A delicadíssima situação da Petrobras

O desafio é a nossa energia”

Não tem se falado de outra coisa. A Petrobras é assunto constante em rodas de amigos, investidores e em conversas de elevador. Costuma-se ouvir: “O que está acontecendo com a Petrobras?”, “A ação está cada vez mais barata!”, “Acabaram com a Petrobras!”; e estas são apenas algumas frases que se tem proferido nos últimos dias.

Mas afinal, qual é real situação da nossa ex-maior empresa? Será possível recuperar a nossa mais querida jabuticaba?

[caption id="attachment_2547" align="aligncenter" width="660"]O que reserva o futuro à Petrobras? Foto: Exame O que reserva o futuro à Petrobras? Foto: Exame[/caption]

Endividamento

A fim de cumprir o seu ambicioso Plano de Negócios e Gestão 2014-2018 que prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões (US$ 206,8 bilhões para projetos em implantação e em processo de licitação), a Petrobras tem se endividado junto ao mercado financeiro. Em dez/2014, a divida da estatal chegava a cifra de US$ 120 bilhões, ou R$331 bilhões de reais. Para ser ter uma ideia do desbalanceamento dos fluxos de receitas e despesa, o mesmo Plano de Negócios prevê um Limite de alavancagem de até 2,5x dívida líquida/ebitda[1] – atualmente está em 4x.

Ademais, boa parte desse plano de investimentos está destinada ao petróleo da camada do pré-sal, nossa – até então – grande esperança. Segundo estudos, a estimativa do custo para retirada do petróleo do pré-sal é de US$45-65 dólares por barril, devido à alta tecnologia necessária para extração em águas profundas. O barril do petróleo (Brent) tinha ficado na casa dos US$ 100, mas algo inesperado aconteceu…

Adversidades externas – Preço de Petróleo e Câmbio

[caption id="attachment_2548" align="aligncenter" width="374"]Dados: http://www.oil-price.net/ Dados: http://www.oil-price.net/[/caption]

Pegando todo o mercado de surpresa, o barril de petróleo atingiu a incrível marca de ser negociado abaixo dos US$ 50 dólares. Mantido esse nível de preços, a viabilidade do pré-sal será colocada em xeque! O Bank of America prevê que o barril de petróleo fique próximo a US$ 45, devido a “enorme excesso de oferta no 1º semestre de 2015”.[2] A OPEP acelerou a produção e, mantida a mesma demanda, os preços vem caindo. Esse cenário põem a prova a capacidade dos EUA de extrair petróleo a partir do Xisto, em um momento que a produção em solo americano é a mais acelerada em três décadas.

Notem que, no curto-prazo, os baixos preços do barril no mercado internacional colaboram para criar uma arbitragem de preços para a Petrobras, considerando que os valores cobrados no mercado interno não se modificaram. Embora, seja preciso notar que, colocando-se na balança, os efeitos de longo-prazo são muito mais nocivos à empresa do que esses ganhos de curto-prazo.

Outro ponto que vem deteriorando as contas da Petrobras é a cotação do dólar, visto que 80% da divida está atrelada a moeda americana. Apenas nos últimos seis meses, considerando a subida do dólar, a Petrobras “ganhou” R$50 bilhões de divida devido à oscilação da moeda[3].

Corrupção

Não bastasse o cenário externo, a governança da instituição não vem auxiliando. Casos de corrupção tem pipocado no noticiário cotidiano, com acusações de superfaturamento de grandes obras, fraude de contratos bilionários, pagamento de propinas, presença de um clube de empreiteiras, entre outros. Ex-diretores da estatal estão presos e os atuais não estão a salvo. Grandes empresários do setor de construção também foram indiciados na investigação e muitos também estão presos. Segundo Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, as diretorias comandadas pelos três partidos recolhiam propinas de 3% de todos os contratos.[4]

Muitos desses recursos desviados poderiam ser utilizados no famigerado Plano de Investimentos citado acima…

Baixa transparência da empresa

Devido a contabilização das perdas provocadas pelos desvios de recursos apontados pela investigação Lava-Jato da Policia Federal, a divulgação dos resultados do 3º trimestre de 2014 vem sido adiado pela empresa. Essa demora na divulgação dos resultados cria pessimismo e desconfiança por parte do investidor e reduz de forma significativa a transparência da empresa junto ao mercado. Colocando todos esses fatores sob o conhecimento da sociedade, o resultado não poderia ser outro:

[caption id="attachment_2552" align="aligncenter" width="676"]Ação PETR3 últimos três meses. Gráfico: Google Finance Ação PETR3 últimos três meses. Gráfico: Google Finance[/caption] Mas, afinal,  a Petrobras pode quebrar?

Em dez/13, a consultoria Macroaxis divulgou um dado preocupante: “Petrobras tem 32% de chance de falir, sendo a estimativa muito mais elevada que a média do setor”.[5] Fiquei intrigado, e procurei no site da consultoria [6] se havia esse dado atualizado para esse inicio de 2015 e não gostei nada do que vi…

[caption id="attachment_2553" align="aligncenter" width="676"]Fonte: Macroaxis Fonte: Macroaxis[/caption]

Embora improvável, é possível que a Petrobras de fato quebre nos próximos anos? Considerando a Lei 11.101, que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, e que substituiu a antiga lei da concordata, a resposta é um sonoro não. Já no Artigo 2º da referida Lei se menciona a não aplicabilidade da lei a empresas publicas e sociedades de economia mista, como é o caso da Petrobras.

Além disso, o custo político seria gigantesco.  O custo financeiro para as empresas brasileiras é impensável, tendo em vista a evidente fuga de recursos que poderia ocorrer.

O fato é que, por trás da Petrobras, existe todo um sistema de interesses que se mobilizam para evitar o pior. O governo sem dúvida pode socorrer a empresa em um momento de stress generalizado, embora o custo geralmente recaia sobre o contribuinte, tendo em vista os aportes recorrentes do Tesouro nas empresas estatais.

Notem que o solucionamento dos casos de corrupção que assolaram a empresa deveriam ser encarados como positivos! A Petrobras deve sinalizar ao mercado que vem tomando medidas claras para virar o jogo, esse pessimismo exacerbado. Deve melhorar a gestão, elevar a transparência, deixar as regras claras para a sociedade.

Nunca o slogan “O desafio é a nossa energia” me pareceu tão real…

Arthur Solow 1624995_10203286414704914_1165158734_o

[1] Grosso modo, indica o número de anos de geração de caixa requeridos para pagar todas as dívidas da companhia.

[2]http://www.infomoney.com.br/bloomberg/mercados/noticia/3806638/pessimistas-investidores-wall-street-preveem-barril-petroleo-menos

[3] http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,divida-da-petrobras-aumenta-r-50-bi-imp-,1606731

[4] http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/04/entenda-operacao-lava-jato-da-policia-federal.html

[5]http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/12/11/petrobras-tem-32-de-chances-de-falir-diz-consultoria-norte-americana.htm

[6] http://www.macroaxis.com/invest/ratio/PETR3.SA–Probability-Of-Bankruptcy

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

Um Comentário

  1. É impressionante como não nenhum pronunciamento de todo esses valores absorvidos dos contratos causado pela grande corrupção, não pode ser estornado a Petrobras.

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