Arthur Solow
Além das informações sobre as manifestações, os resultados de jogos de futebol e o desenrolar da operação Lava-Jato, há outro assunto que é carta marcada no noticiário cotidiano: o nível dos principais reservatórios que abastecem o município de São Paulo e sua região metropolitana. O mistério é desfeito sempre no período da manhã, quando a Sabesp divulga as informações dos reservatórios.
“Será que choveu nas represas dessa vez?”, uma pergunta que não sai de nossas mentes… Enfrentando a maior estiagem dos últimos 80 anos concomitante à falta de planejamento e investimentos para cenários adversos (como o atual), a cidade de São Paulo sofre com a falta de água. Se antes era considerado um problema isolado, não há dúvidas que tornou-se generalizado. A situação alarmante preocupa moradores, empresários e claro, o governo.
A Sabesp, responsável pelo fornecimento e tratamento da água em São Paulo e alguns municípios do estado, é uma empresa de economia mista, o que significa que o seu controlador é o Governo do estado, que possui a maioria das ações (50,3%) e, portanto, é quem manda de fato, embora haja ações disponíveis para compra na Bolsa de Valores. Apenas em 2014, as ações derreteram 32%, ainda que em 2015 tenha apresentado ligeira recuperação, com elevação de 4,5%, considerando a última cotação disponível (10/04/15).
Mas de que forma estão relacionados à queda do nível dos reservatórios e a derrocada das ações da Sabesp? Felizmente, existem dados diários desde o início de 2014 até 10/04/2015 para as duas variáveis. Vejam que interessante o gráfico abaixo:
- Reservatórios: A variável “Nível dos reservatórios – Unificado” mostra a capacidade total – em litros – de armazenamento dos seis reservatórios que abastecem o município de São Paulo e sua região metropolitana (Cantareira, Alto Tietê, Rio Grande, Guarapiranga, Alto Cotia e Rio Claro). Fonte: http://site.sabesp.com.br/site/Default.aspx
- Preço das Ações Sabesp (SBSP3):Informações disponíveis no site de relações com investidores da SABESP: http://www.sabesp.com.br/investidores/
A partir da utilização das reservas técnicas (também denominadas de volume morto), notem que as ações sobem por um período, como se representassem um “alívio”, embora pouco depois voltem a cair. Esse fato ocorre nas três incorporações de reservas técnicas, duas na Cantareira (maio/14 e out/14) e uma do Alto Tietê (dez/14).
No final do período analisado, as duas curvas ficam praticamente grudadas…
Em 17/03/2015, a Sabesp passou a divulgar a informação da capacidade do Sistema Cantareira incorporando as duas reservas técnicas autorizadas pelos órgãos reguladores: de 182,5 milhões de metros cúbicos e de 105 milhões de metros cúbicos, respectivamente, após um pedido formal do Ministério Público. Como a data coincidiu com o período chuvoso de março, não foi possível identificar o efeito da decisão na cotação das ações.
A correlação estatística entre as duas variáveis é de 0,67, o que indica uma associação relativamente forte entre as duas variáveis. Não há qualquer implicação de causalidade, visto que seria necessário fazer mais testes estatísticos para provar tal relação, embora seja possível afirmar que estatisticamente existe uma relação intensa entre elas.
Afinal, se o principal produto da Sabesp é a água, é esperado que sua escassez afete o valor de suas ações cotadas em mercado.
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