Fonte: Revista The Economist[/caption]
Acabou o suspense. Na noite desta segunda-feira, a S&P cortou o rating soberano do Brasil de BBB para BBB-. A nota atual é a última escala do “grau de investimento”, isto é, caso haja novo corte de um degrau, somos considerados junk – títulos especulativos (como fomos considerados por muito tempo). Cabe ressaltar que essa possibilidade é baixa, considerando o fato da nota atual ter perspectiva “estável”. As notas atribuídas pelas agências de rating, como é o caso da S&P, servem de termômetro para a situação creditícia de cada nação. Em outras palavras, quanto maior é o risco percebido pelas agências de risco de calote financeiro, menor é a nota concedida ao país analisado. É a velha lei do risco-retorno: o governo deve pagar taxas maiores aos investidores para compensar esse risco adicional que ele está incorrendo.
Mas passado o dia de hoje, fica a pergunta: por que afinal as taxas de juros não subiram com a noticia de ontem? Qual o motivo da bolsa ter subido (+0,39%) após essa notícia bombástica? E o dólar que caiu (-0,70%)? Aqui entra um conceito fundamental no mundo financeiro e também da esfera econômica: as expectativas. O debate sobre a retirada do rating já estava sendo realizado há pelo menos seis meses, e desde então a percepção de risco dos investidores (principalmente estrangeiros) já havia se modificado, e dessa forma já havia sido incorporado aos preços. Vamos ver a evolução dos EMBI + Risco-Brasil, que é um índice baseado nos bônus (títulos de dívida) emitidos pelos países emergentes comparativamente ao tesouro americano.
[caption id="attachment_175" align="aligncenter" width="478"]Esse é o motivo que muitos especialistas (no quê, mesmo?) dizem que certas informações já estão incorporadas ao preço. Quando uma empresa relata o seu lucro no período, os investidores não vão olhar simplesmente o numero; na realidade, eles vão comparar o lucro realizado com o projetado. Caso haja grandes diferenças entre previsão e o divulgado, os preços das ações devem sofrer consideráveis mudanças. Caso o informado pela empresa esteja em linha com o estimado, não haverá qualquer modificação no preço das ações, uma vez que essa informação já estava incorporada ao preço. A mesma ideia pode ser aplicada ao caso do rating brasileiro.
Muitos mencionam que, após a crise financeira de 2008, as agências de risco haviam perdido credibilidade por ter atribuído notas elevadas de qualidade de crédito a ativos que posteriormente se relevaram muito arriscados, como foi o caso dos títulos subprime. Contudo, como vimos, os agentes econômicos ainda consideram as opiniões das agências e seus relatórios seguem causando grande alvoroço nos mercados. Sim, as agências precificaram mal o risco na época da crise. Contudo, o mercado também falhou em mensurar por si próprio o risco que estava comprando. Ou seja, houve um esquecimento geral do fato do rating ser uma opinião, e não uma certeza absoluta.
A mudança no rating causa maiores preocupações com os que trabalham em setores relacionados com risco de crédito em grandes bancos, do que com a dona Maria, que está mais preocupada com a lista de compras do mês de abril. No entanto, amplifica a discussão dos rumos e os impactos causados pelas decisões tomadas pelo atual governo relacionadas às questões econômicas, direções essas, que podem muito bem prejudicar o planejamento da lista de julho da mesma dona Maria.