Empresas zumbis e o terror na economia brasileira

De alguns anos para cá, virou moda filmes e séries relacionados aos mortos vivos, nos quais as histórias têm características em comum: pessoas contaminadas por um vírus que mesmas morrem e voltam a vida. Os zumbis como são conhecidos, não têm mais consciência e não reconhecem mais ninguém, a única coisa que buscam é a carne humana para saciar sua fome. Mas afinal, qual seria a associação dos zumbis com as empresas brasileiras?

Este termo de empresas zumbis é baseado no artigo [1] de André Schwartzman  “Assim como os zumbis das histórias estão mortos mas ainda andam, seus equivalentes corporativos ficam vagando em uma zona logo acima da insolvência, porém ainda distante de uma verdadeira viabilidade”. Estas empresas têm sede de  liquidez, e vão fazer de tudo para conseguir, indo até as últimas consequências.

Estas empresas possuem características de um longo período de caixa operacional insuficiente para pagar as despesas básicas, principalmente impostos, FGTS e previdência de funcionários. Outro grave problema apresentado pelas PMEs é a falta de recursos para investimentosem novos processos e tecnologias, diminuindo a competividade , assim acelerando sua deterioração (ou decomposição comparada com os zumbis), necessitando de ajuda financeira contínua de credores e investidores para continuar suas operações. Isto claramente traz preocupações, principalmente para os bancos.

Em um estudo realizado pelo Sebrae [2]  , mostra o perfil destas  empresas, no qual são na maioriade pequeno a médio porte, que cresceram principalmente entre os anos de 2008 até 2014.

O crescimento e a formação de novos negócios se deu por causa do crescimento econômico, queda do desemprego, melhoria da renda e principalmente por causa da polítca expansionista de crédito do governo Dilma, que deu a “droga da felicidade” com uso irrestrito, as consequências deste desastre foi a criação de várias empresas artificiais e a redução da mortalidade natural  das PMEs. . Outro problema causado foi o mau uso do dinheiro pois muitos empresários não tiveram preparo e asessoria, ou seja, investiram mal os empréstimos recebidos, no qual  em muitos casos os recursos financeiros foram para o uso pessoal, como a compra de imóveis, automóveis, viagens entre outros.

Agora que a farra acabou, os bancos têm se nêgado a emprestar dinheiro, assim dificultando a liquidez das empresas, pois estes mesmo empresários não se preparam para os “tempos de vacas magras” que se formou no Brasil. Por experiência própria, vi o resultado deste desastre acompanhando várias empresas e tentando resolver seus problemas de liquidez, principalmente negociando com os bancos os empréstimos atrasados.

No gráfico abaixo, retirado do estudo realizado pelo Sebrae [2], podemos verificar o crescimento  da sobrevivência das empresas de 2011 pra 2012, permancendo alto até 2014. O estudo realizado neste mesmo ano, já previa um cenário na redução da constituição de empresas e o aumento na sua mortalidade, principalmente pela  redução do PIB.

PIB, TAXA DE SOBREVIVÊNCIA DE EMPRESAS DE 2 ANOS e ESTIMATIVAS (SEBRAE)

As PMEs cresceram em faturamento, mas muitas não se profissionalizaram, gerando um grande desastre para os resultados dos bancos. Pra ver o tamanho do problema, podemos analisar os dados do último trismestre de 2016 dos dois maiores bancos privados do país.

A primeira análise é dos inadimplentes do Bradesco separados por categorias. O que mais chama atenção são as micros/pequenas e médias empresas, conforme o  gráfico abaixo:

Dados 4T2016 Banco Bradesco

O próprio banco mostra a simulação comparada com o realizado, sendo a única previsão de inadimplência que o banco erra consideravelmente.

Além disso, temos a mesma análise do Itaú. Os valores representam menos que do Bradesco, mas também há uma evolução da inadimplência  da mesma categoria.

Dados 4T2016 Banco Itaú

Lembrando que os bancos iniciaram um trabalho de restrição e rigor na  concenssão de crédito  a partir de 2015 [3]. Mesmo assim temos aumento da inadimplência. A situação é tão preocupante que os principais bancos do país anunciaram [4] uma força tarefa para montar equipes de reestruturação com o intuito de ajudar estas empresas em dificuldades. Esta notícia é até irônica, pois os próprios bancos foram por parte responsáveis por este grave problema. Em 2011 e 2012 no auge dos anos  do crédito fácil, conversei com vários gerentes que visitavam alguns clientes que eu prestava serviço. Eles me revelaram, principamente os ligados aos bancos públicos, que tinham meta do alto escalão pra emprestar o máximo possível, ou seja, independente da condição financeira e econômica que a empresa se encontrava, tinham que conceder os empréstimos..

