Sobre liberdade de expressão, independência editorial e mídias alternativas

O Terraço Econômico já está no ar há mais de dois anos. Foi um período conturbado, não há dúvidas. A fundação deste blog de economia e política coincidiu com a maior operação de combate à corrupção que temos notícia, a Operação Lava Jato. Observamos, incrédulos, prisões e conduções coercitivas de empreiteiros, banqueiros, senadores, deputados, ex-Presidente. Coincidiu também com a maior recessão econômica da história brasileira, resultado de decisões equivocadas e de teimosias seletivas dos Donos do Poder.

Nesse meio tempo, o Terraço Econômico se posicionou ao lado da justiça dos fatos e da honestidade intelectual.  Não possuímos direcionamento editorial. Aqui, quem quer que seja -da Equipe Editorial, da Equipe de Colaboradores ou quem colabora esporadicamente no Você no Terraço – tem liberdade total para escrever sobre qualquer tema. Contudo, um aspecto é sempre levado em conta: os argumentos utilizados nos artigos devem estar respaldados em dados e fatos passíveis de comprovação, base comum do bom jornalismo e da boa ciência.. Não importa qual lado será defendido. Na verdade, isso pouco importa. Aliás, esse é um motivo que mais me orgulho como cofundador deste espaço em meados de 2014.

Somos independentes e livres para expressarmos qualquer opinião; basta que ela esteja refletida nos eventos cotidianos. Parece simples. Parece a condição sine qua non.

Mas não é o que temos observado. Têm surgido alguns canais de comunicação – podem chamar de mídias alternativas – que tem utilizado a instabilidade política e econômica para espalhar boatos falaciosos e notícias falsas em nome de audiência e dos “clicks”.

Um caso notório é do Falso Testemunho, gravação da deputada Jandira Feghali que viralizou nas redes sociais e na internet com a voz do ex-Presidente Lula xingando e menosprezando o trabalho de investigação da Policia Federal. Sites e páginas espalharam a gravação, sem ao menos verificar a exatidão da fala do ex-presidente. Pouco depois, como mostra a reportagem da revista Piauí, verificou-se que Lula estava se referindo aos presentes recebidos enquanto era presidente, o que ele havia chamado de “acervo”. Estava irritado com o acervo de “tranqueiras”, e não com o processo.

Segundo a reportagem: “Alguns dos que propagaram a frase errada se retrataram. Outros permaneceram em ruidoso silêncio.”

Notem que não estou falando da honestidade do ex-presidente, que convenhamos se mostra duvidosa após os avanços da investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. Só estou me referindo ao perigo do ódio seletivo que está sendo propagado contra aqueles que já fizeram parte do governo há pouco tempo atrás. Se for provado que infringiram a lei, que paguem segundo a justiça brasileira determina. Mas a boataria (Lula acabou, Lula será preso hoje, Dilma sabia de tudo, etc.) pouco ajuda em um momento que os ânimos estão absurdamente acirrados.

E vejam, este texto ajuda a realizar uma mea culpa também. Na evolução dos acontecimentos, acredito que o Terraço Econômico errou em dar destaque a certos assuntos que não estavam completamente respaldados em dados comprováveis. Fomos tomados pela emoção, e deixamos a razão para depois. Vamos trabalhar duro para que isso não se repita no futuro próximo.

Nossa missão é formar opinião. Vamos sempre mostrar os dois lados da moeda, por que mostrar apenas um lado é um perigo histórico que não ousamos cometer. Existem mídias alternativas que fazem um excelente trabalho, independente, sério, enquanto outras estão jogando com uma estratégia deliberada, movida por alguns interesses, ou simplesmente estão atrás de audiência. Cabe ao leitor moderno descobrir em qual ele pode confiar.

Gosto bastante do Quadro “Persistência da Memória”, do Salvador Dalí. Os relógios derretidos e a mula sem cabeça me lembram muito a cobertura dos acontecimentos políticos e econômicos ultimamente.

É difícil avaliar o que é absolutamente surrealista e o que é real.

arthur-assin

 

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

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