Calma, leitor! Todos aqui do Terraço gostariam que a economia brasileira fosse como a japonesa. Referimo-nos agora aos discursos oficiais que já começam a indicar um possível aumento de tributos em 2017 para fechar as contas públicas.
E o que o Japão tem a ver com isso? Ele nos oferece um exemplo de como o aumento de impostos em um período de incipiente recuperação econômica pode trazer efeitos deletérios e adiar a retomada econômica.
Um breve histórico: desde a década de 90 o Japão vem apresentando um desempenho econômico bem baixo, com crescimento praticamente zero e deflação. Para tentar reverter essa estagnação, o governo japonês lançou mão de políticas fiscal e monetária expansionistas em 2012. Tudo parecia que ia bem, mas o governo resolveu que precisava elevar os impostos e aumentou a alíquota do imposto sobre consumo em 3%. O resultado? Nos gráficos abaixo explicamos:
1. PIB
[caption id="attachment_9258" align="aligncenter" width="1391"]Após alguns trimestres de instabilidade, parecia que o PIB japonês estava reagindo às políticas expansionistas. Apesar dos altos e baixos, típicos de medições por trimestre sem ajuste sazonal, na média, o Japão vinha crescendo 0,3% por trimestre. Isso significa uma taxa anualizada de 1,2%. Nada mal para uma economia que estava acostumada com a estagnação ou crescimento negativo.
Até que o governo japonês, em forte contradição com sua política expansionista tanto no front fiscal quanto no monetário, anunciou que o imposto sobre o consumo subiria de 5% para 8%. Resultado? No 1º trimestre de 2014 a economia reagiu, já que as pessoas anteciparam o consumo antes de a nova alíquota entrar em vigor. No trimestre seguinte, queda do PIB. A partir de então, o crescimento do PIB japonês ficou em média em 0,1% por trimestre – uma taxa anualizada de 0,04% ao ano. “Brutal” diferença!
2. Produção Industrial e Vendas no Varejo
[caption id="attachment_9259" align="aligncenter" width="1391"]É notável que os dados de Produção Industrial e Consumo no Varejo corroboram o que vimos no caso do PIB japonês.
Após o aumento da alíquota de imposto sobre consumo, a produção industrial e as vendas no varejo despencaram. Natural reação dos agentes econômicos nipônicos. Ou de qualquer outra nacionalidade.
Voltando para as terras tupiniquins.
Se o Brasil já está em uma recuperação econômica, é difícil de dizer (saberemos com certeza somente em junho, com os dados oficias do IBGE sobre o PIB do primeiro trimestre de 2017, enquanto isso vamos monitorando outros indicadores), mas a ideia de aumentar impostos em um momento delicado não parece muito boa. Especialmente se mal realizado.
Os efeitos colaterais podem ser maléficos, como vimos no caso do Japão. A reação dos agentes, no caso de um aumento generalizado de tributos, como o imposto sobre consumo, pode levar a economia a ter um repique e voltar a cair, ou se retrair mais ainda.
Desta vez não queremos ser o Japão.