Cadastro Positivo: boas notas de crédito e empréstimos mais baratos?

O Cadastro Positivo está aí, saiba mais sobre como ele funciona.

Parece que agora vai: o Banco Central acaba de dar o passo que faltava na implantação do Cadastro Positivo. Ou seja, poderão ser atribuídas notas de crédito aos cidadãos, mas o que isso mudará na sua vida e como é possível ter uma boa nota?

O que é nota de crédito?

A nota de crédito (credit score) é um conceito pouco conhecido no Brasil, mas que funciona faz tempo em outras partes do mundo. O Brasil, aliás, é o último país do G20 a adotar o sistema. Me mudei para os EUA há 8 anos e, no começo, também não entendia muito bem como essa nota funcionava, para que ela servia e como fazer para ser uma “boa aluna”, contudo, o conceito é simples!

A nota de crédito nada mais é do que uma fórmula matemática que tem como objetivo, a partir do seu histórico de crédito, atribuir um número que represente a sua confiabilidade como emprestador. Em outras palavras, a chance de você dar um “calote”. Nos EUA essa nota varia entre 300 e 850, sendo que a média da população é de 704. Quem é um “mau aluno” de crédito (e tem nota abaixo de 580) acaba tendo dificuldade de conseguir novos empréstimos ou irá pagar juros mais altos por isso. Já quem tem notas acima de 750, conseguirá condições melhores de financiamento. Justo.

Isso significa que cada vez que você pagar uma conta em dia, ou mesmo quando ficar longe do limite nos seus cartões de crédito, a sua nota irá aumentar. Cada empresa que administra esse banco de dados (o BC acaba de autorizar 4 dessas gestoras, Serasa, Quod, Boa Vista Serviços e CNDL-Brasil) desenvolve a sua própria fórmula. Em geral, todas elas consideram contas pagas em dia, percentual do crédito usado pela pessoa em função do total de crédito que ela tem disponível, longevidade do histórico de crédito e mix de crédito (cartões, financiamento imobiliário, financiamento automotivo, cheque especial, contas de água, luz etc) que quanto mais variado, melhor!

Mas e o cadastro negativo?

É bom ressaltar que o cadastro negativo, ou seja o seu histórico de calote, já existe no Brasil faz tempo. Quem deixa de pagar uma conta corre o risco de ter seu nome incluído na lista de maus pagadores do Serasa ou do SPC. A novidade agora é que o bom comportamento também vai contar pontos.

Na verdade, o cadastro positivo também já existe desde 2011, mas antes, para entrar no banco de dados cada pessoa tinha que autorizar a sua inclusão no sistema. Como ninguém gosta de enfrentar “burocracia”, a adesão foi baixa. A partir de agora a lógica será inversa, ou seja, todo mundo vai estar no cadastro positivo, a não ser que peça para sair.

Com isso, pela primeira vez no Brasil, teremos um banco de dados robusto de histórico de crédito. Isso irá facilitar a vida das financeiras, especialmente daquelas menores e que antes não tinham como confiar em tomadores de empréstimos específicos

Por que essa modernização demorou tanto?

Um dos motivos que atrasou a implementação desse sistema no Brasil é a concentração bancária: a maioria das pessoas concentra seu histórico de crédito em uma única instituição financeira, em geral, o seu banco pessoal. Com isso, os grandes bancos já têm acesso ao histórico de pagamento dos seus clientes. Porém, como essas informações não podiam ser compartilhadas com outras instituições, o cliente acabava ficando “refém” do banco que, por sua vez, não tinha incentivos para lhe oferecer juros mais competitivos, uma vez que fora, as condições tendiam a ser ainda piores. É por isso que outro efeito positivo da implantação do cadastro positivo é facilitar o acesso a empréstimo a pessoas mais pobres e que estão fora das instituições bancárias.

Nos países em que esse modelo já funciona faz tempo, várias fintechs estão desenvolvendo seus próprios algoritmos com ajuda de big data, inteligência artificial e até deslocamento geográfico. Hoje, muito do nosso comportamento (a hora que acordamos, por onde passamos, de onde pedimos comida, que aplicativos usamos com mais frequência) está registrado nos celulares e essas informações (caso o usuário autorize, claro) podem ser utilizadas por uma financeira para avaliar de maneira ainda mais precisa o risco de crédito de cada indivíduo. Quanto mais precisa a avaliação de risco, menores tendem a ser os juros para os “bem comportados”.

Como vocês podem imaginar, o grande problema dessa novidade é a privacidade das informações, ou seja, que medidas de segurança serão tomadas na transferência dos dados entre bancos, financiadoras e gestoras, bem como o que será feito para preservar a integridade no armazenamento destes dados. Nos EUA, em 2017, a Equifax, uma das maiores gestoras de notas de crédito do país, teve seus servidores hackeados e com isso houve vazamento de dados confidenciais de milhões de cidadãos.

Mas pesando-se os riscos e os benefícios, acreditamos que o saldo seja positivo. Por aumentar a concorrência entre grandes bancos e pequenas financeiras, a tendência é que com o cadastro positivo o spread bancário e, consequentemente, as taxas de juros para empréstimos aos indivíduos caiam. Mais concorrência, juros mais baixos e mais crédito disponível! Tudo isso deve ajudar a estimular o crescimento econômico, tão necessário ao país!

Renata Velloso

Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, Renata tem muito. Logo após se formar em Administração Pública pela EAESP-FGV, trabalhou no mercado financeiro com passagem pelo Citibank, Chase e JPMorgan. Certo dia, cansada da vida boa e rica no ar condicionado, resolveu abandonar tudo para ir estudar Medicina na Unicamp, onde se formou em 2010. Atualmente, além de ser bela e recatada, trabalha com projetos de inovação na área de saúde no Vale do Silício na Califórnia e também é autora do Criando Unicórnios, um livro de empreendedorismo para jovens e adolescentes.

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