Quando o longo prazo keynesiano chega e não estamos mortos

O economista mais influente do século XX dizia para não nos preocuparmos muito com o longo prazo pois quando ele chegasse, estaríamos todos mortos. Keynes tinha em mente que a diminuição do desemprego (lê-se saída da crise) viria com o investimento do governo em obras pública, uma teoria perfeita para os esbanjadores estatais. O problema é que esse período chegou.

Apesar da intenção de Keynes com essa frase seja defender estritamente os estímulos fiscais, ela é bem oportuna para fazer comparação com as estruturas monetárias e institucionais do país. A ideia aqui defendida pode ser entendida como anti-keynesiana nesse sentido.

Há algumas semanas, tem sido normal o noticiário nacional mostrar o espanto dos consumidores diante os preços dos alimentos tido como essenciais para o brasileiro como arroz, feijão, carne, óleo, etc. A explicação imaginada pela população em geral é uma só: inflação. Até certo ponto, ela está correta no seu raciocínio. Apesar do IPCA acumulado estar 2,31%, ou seja, no intervalo previsto, o IPCA decomposto mostra que o alimentação e bebidas teve um aumento de 4,10%.

Outro ponto importante é o aumento substancial do papel-moeda em poder do público e saldos em conta corrente (o famoso M1 para os economistas). Não só o Banco Central do Brasil adotou essa política monetária expansionista, mas sim a maioria dos países. Esse aumento visa combater os efeitos recessivos da Covid-19. O gráfico abaixo mostra essa expansão até a metade desse ano.

O auxílio emergencial também contribuiu para essa expansão desmedida. Já na segunda parcela, houve uma demanda para que o Banco Central colocasse em circulação mais papel-moeda. Fora do lado monetário da economia, há uma mudança na rotina das pessoas devido ao coronavírus.

Se as pessoas são obrigadas a fazer o confinamento, existe uma mudança no hábito de consumo. Para economizar dinheiro, muitos preferirão fazer sua comida ao invés de usar serviços de entrega rápida, ou comer fora de casa. Aumento da demanda com uma oferta constante afeta o equilíbrio do mercado, fazendo com que haja uma elevação no preço (that’s all folks).

O que não existe na mídia convencional é uma tentativa de explicação mais abrangente da realidade econômica. Muitas vezes por motivos ideológicos, as massas são afastadas de uma explicação mais abrangente do fenômeno. É o que aconteceu com o episódio do aumento substancial no preço da carne no fim do ano passado.

A explicação daquele episódio guarda semelhanças com este. A começar pelo papel relevante do mercado chinês no nosso mercado doméstico. Com as constantes subidas do dólar frente ao real, fica mais lucrativo o empresário vender para fora do que abastecer o mercado interno. Quanto mais exportação de alimentos, menor será a oferta no mercado doméstico. Outro fator importante são as fortes chuvas que castigam a China, fazendo com que várias áreas cultiváveis, fiquem inundadas.

Não é só no Brasil que o preço de itens da cesta básica está alto. O arroz, por exemplo, está custando caro em todo lugar. O preço da tonelada deste produto, em dólar, está na sua máxima histórica (vide gráfico abaixo). Para conter o avanço, o governo federal já sinaliza zerar o imposto de importação para alguns produtos da cesta básica. O primeiro será o arroz.

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou uma nota em que alega que o setor vem sofrendo “forte pressão” pelo aumento de preços de itens de cesta básica. Essa pressão, segundo os autores da nota, advém do aumento das exportações, diminuição das importações (fruto do dólar alto) e o crescimento da demanda interna por produtos da cesta básica, devido ao auxílio emergencial. A íntegra da nota pode ser encontrado neste sítio.

As reformas são necessárias para que haja uma mudança estrutural no Brasil. Devido a esta conjuntura, ficamos anestesiados com os problemas maiores da nossa economia. País endividado gasta mais com juros da dívida e inviabiliza investimentos estrangeiros em setores produtivos da economia, por exemplo. Enquanto não houver uma reforma administrativa, um aceleramento nas privatização e um enxugamento nos gasto públicos, o Brasil não conseguirá um crescimento sustentável a longo prazo, e pedir patriotismo ao empresário, não resolve o problema.

Maxwell Marcos

Estudante de graduação do curso de Economia pela Universidade de Taubaté. Apreciador das obras de Nelson Rodrigues e Theodore Dalrymple, acredita que o papel de uma Universidade é criar uma elite intelectual que discuta os problemas do país ou se possível da humanidade.

 

 

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