O diálogo a seguir é estritamente fictício, porém, foi inspirado na leitura do texto para discussão de Mauro Boianovsky e Leonardo Monasterio, intitulado “O Encontro Entre Douglass North e Celso Furtado em 1961: visões alternativas sobre a economia nordestina”.
Após horas de reuniões, Douglass North e Celso Furtado decidem “jogar conversa fora” num dos bares da cidade de Recife. Assim que se acomodam na mesa mais próxima da porta, um jovem garçom se aproxima:
Garçom: (com lápis e caderneta em mãos) Qual o pedido dos senhores?
Furtado: Uma caipirinha, por favor.
North: I’ll have what he’s having, better safe than sorry.
Furtado: Uma caipirinha garoto, ele não fala português.
Garçom: Outro americano pomposo, Sr. Furtado? (risos) Algum aperitivo?
Furtado: (dirigindo-se à North) Food?
North: I’ll pass.
Furtado: Por enquanto é isso, garoto.
Garçom: Maravilha!
North: I hope this drink tastes good. It’ll be better than what I used to have during the war, that’s for sure.
Furtado: E será, meu caro. Será.
North: Your country has quite a few magnificent views (olhando pela janela). Your students need more economic theory, by the way. You know, just a basic grasp of it. Speaking good English wouldn’t hurt either.
Furtado: Por que diz isso, Douglass? Não vejo como estamos devendo algo nesse sentido.
North: My fellow Celso, this CEPAL influence may not be good for young Brazilian economists. There’s too much central planning going on here. The industry is not an answer for everything, consider eletricity costs or the characteristics of northeastern people, unemployed, underemployed, they’re not even properly trained.
Furtado: Entendo perfeitamente, Douglass. Compreendo o que diz sobre os nossos planos.
North: (aparentemente desconfiado) Really?
Furtado: Estou considerando suas observações a respeito da imigração, infraestrutura. Observações valiosas, serão importantes para a minha visita a Washington.
North: (pensando consigo mesmo: I hope this leftist is not trying to con me) Excellent! Nothing personal, Celso. Northeastern people deserve their own prosperity, look at São Paulo! That city is better than Chicago, for God’s sake! Also, good luck with JFK’s stance on Latin America. If it was up to me, I’d give him a good swift boot in the pants.
Furtado: Os americanos são entusiastas do progresso nordestino, reconheço. Contudo, nosso plano foi suficientemente elaborado. Não estamos dispostos a realizar grandes alterações.
North: (olhando para o garçom que se aproximava) I have good memories of this particular drink, Roberto Campos recommended it.
Furtado: (em silêncio)
North: Brazil’s aestethic sense is overwhelming, I have to admit. However, there’s too much control, too much regulation. That’s where you falter, so much disregard for reasonable costs and economic efficiency. Heed my advice, Celso.
Furtado: Você não é o primeiro, tampouco o último. Douglass, compreender as raízes dos nossos problemas econômicos não é uma tarefa qualquer.
North: (lentamente devolvendo o copo à mesa) I certainly agree, Celso. It’s never so simple, is it?
Furtado: O desenvolvimento econômico do Nordeste passa pelos caminhos da industrialização, absorvendo o excesso de força de trabalho e combinando recursos. Estamos seguros que esse é o caminho a ser tomado.
North: I’m not so confident, Celso. Have you looked at the regional market? Who’s boosting consumption? These people are not educated, even basic resources are lacking. Food is a non-factor, contrary to your Ricardian delusion. You have a problem of over-population too. This is not an industrial area!
Furtado: (transparecendo a calma costumeira) A migração é um tema delicado, Douglass. Pode causar problemas políticos, arriscar com uma percepção de estar abandonando o Nordeste. Nosso plano tratará dessa questão, lhe garanto. Creio que os alimentos são um ponto relevante, mesmo ouvindo sua opinião.
North: Don’t forget land reform while you’re at it. Also, I can’t stress this enough, education matters. It deserves more attention in your plans, please. This will be part of my reports.
Furtado: (pensando consigo mesmo: a propaganda americana pouco se preocupa com resultados efetivos) Entendo.
North: (pensando consigo mesmo: promoting individual freedom in Brazil is not for the faint-hearted, poor Gudin. I don’t even want to get started on institutions…)
(O garçom se aproxima da mesa, antecipando um novo pedido. A conversa continua.)
Obrigado pelo texto, Paulo. Fico bem legal.
O texto final foi publicado na RBE:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbe/article/view/72601
Abraços,
Eu que agradeço, Leo! Abraço!