Lendo a reportagem me indago como os bancos vão ajudar, pois uma empresa se considera insolvente  quando os bancos  e os sócios não colocam mais dinheiro, e a empresa não consegue nem girar, ou seja, comprar matéria prima e vender, e pagar seus funcionários. Mas como um bom morto vivo, usam de subterfúgios para conseguir se manterem de pé. Como os zumbis que não se importam mais com as regras humanas, as empresas entram num estado de desespero e levam a tomar certas atitudes que são quase inacreditáveis. Imagino uma destas equipes tentantanto sanar a emissão de duplicatas antes do vencimento para o cliente pagar, mas na verdade é só para descontar a duplicata com os bancos pra gerar dinheiro antecipadamente, depois cancelando e acertando com o cliente o vencimento correto. Outra tática desesperada por estes “Zumbis” são as emissões de notas frias, as trocas de cheques “borboleta” (esta técnica é uma das minhas preferidas, que uma empresa troca o cheque com outra, esta também possui problemas financeiros e acertam em pagar na data do vencimento as duas juntas), além disso  temos uma contabilidade que é uma bela “ficção de terror”. Nesses casos extremos, é pouco provável a possibilidade de recuperação ou reestruturação financeira da empresa, entre outros aspectos, pela simples razão de que inexiste confiança para a realização de negócios.

Temos que lembrar que em todas as economias saudáveis há uma morte natural das empresas, mas por causa do crédito fácil foi “represado estas mortes” principalmente das pequenas e médias. Diferente de outras crises econômicas que o país passou, as PMEs não representavam tanto no PIB. Baseado em uma reportagem do Sebrae [5]   em 1985, o IBGE calculou em 21% a participação dos pequenos negócios no PIB brasileiro. Como não havia uma atualização desse indicador desde então, o Sebrae contratou a Fundação Getúlio Vargas para avaliar a evolução das micro e pequenas empresas na economia brasileira, com a mesma metodologia utilizada anteriormente. Em 2001, o percentual cresceu para 23,2% e, em 2011, atingiu 27%. Estamos diante de um grave problema, atualmente representam 30 % do PIB, 52% dos empregos com carteira assinada e 40% dos salários pagos.

Analisando estes números podemos estar diante de um problema que muitos economistas ainda não se deram conta. Pode representar um atraso na recuperação da economia do país, sendo um dos motivos mais prováveis que o desemprego permanecerá alto. Isso se da pelo fato da representatividade de geradoras de emprego no país que são as PMEs, também podemos verificar uma análise de cenário apresentado pelo banco Itaú, conforme o quadro abaixo:

Dados 4T2016 Banco Itaú

Como no caso da ficção que os zumbis vão contaminando outras pessoas saudáveis, consequentemente gerando o caos, assim também são estas empresas, no qual são verdadeiras bombas de efeito retardado altamente nocivas à sociedade e, quando desmoronam, emergem plenamente situações caóticas contaminando toda a economia, principalmente gerando o desemprego.

 

Anderson Pizzutti Bortolotto – Formado em Física pela UEL e Administração de Empresas pela FECEA, como especialização em Engenharia de Produção e Educação Matemática pela UEL. Consultor em Finanças e Controladoria, além de ser professor de Física. Possui mais de 12 anos de experiência na área financeira e controladoria de empresas de grande e médio porte pelo Brasil. Também atuou no Mercado financeiro como Analista de Investimentos em um Fundo de Investimentos. Apaixonado por números, investimentos e cortar custos, além de mudar a sorte das empresas, principalmente aquelas com graves problemas financeiros.

  Notas [1] http://www.tmabrasil.org/materias/artigos-de-associados/empresas-zumbis-as-mortas-vivas [2] Relatório de Sobrevivência das Empresas no Brasil do SEBRAE [3] http://oglobo.globo.com/economia/bancos-restringem-ofertas-de-credito-16106002 [4] http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/6075966/forca-tarefa-grandes-bancos-tenta-evitar-quebradeira-empresas?&utm_source=linkedin&utm_medium=social&utm_campaign=portal-share [5] https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mt/noticias/micro-e-pequenas-empresas-geram-27-do-pib-do-brasil,ad0fc70646467410VgnVCM2000003c74010aRCRD

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