Desemprego volta ao mesmo nível de 2014 apenas em 2020

Na semana passada foram divulgados dados importantes do mercado de trabalho brasileiro, que mostraram um cenário de continuidade de deterioração do emprego. A Pnad Contínua do IBGE mostrou que a taxa de desemprego continuou subindo, de 11,8% no trimestre encerrado em outubro para 11,9% no trimestre finalizado em novembro. Ao todo, 12,1 milhões de pessoas se encontram desocupadas.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, por sua vez, mostrou que em novembro o país perdeu 116,7 mil vagas formais. No acumulado dos 12 últimos meses, o saldo líquido de criação de vagas de emprego com carteira assinada é de -1,47 milhão. Desde 2015, foram destruídos cerca de 2,4 milhões de empregos formais.

Em relação à divulgação da Pnad, após uma forte desaceleração da procura por emprego nos últimos meses, o crescimento da população economicamente ativa (PEA) voltou a acelerar em novembro, de 0,5% para 1,1%, e foi o responsável pelo leve aumento da taxa de desemprego no período, como é possível ver no Quadro 1. Vale destacar que o resultado positivo da divulgação foi a desaceleração do ritmo de queda do pessoal ocupado (PO), também no Quadro 1. No trimestre encerrado em outubro, a queda do pessoal ocupado havia sido a maior registrada pela série, de 2,6%. Agora em novembro, a taxa reduziu para -2,1%, refletindo o aumento do emprego informal e a desaceleração do ritmo de queda do emprego por conta própria.

Quadro 1 – Variação (%) anual da PEA e do PO

Fonte: Pnad Contínua/IBGE. Elaboração: GO Associados

Entretanto, ainda deve demorar algum tempo para que a taxa de desemprego se estabilize. Para isto, é necessário que o crescimento do pessoal ocupado seja pelo menos igual ao crescimento da população economicamente ativa. Mas, isto deverá ocorrer apenas no terceiro trimestre de 2017, quando a taxa de desemprego, com ajuste sazonal atingir cerca de 13,1%, como pode ser visto no Quadro 2.

Quadro 2 – Taxa de desemprego (%)

Fonte: Pnad Contínua/IBGE. Projeção e elaboração: GO Associados

Faltando apenas o dado de dezembro, a expectativa é que o ano de 2016 feche com uma taxa média de desemprego de 11,4%, um aumento de 2,9 ponto percentual acima da taxa média registrada em 2015, de 8,5%. Para 2017, a taxa média de desemprego deve alcançar 13%, uma alta de 1,6 ponto em relação à taxa deste ano. Apesar do desemprego voltar a cair em 2018, a projeção é que apenas em 2020 a taxa média de desemprego caia abaixo de 10%.

Quadro 3 – Taxa média de desemprego (%)

Fonte: Pnad Contínua/IBGE. Projeção e elaboração: GO Associados

Em relação aos dados do Caged, estes devem mostrar uma situação parecida. O biênio 2015/16 deve mostrar a destruição de 2,9 milhões de vagas de emprego formal, e apenas em 2020, ou seja, em quatro anos, o país deverá recuperar tais empregos perdidos. Mas, como no período de 2015 a 2020, a população economicamente ativa terá aumentado em mais de 7 milhões de pessoas, apenas a recomposição das vagas perdidas está longe de ser suficiente para absorver todo esse estoque de pessoas, o que corrobora com a percepção que o desemprego se manterá bastante elevado nos próximos anos.

Quadro 4 – Projeção estoque de empregos CLT (em milhares)

Fonte: Caged/MTE. Projeção e elaboração: GO Associados

É obvio que caso a economia apresente uma recuperação muito mais intensa do que a esperada atualmente, o mercado de trabalho apresentará números melhores em um prazo mais curto. Mas, não é razoável esperar que até 2018 a situação já terá se revertido. Para isso, a economia deveria crescer cerca de 7% no acumulado de 2017 e 2018, o que hoje parece pouco provável.

Sendo assim, não resta dúvida que o maior desafio do Governo Temer, mesmo com uma recuperação da atividade esperada a partir de 2017, será o de continuar aprovando as reformas de ajuste da economia, com uma popularidade muito baixa, dado que o índice de desemprego se manterá elevado até o fim do seu mandato.

Luiz Castelli é Economista formado pela FEA/USP com mestrado pela FEA/USP Economista da GO Associados | Parceira do Terraço Econômico

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