatro anos as urnas proporcionem vereditos imprescindíveis para a sobrevivência de partidos e profissionais da área política, o que faz com que exista um incentivo a soluções com efeitos benéficos já no curto prazo. Gasta-se muito, hipotecando o futuro. Na disputa pelos poucos recursos disponíveis, o aumento dos gastos tende a empurrar os juros para cima. Sem falar das possíveis mudanças das regras do jogo, cuja insegurança jurídica também é precifica nas taxas de juros.
Os investidores internacionais também contribuem com a sua parcela de pressa. Ao alocarem seus recursos no país ficam sempre ansiosos por retornos rápidos e retiradas ainda mais ligeiras, afinal, o nosso histórico os deixa um pouco intolerantes no que tange o nosso endividamento. Sem falar no fato de que quanto mais dependemos do capital externo (dada a baixa poupança tanto do setor privado, quanto do setor público), maior a remuneração para cobrir o risco cambial enfrentado pelos nossos financiadores.
Os pontos acima tocam em fatores que influenciam, especialmente, a taxa básica da economia, a Selic, controlado pelo Banco Central do Brasil, mas os juros do crédito são ainda maiores. Por quê? Em parte pela dinâmica (pouco) competitiva do mercado brasileiro. Há espaço para estimular a competição e melhorar o resultado para a sociedade. A alta inadimplência também tem a sua parcela de culpa, assim como o arcabouço jurídico acerca dos colaterais do crédito (esforços para melhorar as leis que interferem na dinâmica das garantias contribuem para queda dos juros, por exemplo). A tributação também deixa a sua marca. Mas o crédito é caro para todo mundo? Não e aí está uma parcela importante do problema.
Para usar a excelente expressão do economista Marcos Lisboa, vivemos na sociedade da meia entrada. Todo mundo quer a sua meia entrada e no mercado de crédito isso não é diferente. O crédito direcionado compõe por volta de metade dos empréstimos (no estoque, embora a sua participação no fluxo seja bem mais baixa). Não há nada errado em subsidiar projetos com as chamadas externalidades positivas, que geram ganhos para a sociedade além dos benefícios privados. Mas essa discussão deve estar no Congresso, no orçamento. Quando metade das pessoas paga pouco, a outra metade acaba pagando muito, como é o caso daqueles que não possuem acesso às taxas subsidiadas.
Ao combatermos o subsídio em excesso, poderemos diminuir as taxas de juros estruturalmente e para todos. Estamos no caminho.
João Ricardo Costa Filho – Professor do Mestrado Profissional em Economia da EESP/FGV e da Faculdade de Economia da FAAP
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