2008: o ano em que o mercado caiu na real

A crise financeira de 2008 foi um marco na economia mundial e desencadeou diversas consequências a curto, médio e longo prazo.

Além do que foi amplamente noticiado nos anos que se seguiram – o desemprego, a alta no preço do dólar e as quedas bruscas da Bolsa, por exemplo – existiu também um lado que revolucionou a maneira como os milionários investiam: a popularização dos chamados ativos alternativos.

Foi a partir daí que começaram a surgir as primeiras  plataformas de Peer-to-peer lending (P2P) e que o investimento em ativos judiciais ganhou força no Brasil. Principalmente através do processo de compra e venda de precatórios.

Discutir a dinâmica que levou a essa mudança nos portfólios de uma parcela significativa dos investidores, nesse momento, pode nos levar a compreender melhor de que maneiras podemos passar por mais uma crise utilizando dos ensinamentos daquele período.

Para entender todo esse processo é importante partir do início e relembrar o que desencadeou a crise financeira de 2008 e, então, como isso foi benéfico para o mercado dos ativos reais, em específico.

Tudo começou no setor imobiliário dos Estados Unidos. Nos anos 90, uma série de medidas financeiras foram intensificadas com o objetivo de estimular a compra e venda de imóveis no país.

Foi assim que os bancos começaram a oferecer empréstimos em grande escala, muitas vezes para pessoas que inclusive não possuíam renda ou patrimônio. A garantia, nessas situações, era o próprio imóvel a ser financiado.

Esse tipo de financiamento era chamado de subprime – algo como “de segunda linha”.

Paralelo a isso, os bancos de investimento começaram a criar pacotes que combinavam essas dívidas que tinham grandes chances de não serem pagas com outras de baixo risco, de clientes que costumavam pagar suas dívidas corretamente.

Esses pacotes, chamados de CDOs (em tradução livre, obrigações de dívida com garantia), eram oferecidos a investidores, a maioria deles da Europa. Quando a dívida era paga, o dinheiro ia diretamente para esses investidores.

O principal problema desse tipo de investimento era que muitos não sabiam que tipo de dívidas faziam parte do pacote, apesar de as agências de classificação de risco garantirem que os investimentos eram seguros.

Mas a bomba estourou mesmo quando os devedores começaram a não pagar suas dívidas, que estavam nas mãos de bancos e fundos de investimento. Alguns imóveis foram tomados como garantia, mas a situação se tornou insustentável.

Em 15 de setembro de 2008, então, houve o que é considerado o marco da crise: a segunda-feira negra, quando um dos bancos de investimento mais tradicionais dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, decretou falência.

A notícia derrubou Bolsas de Valores do mundo todo. Quem tinha ações, perdeu dinheiro.

Foi aí que os grandes investidores tiveram que reinventar sua maneira de aplicar capital em busca de rendimentos mais altos. A renda fixa era uma opção, mas a diversificação era necessária inclusive para evitar perdas como essa no futuro.

A principal saída foi aplicar em ativos que tivessem baixíssima correlação com a Bolsa, e é aí que os ativos reais entram em cena: por estarem ligados à economia real, esses ativos não estão listados na Bolsa e não sofreram as consequências da crise.

Apesar da “descoberta”, esses ativos sempre estiveram disponíveis. Somente a maneira de investir é que foi repensada. Se antigamente os ativos ligados à economia real eram negociados diretamente com o proprietário, a partir da crise de 2008 empresas especializadas nessas operações começaram a surgir no mercado.

Essas empresas atuam garantindo que não existam impedimentos jurídicos em nenhuma das duas partes, tornando a negociação do ativo muito mais segura.

No Brasil, podemos destacar o trabalho da Hurst Capital, primeira plataforma do Brasil a estruturar operações de títulos públicos judiciais.

De acordo com uma pesquisa realizada pela PwC, em 2016 o mercado de ativos reais já havia batido a marca de $7,7 trilhões em investimentos. Na ocasião, a previsão era de que até o final de 2020 o setor ultrapasse os $15,3 trilhões.

Diante de um cenário bastante parecido com o de 2008, com a Bolsa em constantes oscilações e com a taxa de juros mais baixa da história do país, é notável que os investidores têm buscado formas de proteger seu dinheiro e manter a rentabilidade.

Algumas maneiras ainda mais alternativas de investir em ativos reais, como é o caso do mercado de ouro, tem se comportado de maneira a deixar seus investidores ainda mais contentes: nesse período, o índice de ouro brasileiro OZ2 teve alta de 179.415 em fevereiro para 283.050 em março, uma alta de 57,76% em apenas um mês.

Tudo isso enquanto outros ativos caíram mais de 80%, como foi o caso das ações de companhias aéreas.

Originalmente postado em: https://blog.hurst.capital/blog/2008-o-ano-em-que-o-mercado-caiu-na-real

 

Arthur Farache

Advogado e Empreendedor: mais de 12 anos de experiência em instituições financeiras internacionais e escritórios de advocacia (Citi e Machado Meyer). Criou diversas fintechs, inclusive a Desfixa - Renda Fixa, vendida em 2017 Estudou no Insper, Unifor e na USP.
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