Curva de juros americana em 3D

Os conceitos de curva de juros e do valor do dinheiro no tempo foram consistentemente trabalhados nesse espaço em diversas oportunidades. Já fizemos também análises sobre o cenário no mínimo exótico de taxas de juros negativas nos países desenvolvidos, onde a injeção maciça de liquidez (através de programas de quantitative easing) leva o mundo para águas nunca antes navegadas. Mais recentemente, tratamos da reversão gradual desses programas, tanto pelo FED (Federal Reserve, o banco central Estados Unidos), quanto pelo ECB (European Central Bank, o banco central da União Europeia).

Na prática, o FED vem elevando as taxas básicas de juros no curto e no longo prazo, após um longo período de taxas muito próximas a zero. Nos mercados internacionais, esse é o assunto do momento. Até onde a taxa de juros americana pode chegar? Quantas altas ainda teremos? A inflação pode acelerar? Diversas questões estão sobre a mesa. Contudo, há uma razoável certeza em torno de um ponto: as taxas de juros irão continuar subindo.


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Podemos observar, na figura abaixo, que nos últimos anos as taxas americanas de curto prazo vêm apresentando altas significativas, enquanto as taxas de juros de longo prazo sobem mais suavemente. Em meados de junho de 2017, as taxas de até 1 ano flutuavam na casa de 1%. Hoje, operam entre 2% e 2,5%, com a as taxas de vencimentos mais longos ancoradas nas casa dos 3%.

Note que interpolamos diversas curvas, cada uma para um determinado mês. Não seria mais fácil que estas curvas estivessem representadas para todos os meses disponíveis, em um contínuo, através do qual pudéssemos enxergar toda a história muito mais claramente? Como já mostramos, essa visualização é possível: trata-se da curva de juros em 3D, que fizemos para economia brasileira na ocasião. No referido texto, ensinamos ao leitor como construir esse gráfico no software R. Para fazer o gráfico com os dados dos juros americanos, basta rodar o mesmo código, mas substituir o arquivo do eixo z por este e o dos eixos x e y por este.

A figura em três dimensões revela que a curva dos EUA, apesar de toda a volatilidade durante a grande crise, tem por essência ser estável e permanecer em patamares baixos. Está claro, também, que a política de taxas curtas muito próximas de zero vigorou até o final de 2015, enquanto que o quantitative easing parece ter atingido o auge de seus efeitos em meados 2016, quando as taxas longas estavam em níveis muito reduzidos.

Desde então, as taxas vêm em uma trajetória ascendente fulminante, casada com o período de expansão do PIB americano, com taxas mínimas de desemprego e inflação controlada. Isto demonstra que, de fato, o aperto monetário foi necessário. Agora, resta saber onde a economia americana irá parar, pois, se olharmos para trás, percebemos que o caminho foi longo e muito duro.

Uma coisa que chama a atenção, por exemplo, é como a diferença entre as taxas curtas e longas está se estreitando. Curvas muito achatadas costumam sinalizar problemas pela frente: mostram que os investidores não confiam que haverá crescimento sustentado nos próximos anos. Taxas longas semelhantes às curtas costumam significar que, no futuro, espera-se que a inflação não estará pressionada por forte crescimento. Os prognósticos pioram se a curva se inverter e as taxas longas ultrapassarem as curtas. Desde a Segunda Guerra Mundial, todas as vezes em que isso aconteceu, uma grande recessão veio em seguida. Veja por você mesmo: o ano de 2006 e o início de 2007 da curva 3D mostram a inversão que ocorreu pouco antes da crise financeira internacional.

Existem possíveis explicações bem menos catastróficas para o formato atual da curva, como a ancoragem das taxas longas conquistada ao longo de vários anos com o quantitative easing. Mas esse assunto fica para um próximo post.

Talitha Speranza e Pedro Lula Mota Editores do Terraço Econômico
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