Saúde, responsabilidade individual ou do Estado?

No mês de novembro, as autoridades do governo de Cuba anunciaram que 8 mil profissionais que atuam no Brasil, através do programa “Mais Médicos”, deixarão o país até o final do ano. O comunicado veio após o presidente eleito, Jair Bolsonaro, questionar e condicionar a presença dos profissionais no Brasil. É estimado que a saída dos médicos cubanos acabe afetando cerca de 28 milhões de pessoas.

Entre os 1575 municípios que possuem somente médicos cubanos do programa, 80% possuem menos de 20 mil habitantes. Dessa forma, a saída desses médicos sem a garantia de outros profissionais pode gerar desassistência básica de saúde a mais de 28 milhões de pessoas, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

O ocorrido evidencia, mais uma vez, a fragilidade do setor de saúde no Brasil e levanta várias questões. Entre elas pode-se citar: devemos depender apenas do estado para cuidar de nossa saúde? O Estado deve alocar recursos em outras áreas que podem, indiretamente, afetar a saúde dos indivíduos? Ou o investimento deve ser restrito a infraestrutura de hospitais e postos de saúde, além da capacitação de profissionais?

De fato, não se deve questionar que boa infraestrutura e bons profissionais são essenciais para um bom atendimento e para obtenção de bons resultados na saúde, mas é importante notar que nem sempre gastos mais elevados nesse setor significam melhores cuidados de saúde. Mas por que isso ocorre?

O nível de saúde das pessoas depende até certo ponto, de escolhas realizadas por elas próprias. Rendimento, escolaridade, local de moradia (área urbana/rural), urbanização, higiene, prática de exercício físicos, e saneamento básico, são variáveis que podem influenciar a saúde, por exemplo.

Diante disso, diversos estudos na área de economia da saúde, tentam quantificar e analisar como essas variáveis influenciam na saúde individual. Para a população do estado de Santa Catarina, por exemplo, apenas o fato de a pessoa possuir computador em seu domicílio aumenta a probabilidade de o indivíduo ser saudável em 9,27%. Já fumar, diminui essa probabilidade em 6,31%. Ainda, possuir sistema de esgoto ou coleta de lixo, aumentam as probabilidades de boa saúde em 3,64% e 12,9%, respectivamente. Um ano a mais de escolaridade, também eleva a chance de o indivíduo ser saudável em 19,4%.

Os estudos na área da economia da saúde, deixam claro que nossa saúde é formada por dois componentes: o componente da escolha individual e componente público. Quanto mais cuidarmos da saúde individual, menores serão as chances de dependermos da saúde pública. Analogamente, os gastos com saúde em infraestrutura de postos de saúde e de hospitais podem nem sempre serem os mais eficientes. Investir em outros setores, como saneamento básico, educação e em prevenção através das mídias podem, indiretamente, beneficiar e trazer mais qualidade de vida na saúde da população.

Apesar de ser extremamente importante resolver as questões estruturais do setor de saúde, o Estado também deve se preocupar com investimentos em prevenção e em outros setores que afetam a saúde de maneira indireta. Indivíduos mais saudáveis necessitam menos de serviços de saúde, e os custos de prevenir são bem menores que os de tratar.                                                                 

Além disso, já que possuímos liberdade de escolha, que tal escolhermos atitudes mais saudáveis para o nosso dia-a-dia? Se ficarmos esperando apenas pela ação do Estado, iremos ter que criar um programa que ao invés de trazer médicos para o Brasil, exporta pacientes para o exterior.

REFERÊNCIAS Eduarda, SK. Função de Produção em Saúde: Uma aplicação econométrica para o Estado de Santa Catarina. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Estado de Santa Catarina. 2017

Eduarda Schlossmacher Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Trabalha como economista em uma empresa de consultoria de investimentos para RPPS. 

 
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