Visita do primeiro-ministro chinês ao Brasil

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Você sabe falar mandarim? Se sim, hoje seria um bom dia para procurar emprego em Brasília. Ouvi no rádio que o evento oferecido pelo governo brasileiro à cúpula chinesa e aos empresários que a acompanhavam foi considerado um sucesso, com exceção ao fato de que a maior parte ali não falava a mesma língua, literalmente. Mas, tudo bem, porque barreiras linguísticas à parte, os dois países pareceram se entender muito bem diante da esperada “maleta de dinheiro” trazida pelo primeiro ministro chinês, Li Keqiang. De fato, quando o assunto são 53 bilhões de dólares, qualquer barreira se torna tão irrelevante quanto a calça (ou saia) que você vai usar em uma reunião por Skype.

Mas calma, volta um pouco. Os chineses viajaram meio mundo para trazer 53 bilhões de dólares para nós brasileiros, assim sem mais nem menos? Não, não achamos o salvador da nossa pátria de olhos puxados. A coisa não é bem por aí. Primeiro, porque é claro que nenhum país simplesmente sairia distribuindo dinheiro para outros, por pura generosidade. Obviamente, a China também espera se beneficiar de investimentos feitos no Brasil. O financiamento para a Vale, por exemplo, permitirá que a empresa brasileira de mineração compre 24 navios de empresas chinesas. Já o projeto de uma enorme Ferrovia Transoceânica, que ligará Brasil e Peru (se concluída), reduziria o custo de exportações de commodities exportadas pelo Brasil (especialmente minério de ferro) e compradas pela China. Ou seja, os chineses pagariam menos por um produto que precisam muito.

Segundo, a economia chinesa anda perdendo fôlego (por motivos que dariam outro post, como de costume), e o país precisa reinventar sua estratégia de crescimento, e diversificar investimentos. Como assim? Bom, grosso modo, o plano traçado pela China para que o país crescesse a taxas exorbitantes funcionou muito bem, até agora. Agora, não há mais prédios, pontes ou estradas a serem construídas que garantam um PIB maior, e o governo chinês percebeu que chegou a hora de não colocar todos os ovos na mesma cesta. Olharam para o outro lado do oceano, e (Tadam!) lá estava o Brasil, na maior pindaíba, aceitando de bom grado qualquer yuanzinho disponível (a moeda chinesa, o yuan, para os íntimos), no caso, convertido em dólar.

Mas, claro, ainda não é só isso. Investimentos desse tamanho aumentam a presença chinesa no Brasil e, consequentemente, na América Latina. E porque isso seria importante? Bom, se você fosse o líder de uma potência, tenho certeza que você entenderia como uma maior presença mundial é importante. Mas como você não é um líder mundial (obviamente, porque está lendo nosso blog), imagine que você esteja ganhando uma partida de War; quanto mais territórios você ganhar, mais top você vai se sentir. Nunca fui um líder, mas acho que a sensação deve ser tipo isso.

Brincadeiras à parte, a presença chinesa por meio de investimentos tem aumentado cada vez mais em regiões de países em desenvolvimento, como América Latina e África. Isso significa que devemos achar tudo isso um plano maléfico chinês? Não. Os 35 acordos assinados entre o primeiro ministro chinês e a presidente Dilma com certeza serão de grande utilidade para o Brasil, já que abrangem diversas áreas, que vão de agricultura, passando por infraestrutura e mineração, até pingue pongue (sem brincadeira. Tem um acordo que envolve jogos de tênis de mesa). Entre esses acordos estão um empréstimo de 7 bilhões de dólares para a Petrobras (sair do buraco), um estudo sobre a viabilidade da tal da Ferrovia Transoceânica (que tornaria produtos brasileiros mais baratos e competitivos), a criação de um fundo de 50 bilhões de dólares entre a Caixa Econômica e o Banco Industrial da China, a compra de 22 aviões da Embraer, e a liberação da importação de carne bovina brasileira (banida há três anos devido a um incidente sanitário, que depois descobriram nunca existiu).

Mas, como nem tudo são rosas, é bom lembrar que boa parte de tais acordos ainda são meras promessas formalmente seladas por um aperto da mão. Por exemplo, a compra de 22 aviões da Embraer, apesar de agora ter sido formalizada e de fato encaminhada, é parte de um acordo firmado com o presidente chinês (Xi Jinping) em julho do ano passado (que estabelece compra de 60 aeronaves) e que, até então, não havia saído do papel. O mesmo é o caso da liberação da importação de carne bovina no país, que havia sido prometida há quase um ano, e até então não cumprida. Além disso, o bilionário projeto da Ferrovia Transoceânica ainda vai dar muito pano para a manga (ecológica), já que a ideia inicial envolve cortar a Amazônia. Convenhamos que não tão simples quanto traçar uma linha bonita ali no mapa, certo?

Portanto, para que alguns acordos deixem o estado de “quem sabe um dia”, talvez ainda leve um tempo, ou quem sabe todo o tempo necessário para que sejam esquecidos. Mas, não há de se negar que todo começo, é sempre um bom começo. Enfim, moral da história? Se você já não tiver esgotado sua paciência com línguas, como eu, vá estudar mandarim. Se o negócio não bombar, pelo menos você pode colocar no seu CV que aprendeu uma língua milenar; fica chyque, vai?

Rachel Borges de Sá

*O artigo foi originalmente publicado no Política em Hashtag http://politicaemhashtags.com.br/ da nossa nova integrante Rachel Borges de Sá.

Rachel de Sá

Mestre em Economia Política Internacional pela London School of Economics, mestranda em Economia, Desenvolvimento e Políticas Públicas pelo IDP, e graduada em Relações Internacionais pela PUC-SP. Idealizadora do canal do Terraço Econômico no Youtube, acredita que educação financeira é para todos, e sempre busca explorar a linha tênue entre ciência política e economia.

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