Vamos começar com o trecho inicial de uma das mais famosas canções do Angra: Nova Era.
Somehow I know
That things are gonna change
New boundaries on the way
Like never were before (…)
De alguma maneira eu sei
Que as coisas mudarão
Novas fronteiras no caminho
Como jamais estiveram (…)
Nova Era, canção lançada em 2001 no álbum Rebirth, é uma canção que não envelheceu nem um pouco, tornando-se mais atual do que nunca, vinte anos depois. A canção, que trata de modo figurado sobre o ressurgimento de anjos em um recomeço para a humanidade, poderia muito bem ser relançada trocando os “anjos” por “carros elétricos”.
Mas, por que carros elétricos? O cerne da questão está no esgotamento da indústria automobilística como conhecemos. Até mesmo no caso do Brasil, geralmente acostumado a ficar para trás quando o assunto são mudanças tecnológicas, parece que já sentiu o baque mostrando que a indústria de carros elétricos talvez possa estar mais próxima do que se imagina.
Antes dos carros elétricos um velho setor subsidiado
Antes de falar de carros elétricos, é necessário falar sobre a história da indústria automobilística no Brasil. O pioneiro nesse negócio foi a Ford, empresa responsável pela primeira fábrica de automóveis do Brasil, do histórico modelo Ford T (popularmente conhecido como Ford Bigode), criada em 1º de maio de 1919.
Após a Ford, outras empresas automotivas chegaram ao Brasil em busca de um grande mercado e também atraídas por incentivos. É que, para o Brasil, a chegada dessas empresas era algo muito interessante, dado que o setor automotivo propiciava um forte efeito de encadeamento, gerando muitos empregos. O problema é que os incentivos dados para atrair essas empresas – o apoio oferecido para a “indústria nascente” – tornaram-se em subsídios permanentes ao longo dos anos para um setor que foi envelhecendo cada vez mais rápido.
O economista Marcos Lisboa apresentou um diagnóstico, anos antes da pandemia de Covid, de como estava a situação da indústria automobilística brasileira. No vídeo, que acabou viralizando, Lisboa aponta de maneira muito direta que a profunda crise do setor automotivo foi consequência de uma abundante e irresponsável política de subsídios que acabou por minar a produtividade do setor.
De 2003 a 2019 foi concedido um total de R$62,5 bilhões em subsídios para o setor automotivo. Mesmo assim, isso não evitou que o setor experimentasse uma crise que vem desde 2014, podendo ser observada a partir da queda do envio de lucro das empresas automotivas.
Nesse contexto, a recente e tão comentada saída da Ford no Brasil é apenas um sintoma de algo bem maior.
Carros elétricos, a nova era do setor automotivo
O fechamento das fábricas da Ford no Brasil levantou muitas discussões; afinal de contas, segundo algumas estimativas, isso acarretará em mais de 10 mil trabalhadores demitidos.
Mas esse grave cenário, ainda mais complexo devido aos efeitos da Covid, talvez tenha sido mais do que apenas a ineficiência gerada por um setor historicamente subsidiado, constituindo-se no fim de uma era (a nível global). Já faz alguns anos que a Ford vem anunciando fechamentos em todo o mundo e, com a pandemia, essa situação se acirrou (situação também vivida por outras grandes montadoras).
A grande questão está no declínio da utilização de fontes de energia poluidoras, não renováveis, principalmente no caso do petróleo. Já faz alguns anos, desde a época de “frenesi” causada pela descoberta do Pré-Sal, que já estava em pauta uma intensa discussão acerca da redução na utilização do petróleo e do aumento no uso de novas fontes de energia (ditas limpas e renováveis).
Nesse cenário o carro elétrico se adapta muito bem.
O modelo de carro elétrico mais conhecido atualmente, o Tesla X, é o carro de um futuro cada vez mais próximo. A compra de um Tesla X é realizada pela internet, diretamente na fábrica, e o carro ainda conta com atualizações de maneira semelhante a um computador. O motor elétrico é de fácil manutenção e de baixo custo.
Considerando essa nova era, alguns países parecem já estar se preparando. A Finlândia, por exemplo, procura investidores para ajudá-la a construir uma nova indústria em torno de baterias para veículos elétricos na próxima meia década.
Enquanto isso, no Brasil, a saída da Ford ainda é encarada como um problema central, sendo que, na verdade, trata-se de um sintoma. É o esgotamento de um antigo (e subsidiado) modelo e o caminho de uma nova era.