A bolha ponto com

Especial para o Terraço | Por Silvio Dória * texto

A internet, assim como a ferrovia, a televisão, o telefone, gerou uma onda de inovação. Diversas empresas surgiram para aproveitar a bonança vivida pelo setor. No entanto, com o passar do tempo, poucas empresas os dominam. É o que afirma Peter Lynch, em seu livro One Up on Wall Street. Segundo o autor e investidor, esses novos setores produziram novas empresas, mas apenas uma porção delas sobreviveram, poucas ainda dominaram seus respectivos setores. E é, muito provavelmente, o que ocorrerá com a internet, da mesma forma como o McDonald’s fez com os hamburgers ou a Coca-Cola com os refrigerantes.

A Google e Amazon caminham nesse sentido. Hoje a Amazon tem se diversificado cada vez mais. A venda de livros se tornou apenas um ramo de negócios da companhia. Não há nenhum grande site hoje que não esteja hospedado nos servidores da Amazon. “Muitas pessoas pensam que o nosso principal concorrente é Bing ou Yahoo. Mas, realmente, o nosso maior concorrente de busca é a Amazon. As pessoas não pensam na Amazon como busca, mas se você está em busca de algo para comprar, provavelmente você vai querer procurar primeiro na Amazon pelo produto” diz Eric Schmidt, CEO do Google.

O começo da Amazon foi meteórico. Em 1994, quando o negócio ainda tinha poucos meses de existência, Jeff Bezos, fundador da empresa, em reunião com potenciais investidores, projetava que em pouco menos de cinco anos sua empresa alcançaria a marca de  U$ 114 milhões em vendas. Passados os cinco anos a receita da Amazon já batia a marca dos bilhões.

Outa empresa ponto com, a Ebay, fundada na mesma época que a Amazon também teve um crescimento exponencial. Em pouco mais de 3 anos sua receita aumentou em 30 vezes, chegando a marca dos U$ 200 milhões. Seu modelo de negócio era ideal: recebia uma comissão por cada venda e, ao contrário da Amazon, não arcava com custos de estocagem e transporte. Ao contrário da Amazon em seu início, o Ebay vendia de tudo, de figurinhas de Baseball a ursinhos de pelúcia.

Bezos e Pierre Omidyar (criador do Ebay), no início da internet, compartilhavam a mesma opinião: a internet não era uma lugar só para diversão, mas também um lugar ideal para se iniciar um negócio.

Inspiradas nessas e outras histórias de sucesso do Vale do Silício diversas start-ups surgiram nas garagens das famílias de classe média norte-americanas e nos corredores de Stanford.

Michael Moritz, sócio da Sequoia Capital, uma das principais firmas de Venture Capital, relata sua primeira visita ao trailer que sediava uma start-up de nome esquisito ainda em fase de gestação, a Yahoo: “La dentro havia uma grande confulsão. Aquilo era o pior pesadelo de toda mãe. Embalagens de pizza para todo lado, computadores e equipamentos eletrônicos espalhados por todo o lado. Cortinas fechadas… A temperatura era de uns 30 graus. Era uma fossa séptica sufocante.” Moritz investiu pouco mais de R$ 2 milhões de dólares. Mas confessa que na época a aposta foi um puro palpite, especulação.

Não era óbvio de onde viriam as receitas e, principalmente, os lucros. Naquela época ninguém sabia como ganhar dinheiro com a internet, mas a Yahoo mudou isso, dando início em 1995 a uma revolução que tomaria a web. Pela primeira vez o site pasara a divulgar propaganda através de banners no site. Mais tarde, uma inovação do Google, chamada “Adwords” mudou mais uma vez o jeito de se fazer publicidade na internet. Os grandes sites de busca logo viraram grandes portais de entretenimento, para segurar por mais tempo possível o usuário. Yahoo, Altavista e Excite primeiro, depois o Google.

Todo o mercado financeiro embarcou no frenesi da internet, o setor de bancos de investimento, das firmas mais famosas e antigas até as pequenas boutiques de M&A. Muitas dessas operações eram sabidamente fraudulentas. Em investigação da SEC após o estouro da bolha da internet, ficou famoso o diálogo entre Henry Blodget, analista do setor de tecnologia do Merrill Lynch e uma corretora do mesmo banco. No um e-mail, datado de 1998, ao ser questionado por que sua recomendação era “pos” para uma empresa ponto com, apesar de seus fracos resultados financeiros, Blodget respondeu que “pos” não significava positivo, e sim “piece of shit” (um monte de merda).

As recomendações de investimento de Blodget e de outros analistas de tecnologia eram em sua maioria superestimadas. Os investidores, corriam então para comprar ações dessas empresas. Em um curto espaço de tempo o valor dessas ações alcançava um valor fora do comum, não refletindo a realidade. Era pura especulação.

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Pouco antes de estourar a bolha da internet, o número de ofertas particulares, IPOs, fusões e aquisições foi o maior já visto em Wall Street. Empresas sem nenhum plano de negócios, expectativa de receita ou lucro atraim milhões em investimento. O índice da Nasdaq, no período entre 1997 e 2000 cresceu sem parar, atingindo o pico 5.231,53 pontos para. Hoje esse número não chega aos 3 mil pontos. No auge da Bolha, um impressionante número de 250 empresas virtuais abriram seu capital.

O estouro da Bolha ocorreu entre 2000 e 2001, depois que investidores constataram que os níveis de lucratividade projetados anos antes não se realizariam. Diversas empresas faliram, outras perderam boa parte de seu capital. Poucas empresas saíram ilesas da crise.

Após a Bolha da Internet a vida das empresas ponto com ficou mais difícil. Racionalizar a administração em busca da eficiência virou um mantra. “Até aquele momento, eu só tinha visto Jeff Bezos trabalhar em uma velocidade: a velocidade frenética do crescimento a todo custo. Eu nunca tinha o visto trabalhar com foco na rentabilidade e na eficiência”, diz Scott Cook, na época membro da diretoria da Amazon.

Não só os gestores, mas também os investidores tornaram-se mais céticos em relação as empresas da internet. Peter Lynch, argumenta que “… é enganoso medir o progresso dessas ações (das empresas ponto com durante a Bolha da Internet) a partir do preço de oferta, o qual a maioria dos compradores não consegue alcançar. Faz sentido investir em uma empres ponto com quando seus preços já refletem anos de crescimento com lucro rápido, que pode ou não ocorrer?” De fato, o argumento de Peter Lynch permite uma boa reflexão.

Empresas como Ebay e Amazon não pereceram à crise. Elas se mostraram muito superior às outras empresas virtuais por reconhecerem que a experiência do cliente era essencial e é por isso que elas existem hoje. Essas empresas usaram a internet mais do que só vender coisas. “Os sobreviventes só sobreviveram por que tinham um profundo entendimento e um foco inteiramente voltado aos seus clientes” diz John Doerr, famoso investidor do Vale do Silício.

Andy Grove, fundador da Intel vai além. Para ele as empresas ponto com prestaram um serviço inestimável ao meter medo em empresas “de cimento e tijolo”, obrigando-as a levar a web a sério, para se tornarem empresas virtuais quase à sua vontade. É o mais puro exemplo da destruição criativa, proposta por Joseph Schumpeter.                               

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*Silvio Dória  Graduando em administração pela FEA/USP Editor da Markets St.

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