Quem gosta de segunda-feira? Elas são sempre meio deprimentes, a começar por aquele despertador chato tocando na sua orelha, a não ser que (…), a não ser que seja feriado! Aí sim, aquele dia delícia, quando a semana fica menor e tudo parece mais bonito. A não ser que (de novo) seu país esteja à beira de um colapso econômico-financeiro, para não entrar no mérito do sócio-político, e esse seja um feriado bancário, reflexo de uma tentativa desesperada de amenizar a situação. Pois é a isso que acordaram os gregos nesta segunda feira, 29 de junho de 2015. Após semanas de reuniões de emergência entre ministros gregos e representantes de seus credores, a famosa Troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia), e até da desistência do FMI de participar das negociações, nenhum acordo foi concluído com êxito. Em face à falta de consenso entre a plataforma de esquerda do partido do Primeiro Ministro Tsirpas (o Syriza), e condições impostas por credores ao governo grego, incluindo uma reforma previdenciária e aumento de impostos a fim de diminuir o déficit público e a relação entre dívida e PIB, as negociações romperam-se quando credores recusaram-se a prorrogar a dívida por mais um mês. Mas, qual é a importância de um maldito acordo? Bom, desde 2010, quando a eclosão da crise europeia revelou o tamanho da dívida grega e o abismo em que o país se lançava, o país recebe parcelas de um socorro no valor 240 bilhões de euros por parte do FMI e do BCE. Passados cinco anos, a Grécia atingiu o prazo máximo (já previamente estendido) para que quite parte de sua dívida com o FMI (1,6 bilhões de euros). Entretanto, o período recente não se refletiu em uma bem-sucedida recuperação econômica, nem na melhora dos cofres gregos, deixando o país dependente da última parcela do devido empréstimo (7,2 bilhões de euros) não somente para pagar sua dívida, mas também para manter a solvência de seu sistema bancário. Neste contexto, o governo grego decidiu decretar feriado bancário de uma semana no país, estabelecer um limite de 60 euros diários para saques em caixas eletrônicos, além de impor medidas de controle de capital, ou seja, restrições a transações financeiras [1]. Para quem acompanhou a situação argentina em 2000, ou mesmo o Brasil no período Collor, a situação é bem similar ao “corralito” e seu equivalente em português. Grosso modo, decreta-se o fechamento dos bancos e a suspensão de atividades bancárias para evitar uma corrida bancária. É um raciocínio simples, uma vez que é esperado que cidadãos passem a temer uma saída da zona do euro, e queiram salvar os seus (no caso, euros), antes que seja tarde. O controle de capitais funciona de maneira análoga, mas é implementado para garantir que nenhuma transação financeira seja conduzida com o intuito de remover os euros do sistema financeiro grego; ou seja, fecham-se as “fronteiras financeiras”, para evitar a saída de euros para contas bancárias além das fronteiras do Peloponeso. Sem essas medidas, os bancos gregos tornar-se-iam insolventes em pouco tempo, como refletido pelo menor patamar de depósitos observado em 11 anos no sistema bancário do país (139 bilhões de euros). Em outras palavras, se não fossem fechados os bancos, a economia do país entraria em colapso devido à falta de dinheiro em seu sistema bancário, antes que uma solução definitiva fosse anunciada. Nesse cenário de verdadeira tragédia grega, surge a pergunta: quando será atingida essa solução definitiva, e até quando durará esse feriado prolongado surpresa? A princípio, os bancos devem ficar fechados por mais de uma semana, até terça-feira dia 07/06, dois dias após o plebiscito organizado pelo Syriza para definir o futuro do país: a Grécia deve ou não aceitar as condições dos credores, afim de permanecer na Zona do Euro? Porém, vale lembrar que nessa situação é prudente manter os ouvidos atentos e um pé atrás em relação a qualquer uma das soluções decididas. Um “sim” (a favor da permanência na Zona do Euro e das condicionalidades impostas por credores) impediria o colapso imediato da economia grega e os efeitos negativos na economia europeia como um todo, mas ao mesmo tempo, levantaria o velho e conhecido fantasma do risco moral (moral hazard). Ao perceber que nem o tamanho da dívida grega, nem a recusa perante as condições dos credores, nem um plebiscito por parte de um governo de esquerda fizeram com que a Grécia de fato perdesse a posição de membro da união monetária, países com problemas similares (e economias de maior peso, como Itália e Espanha) podem concluir que são muito grandes para quebrar, e serão socorridos pela Troika independentemente de suas decisões econômicas contrariarem recomendações do BCE e da Comissão Europeia. Por outro lado, se a Grécia optar por um “não” (contra as condições dos credores e a permanência na união monetária), o país enfrentaria o ápice de uma crise econômica a curto prazo, mas poderia readmitir sua moeda antiga, o Drachma, desvalorizando o câmbio a fim de ajustar sua economia via câmbio e não via preços, como salários. Porém, a saída grega do bloco levaria a região a um período de instabilidade não somente econômica (devido à interdependência dos sistemas financeiros dos países e da exposição, mesmo que menor, à títulos gregos) mas também institucional, uma vez que a possibilidade de saída de um membro levaria ao questionamento da saída de outros em situações similares – e que, por sua vez, causariam maior estrago. Para ilustrar, o gráfico abaixo demonstra o grau de exposição de países da União Europeia e de instituições financeiras (FMI e BCE) em relação à dívida grega.
Fonte: Eurostat, Elaboração Terraço Econômico
Enfim, enquanto esperamos o resultado do plebiscito ou algum acordo milagroso de última hora, acredito que seria a hora perfeita para criarem um proverbio estrelando heróis da mitologia grega equivalente a “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Afinal, #NãoTáFácilpraNiguém.