Benito Salomão
O IPCA de janeiro divulgado pelo IBGE trouxe um preocupante problema para as autoridades brasileiras. A despeito das projeções do mercado que previam algo próximo a 0,94%, o número surpreendeu e fechou em 1,27%, maior com isto do que janeiro do ano passado (1,24%) quando houve todo um processo de liberação de preços administrados antes represados por uma política econômica rudimentar e irresponsável.
A inflação é o grande problema moral de nosso tempo, uma vez que afeta a população desempregada e também empregada na sociedade. Não por acaso, são grandes os esforços do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional em recomendar políticas de estabilização, sobretudo para países emergentes.
São muitos os diagnósticos sobre inflação, todos eles com um fundo de realidade: há quem defenda que a inflação é causada majoritariamente por um choque de custos na economia que transmite para os preços uma combinação de desvalorização do câmbio com elevação dos salários acima da produtividade, há quem defenda ainda que ela esteja sendo causada devido ao desequilíbrio fiscal com crescimento do componente da demanda pública (responsável por quase 40% do total da demanda nacional) muito acima do PIB, há quem defenda ainda que a inflação do presente é carregamento do populismo monetário experimentado entre 2011 e 2013.
Estas explicações encontram evidências nos fatos e o fascínio da economia está em atribuir muitas causas ao mesmo fenômeno. Hoje gostaria de propor um novo olhar sobre a inflação brasileira, um pouco afastado das explicações macro e que tem passado despercebido por parte relevante dos economistas.
A microeconomia é a fundamentação de toda a ciência econômica, quem a ignora corre um sério risco de alimentar sofismas. Ela nos ensina que o preço é um elemento chave em uma economia de mercado, pois sinaliza, a depender da estrutura de mercado, abundância ou escassez de um determinado recurso.
Em estruturas de mercado mais concorrenciais, produtores e consumidores não tem poder de influenciar os preços de determinada mercadoria sob pena de serem eliminados do mercado. Os economistas que arquitetaram o Plano Real sabiam disso, e por isso o casamento de abertura econômica com câmbio valorizado permitiu que a concorrência das importações segurasse os preços da produção doméstica.
Paralelamente, temos estruturas de mercados mais inclinadas a monopólios ou oligopólios, caracterizadas por um ou poucos produtores abastecendo todo o mercado de determinado bem. Por se tratar de uma relação de troca desigual, monopolistas e oligopolistas possuem poder de estabelecer preços acima dos preços concorrenciais, e com isto capturam excedentes (renda) dos consumidores, ou seja, um processo de monopolização é um canal de concentração de renda via elevação de preços.
Concluímos portanto, que a inflação não voltará à meta a menos que seja adotada uma política macro excessivamente contracionista, isto por que seu fundamento é micro. O Brasil viveu entre 2007-14 uma fase de monopolização da nossa economia calcada em setores de bens de consumo corrente como alimentos, bebidas, papel entre outros que passaram a ter 1 ou 2 empresas responsáveis pelo abastecimento de mais de 80% do mercado nacional, tudo isso com o consentimento jurídico do CADE e com generosos financiamentos subsidiados do BNDES. Reduzir a inflação passa por desfazer este imbróglio.
Benito Salomão
Economista, vinculado ao PPGE UFU
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