Chegando ao final do segundo ano-calendário da recessão[1], fica a dúvida de como será o Brasil de amanhã. Para tentar responder à essa pergunta, lançarei mão de um exercício simples, que busca examinar na experiência internacional como os países se comportaram após longas recessões.
Por longa recessão, estabeleci arbitrariamente o critério de pelo menos 2 anos consecutivos de retração do PIB, para enquadrar a realidade brasileira atual. A curiosidade do exercício é verificar quanto a média de crescimento dos próximos 10 anos após o período de recessão é inferior aos crescimentos médios dos 10 anos imediatamente anteriores a recessão, conforme esquema abaixo:
A avaliação será medida em pontos percentuais (p.p), de modo que se nos 10 anos anteriores à crise o país crescia em média, anualmente, 5% e nos 10 anos seguintes cresceu 2,5%, temos uma diferença de 2,5p.p. Tudo muito simples.
Pois bem, com a base de dados do Banco Mundial coletei a série do crescimento do PIB de 124 países no período entre 1961 e 2015. Durante este período, foi verificado que dos 127 países, 89 já sofreram uma longa recessão de 2 anos (ou 71,7% do total). Abaixo, apresento a tabela contendo todos os países utilizados na amostra.
Foi avaliado o desempenho dos países de forma agrupada: países de renda alta contra países de renda média e baixa; e países emergentes contra avançados.
Pois bem, os dados nos contaram que, na média[2], a expansão do PIB nos dez anos após o episódio recessivo foi 1,11 p.p. menor nestes 89 países. Quando abrimos os grupos, é notável ver que os países de média e baixa renda apresentam perda de crescimento maior do que os de renda alta, sendo a mesma situação replicada para os países emergentes frente os avançados. A segregação dos países seguiu os critérios do Banco Mundial (ver aqui) e do FMI (ver aqui). No gráfico abaixo podemos verificar a magnitude do menor crescimento após esses episódios.
[caption id="attachment_8217" align="aligncenter" width="569"]Há diversos fatores que impactam no menor crescimento, dentre eles o forte impacto no estoque de capital e no fluxo de investimento que os países sofrem durante crises, determinantes para um menor crescimento de longo prazo. Além disto, frequentemente crises são precedidas de período de abundâncias e exageros, quando o PIB cresce acima do seu potencial, estimulado por alguma medida do governo, como o caso dos países emergentes, o que eleva a base de comparação do período pré-crise. Outro ponto importante é o arranjo macroeconômico e institucional nos países avançados (ou de elevada renda) é maior e melhor do que os demais países, encurtando os efeitos recessivos (não à toa a própria taxa de recuo do PIB durante a recessão é menor nestes países).
Assim, extrapolando a experiência internacional para o caso brasileiro, sem muita mágica, é possível afirmar que cresceremos menos após essa longa recessão. Mesmo com a aprovação da PEC 55. Não teremos mais um cenário externo tão favorável como antes e estaremos repletos de problemas domésticos para resolver. Apenas a título de curiosidade, munido das projeções do Boletim Focus, pode-se projetar que o PIB brasileiro atingirá o nível de 2014 (o seu pico histórico) apenas em 2020.
[caption id="attachment_8216" align="aligncenter" width="569"]Essas evidências têm uma mensagem importante e muito clara: a consequência da recessão atual será um grande desaquecimento no processo de redução da pobreza e da desigualdade. Não se iludam, a melhor política social que um país pode fazer para reduzir estes dois carmas é uma só: crescimento econômico, coisa que será bem tímida no Brasil por um tempo.
Por fim, caso tenhamos algum crescimento surpreendente à frente, será em grande medida puxado apenas pela ocupação da capacidade ociosa, situação que já tratei no artigo “O futuro do crescimento brasileiro”, de modo que a estimativa tratada aqui não será anulada, pois grande parte dos países passaram pela mesma situação.
Editor Terraço Econômico
[1] A recessão iniciou-se em 2014, mas em termos de queda de PIB anual, apenas em 2015.
[2] E aqui eu trato de média simples. Por outro lado, caso utilizasse a média ponderada pelos pesos dos países não teria resultado tão diferente, visto que apenas 16 países mostraram desempenho superior no período pós crise, todos eles de baixa renda.