O ano de 2019 já chegou e com ele a expectativas de finalmente aprofundarmos a agenda de reformas. Finalmente chegou o momento de termos o encontro com a consistência intertemporal, de pagar a dívida que já deixamos para as próximas gerações.
A incansável e inglória tarefa dos economistas, que se transformaram nos “Cavaleiros que dizem Reforma da Previdência[1]“, deverá se intensificar esse ano e nos próximos, dado que existe uma agenda econômica robusta, complexa e necessária proposta pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes. Não entenda mal, foi e é muito importante esse grande looping no debate econômico tratando da reforma, para que a população e o governo entenda de uma vez por todas a sua urgência.
Coberto pelo manto da legitimidade, concedida pelas urnas, Bolsonaro deverá ter seu timer acionado ou acelerado tão longo o recesso dos congressistas terminar, em fevereiro.
Até agora tivemos infinitos sinais de como será a tal reforma, podendo o leitor escolher qualquer um deles para angariar críticas e elogios, o que tem dificultado o trabalho de quem analisa a situação. A cada instante um membro do governo apresenta um conteúdo diferente, por vezes sobrepondo o que foi dito pelo anterior.
Será a Reforma do Temer? A do Paulo Guedes? A do Onyx? Ou a de Bolsonaro?
Felizmente o assunto já foi exaustivamente discutido pelo menos desde 2016 (ou melhor, desde a década de 90) e terá seu raio-X feito rapidamente quando for divulgada, tendo suas qualidades e fragilidades expostas.
O governo Bolsonaro só poderá atingir o sucesso necessariamente cumprido a pauta econômica, e não a de “costumes”. Carregada de uma desaceleração e crise econômica desde 2012, a população anseia pela “nova era”, ainda que por vezes atacando os espantalhos errados. Deve-se aproveitar para arrumar a telha da casa enquanto há algum “sol internacional” batendo.
É necessário manter o governo pressionado quanto à necessidade das reformas e ajustes, até para fortalecer o ministro perante os demais membros da equipe do presidente. Felizmente, mesmo não demonstrando ter a máxima convicção nas propostas, Bolsonaro entendeu que seu sono depende do sucesso no período chamado de “lua de mel”. O casamento com o país, com os mercados, já foi realizado, agora é tempo de ser fiel aos votos feitos durante a saga das eleições.
Ainda assim é importante permanecer vigilante para que quando aprovado alguma Reforma da Previdência, o presidente não deite em berço esplêndido, dado que a agenda de crescimento e produtividade é muito mais extensa e importante quando se pensa no país para daqui alguns anos. Felizmente vários pontapés foram dados durante o governo Temer e diversos membros dessa agenda permanecem ativos em Brasília.
Encerro aqui com uma reflexão do economista Marcos Troyjo, hoje secretário Especial do Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do governo:
“Embora todos esses anacronismos no plano das ideias e das políticas públicas estejam se fossilizando rapidamente, eles não desaparecerão de forma silenciosa. Esta última milha que o Brasil tem de percorrer para deixar o século 20 para trás comportará embates políticos bem ruidosos. A disputa aqui é entre a economia política cartorial e uma sociedade aberta de capitalismo concorrencial, cuja liderança política ainda haverá de consolidar-se. É desse embate que o país depende para, finalmente, adentrar o século 21 como revigorada fênix.” (Troyjo, 2015)
Será Bolsonaro essa liderança? Ainda é cedo para dizer, mas o fato é que chegou a hora da onça beber água.
Editor do Terraço Econômico
[1] Referência aos Cavaleiros Que Dizem Ni (Knights Who Say “Ni”), do Monty Python