Você no Terraço | Gerson Caner*
A gestão das empresas estatais brasileiras na ultima década e meia pode ser definida como uma marcha da insensatez. Interrompido esse período trágico, começa um longo caminho de recuperação do patrimônio público, principalmente para as duas maiores empresas do setor, Petrobras e Eletrobras.
A Petrobras, não fosse a gatunagem trazida à tona pela Operação Lava-Jato, passou por uma ampla deterioração interna, uma vez que seus processos decisórios passaram a responder a ditames políticos e não a orçamentos e custos. Estima-se em mais de R$ 100 bilhões os prejuízos causados à nossa petroleira somando os danos decorrentes de corrupção e as decisões estapafúrdias, tais como a famigerada compra por uma valor várias vezes acima do mercado, da usina de Pasadena. São desde propinas, que atingem, mais de R$ 6 bilhões apurados até agora, como avaliações de projetos nitidamente deficitários como a refinaria de Abreu e Lima.
Nos últimos meses, porém, sob nova gestão e comandada pelo experiente executivo Pedro Parente, a Petrobras vem dando sinais de melhoras. A empresa conseguiu estender os prazos de sua dívida em títulos e a geração de caixa chegou a R$ 10 bilhões no segundo trimestre de 16. A empresa se ajusta para concentrar a produção em campos capazes de gerar resultados em prazos menores e está em melhor condição, sem pressa para se desfazer de mais patrimônio, o que parecia inevitável.
A Eletrobrás, que padeceu tristemente nos ultimos governos Dilma, sob um ímpeto intervencionista que desarticulou o setor elétrico nacional, tem desafios ainda maiores. Forçada a investimentos perdulários e a reduções insustentáveis de tarifas para fins eleitorais, acumula um prejuízo de mais de R$ 30 bilhões nos ultimos 4 anos. O Brasil claramente andou para trás em avanços tecnológicos que vem revolucionando a geração e distribuição de energia no mundo desenvolvido. Agora a nova gestão reavaliará a enorme estrutura de custos e o plano de investimentos.
A lição é óbvia, mas, infelizmente, ainda longe de ser absorvida por todos num país onde o ideário de esquerda do século 20 ainda é bastante arraigado. A gestão das estatais, patrimônio do povo brasileiro e das empresas de economia mista não pode ficar sujeita a desmandos do governo de plantão. Da mesma forma que no setor privado, elas devem ter sua gestão pautada por meio do profissionalismo e critérios de rentabilidade e eficiência. Assim, e somente assim, elas serão capazes de cumprir a sua função social.
Gerson Caner Economista pela FEA/USP, MBA em Finanças, 20 anos de experiência no mercado financeiro, atuou como diretor de empresas de consultoria (Ernst Young) e é palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais, além de Gestor de Investimentos