Mais do que uma simples “modinha”, o ramo da economia comportamental passou a chamar a atenção por sua conexão com o lado prático dos chamados agentes econômicos. Richard Thaler, em Nudge, obra escrita em parceria com Cass Sunstein, aborda a questão das escolhas equivocadas dentro do conceito mais amplo de arquitetura de escolhas: um simples erro de análise, muitas vezes movido por algum preconceito, pode fazer com que percamos a perspectiva racional e passemos a escolher caminhos que apenas nos prejudicam. Portanto, pretendo introduzir alguns temas tradicionais da economia comportamental ao longo deste artigo.
A linhagem da economia comportamental
Em 2017, o anúncio do prêmio Nobel trouxe do mesmo Richard Thaler, já era o quarto acadêmico advindo dessa linha de pesquisa agraciado com a láurea, sucedendo Herbert Simon (1978) e sua com a teoria da racionalidade limitada, Daniel Kahneman (2002), com os vieses de heurística e teoria da perspectiva, além de Robert Shiller (2013) e seu trabalho em finanças comportamentais.
Nudge e teoria da perspectiva: conceitos introdutórios
Exemplos são um jeito simples e fácil para compreender um nudge (ou empurrãozinho, numa tradução aproximada). Pensando na disposição da comida numa cantina escolar, é mais fácil os alunos fazerem escolhas saudáveis se esses alimentos estiverem disponíveis. A decisão continua sendo deles, mas as condições para que decidam melhor foram propiciadas. De modo análogo, o simples e clássico experimento de desenho de mosca nos sanitários masculinos, iniciada no aeroporto de Schipol, em Amsterdã, interfere em questões variadas como hábitos de higiene e até de saúde pública. Dar um “empurrãozinho” em direção a um melhor pool de opções faz efeito para a escolha final.
Governos e empresas, mas também pais, professores e médicos, tornam-se uma espécie de “arquitetos de escolha”. Por meio de estímulos conscientes e, em muitas ocasiões, invisíveis, com reduzidos custos econômicos e políticos, pessoas e instituições privadas ou públicas podem obter grandes conquistas em relação à saúde pública, às finanças ou à luta pela desigualdade. O governo britânico, por exemplo, é pioneiro no uso de laboratórios de criação e análise de nudges como formas de política pública e institucional: pequenos estímulos, comprovadamente, podem fazer toda a diferença.
Já a teoria da perspectiva de Kahneman (e seu grande parceiro acadêmico, o finado Amos Tversky), aponta com destaque para a tese de aversão à perda, uma característica intrínseca à todo agente econômico. A principal preocupação destes seria minimizar as perdas, ainda que em detrimento da satisfação com os ganhos. Os autores chegam a quantificar esse fenômeno, concluindo que a sensação de dor provocada pela perda monetária equivale a 2,5 vezes a sensação de prazer associado a um ganho em valor equivalente.
Os chamados vieses de heurística, como a aversão à perda, ou um nudge, já estão devidamente consagrados na literatura da ciência econômica. Assim, demonstram que ao invés de uma simples onda ou moda passageira, o campo da economia comportamental e suas aplicações vieram como um um aperfeiçoamento definitivo ao estudo da economia e finanças. É por esse motivo que explorarei mais dessas contribuições em artigos futuros.