Em 2001 o economista britânico Jim O´Neill do banco Goldman Sachs fez uma previsão arriscada. De acordo com ele, no ano de 2050, os países que teriam o maior poder político e econômico não seriam mais do G-7 e sim os BRICs, países com enorme densidade populacional,urbanizados e exportadores de matérias-primas. A partir de então surgiu o acrônimo que envolve: Brasil,Rússia,Índia e China. De fato, ao longo desse período tais países tem alcançado enormes avanços econômicos; entretanto nos últimos anos sofreram uma desaceleração. Através da análise de algumas variáveis macroeconômicas, procurarei elucidar o que de fato ocorreu que contribuiu para essa desaceleração, e tentar demonstrar como a conjuntura econômica do bloco é afetada pela interdependência econômica entre os países.
Rússia
Com uma população de aproximadamente 150 milhões de pessoas, e um vasto território, a Rússia tem passado por alguns problemas políticos e econômicos nos últimos anos, que tem contribuído para um ambiente político mais instável e de possível recessão. A recente crise com a Ucrânia fez com que houvesse inúmeras imposições de sanções por parte dos ocidentais ao país. A forte desvalorização do preço do petróleo (responsável por cerca de 2/3 das exportações russas) tem colocado em queda o preço do rublo (chegou a cair cerca de 50% ano passado). Analisando outras variáveis vemos que a inflação russa disparou e já atinge os patamares de quase 17%, enquanto isso o governo teve que aumentar de uma vez só em 6% a taxa básica de juros a fim de controlar a inflação e conter a desvalorização da moeda.
O país está pagando um alto preço pela falta de diversificação de sua economia, que ainda insiste em depender basicamente da exportação de petróleo e gás, sujeitando-se as flutuações de mercado. Em relação à demografia, a Rússia parece ter um ambiente desfavorável. O país sofre com uma alta taxa de mortalidade, relacionado principalmente a problemas de alcoolismo, que aparentemente está enraizado na cultura do país. Isso tem feito com que sua população tenha se reduzido significativamente ao longo dos últimos anos. Com isso, Putin tem investido parte significativa do orçamento russo a fim de solucionar esse problema, e propôs uma série de subsídios para aumentar a taxa de natalidade no país, que é baixa.
Brasil
Nosso país está passando por certas dificuldades, que a meu ver têm origens estruturais e conjunturais. O PIB brasileiro nos últimos três anos praticamente não cresceu, no último ano o país estagnou e possivelmente teremos uma recessão em 2015. O ambiente macroeconômico é extremamente instável, com uma inflação que já ultrapassou os limites da meta (7,77%) o país assiste a uma série de altas nos juros, e forte desvalorização da moeda frente ao dólar. Assim como a Rússia, o Brasil paga o preço pela falta de diversificação da economia, por depender excessivamente da exportação das commodities, que nos últimos anos sofreram enorme desvalorização. Com isso a balança comercial tem registrado déficits comerciais. Dados apontam que desde julho do ano passado para o começo do ano, o valor das exportações brasileiras caiu em cerca de 50%. É verdade que esse fato em si, não é culpa apenas do Brasil, a conjuntura econômica têm certa parcela de culpa também.
A crise na Argentina, maior parceira comercial do pais na America Latina têm afetado nossa balança comercial. Entre 2011 e 2014 as exportações do Brasil para a argentina tiveram uma queda de 38%, por razões da queda dos preços das commodities. Com a China não tem sido diferente, entre 2013 e 2014 as exportações para os chineses sofreram uma queda bruta de 11,8%. Outro grande problema do país refere-se a produtividade; entre 2010 e 2014 a produtividade do trabalhador brasileiro simplesmente estagnou, com isso observa-se os aumentos do custos de produção e o conseguinte aumento dos preços dos produtos. O país tem sofrido as consequências de um enorme escândalo de corrupção da gigante Petrobras, que têm afetado diversos segmentos da economia mas principalmente as micro e pequenas empresas que trabalhavam diretas ou indiretamente para a petrolífera. O escândalo afetou diretamente a credibilidade da companhia e sua nota de risco pelas agências classificadoras foi reduzida.
Falta de infraestrutura básica que pudesse facilitar um ambiente empreendedor, níveis lamentáveis da educação e segurança pública e uma excessiva burocracia estatal são outros problemas que impedem a alavancada do crescimento. Outros problemas referem-se à baixa abertura econômica do país, que acaba por gerar uma indústria nacional defasada, o excessivo protecionismo e o baixo investimento do setor privado. Soma-se isso a péssima qualidade da administração pública que fica em uma linha tênue entre a corrupção e a ineficiência, com um excesso de intervenção do estado na economia, e que tem causado apenas maior desconforto para população
China
Com a maior população do mundo, o país tornou-se rapidamente a segunda maior economia mundial, com taxas de crescimento acima dos 10%. A China é um fenômeno. Em 2010, o país crescia cerca de 12% ao ano, mas após isso seu ritmo de crescimento começou a diminuir a ‘’míseros’’ 7% e 8%. De acordo com estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV, um dos motivos da desaceleração chinesa é o fato de que grande parte desse crescimento resultou do intenso processo de transferências dos trabalhadores das atividades menos produtivas como agricultura, para atividades mais produtivas como a indústria. Outro fator seria o inicio da redução do estoque de trabalhadores das áreas rurais, que fariam com que os salários tivessem forte aumento real, elevando o preço do produto chinês e diminuindo a competitividade em bens intensivos em mão de obra. De acordo com o estudo, destaca-se que a China pode estar começando a atingir seu ponto de inflexão no que se refere aos ganhos de produtividade.
Outro fator que corrobora com a tese da desaceleração chinesa é o fato de que o menor crescimento econômico mundial reduz os espaços para os aumentos das exportações chinesas. Por outro lado ainda temos que a demografia chinesa está passando por mudanças que aumentarão fortemente a população acima dos 64 anos e com uma redução significativa de sua população economicamente ativa.
Índia
O segundo país mais populoso do mundo também não está passando pelos seus melhores dias. Em 2010 com um crescimento aproximado de 10% ao ano, teve uma redução na taxa do crescimento do PIB nos últimos anos até chegar em 2014 com um crescimento de ‘’apenas’’6%.
A começar pela imensa falta de infraestrutura no país. Dentre os BRICs, a Índia é o país que menos atrai investimento estrangeiro, algo que se deve em partes a sua enorme burocracia. Essa falta de investimento estrangeiro causa uma baixíssima produtividade no varejo do país e um alto índice de desperdício agrícola visto que a agricultura não é tão modernizada por lá. Os políticos do país possuem uma posição rígida quanto a entrada de empresas estrangeiras, que poderiam vir a contribuir com a melhora da economia indiana, mas o protecionismo é extremamente forte no país. No que se refere à educação, a Índia possuem a menor taxa de alfabetização dos BRICs, com uma alta taxa de evasão escolar, com isso o país acaba por enfrentar problemas em todos os níveis da escala educacional. A baixa abertura ao comércio internacional é outro problema de longa data.
O modelo de crescimento está em processo de revisão
Após analisar o que tem feito com que os BRICs desacelerassem nos últimos anos é preciso compreender o fato de que essa desaceleração não implica que eles irão perder espaço na economia nos próximos anos, mas implica em aceitar o fato de que em alguns casos é necessário rever a forma como os países estão sendo administrados de tal forma a evitar choques externos, caso contrário o caminho para 2050 será muito mais longo e difícil do que O´Neil previu.
Gustavo Tasso
estudante da FEA – USP
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