Fundos de investimento em índices: o futuro do mercado financeiro

“A maioria dos investidores, tanto institucionais como individuais, verá que a melhor maneira de possuir ações é através de um fundo de índice que cobra taxas mínimas. ”

Warren Buffet

O famoso economista norte americano H. Minsky descreveu, em muitas de suas publicações, que um dos motores (da estabilidade e instabilidade) da economia capitalista é a inovação financeira[1]. O mercado financeiro é especialista em inovar e implementar eficiência.

Nesse aspecto, os fundos de investimento em índices são uma das maiores e mais bem-sucedidas inovações financeiras atuais.

Conhecidos internacionalmente como ETFs (Exchange Traded Funds), foram criados em 1993 para acompanhar a variação do índice S&P 500, sob uma estrutura de custos muito pequena. Permitem que o investidor acesse mercados, sem incorrer custos de comprar um ativo especifico.

Enquanto os fundos de investimento tradicionais possuem taxa de administração, em média, de 2% a 3%, os ETFs cobram taxas decimais, em geral de 0,3% a 0,6%. No longo prazo, a diferença na rentabilidade acumulada é substancial.

O seu maior diferencial é que podem ser comprados e vendidos como uma ação, no pregão eletrônico, por meio de uma corretora. Basicamente, cada ETF irá replicar um índice de referência de um setor, podendo ainda participar de diferentes empresas e segmentos, de forma transparente e dinâmica

ETFs no Mundo

Os ETFs são exemplo de um rápido sucesso internacional. A partir do primeiro fundo autorizado no Canadá, em 1990, o crescimento foi substancial, em especial, nos Estados Unidos, onde o primeiro fundo foi autorizado a operar pela SEC, em 1993. Por volta do ano 2000, a plataforma ganhou escala mundial e surgiram ETFs em Hong Kong e na Alemanha. Hoje, são uma realidade nos principais mercados do mundo, como Japão, Espanha, Cingapura e mercados emergentes, como o México.

A indústria global é enorme, o total de recursos em ETFs alcançou a cifra de USD 2,7 trilhões, no final de 2014.

Segundo a ICI – Investment Company Institute, alocação global é distribuída da seguinte forma:

Evidentemente, o maior mercado é dos EUA, onde o mercado financeiro é mais desenvolvido, permitindo a criação de diversas estratégias e o desenvolvimento de novos produtos. Praticamente 80% do mercado são ETFs que acompanham índices de Equity (ações) nacionais e estrangeiras, seguidas por 16% em Bonds (títulos de dívida) e 4% em investimentos híbridos. Dentro desses 80%, a variedade de índices é enorme.

São centenas deles, seguindo desde índices das bolsas de valores locais Nasdaq, Dow Jones, até índices por setores da indústria (ações da indústria automobilística, de óleo e gás, etc) ou por classe de ativos (renda fixa, renda variável). O crescimento deste mercado atingiu grau de especialização que atrai desde grandes investidores institucionais até o pequeno investidor.

Fonte: ICI – Investment Company Institute, Elaboração Terraço Econômico

Os números falam por si só. A indústria americana, em 2003 apresentavam somente USD 151 bilhões sob gestão e 119 ETFs operantes. Passados 11 anos, a evolução foi robusta, alcançando a cifra de USD 1,9 trilhões (crescimento de mais de 1000%) e mais de 1400 ETFs, com claro viés de alta. Percebe-se também que mesmo em 2008, ano da crise, o número de ETFs subiu, o que é surpreendente. É nesse aspecto que afirmo, são o “futuro do mercado financeiro”.

Recentemente, em um estudo, a Bloomberg, em conjunto com a HFR (Hedge Fund Research), publicou prevendo que o saldo em dólares, sob gestão, em ETFs irá superar o valor hedge funds! [2]

Isso ocorrerá aproximadamente em agosto de 2015, assim como demonstra o gráfico desenvolvido [3]:

Fonte: Bloomberg

Este fato é indicativo das novas tendências do mercado, e do comportamento dos investidores.

Para nós, brasileiros, parece algo muito irrelevante.

Porém, trata-se de um fato extremamente importante, sobretudo porque, a indústria de hedge funds sempre dominou o mercado norte americano para investimentos alternativos, principalmente na alocação de recursos dos grandes fundos de pensão, proveniente de grandes corporações e universidades.

ETFs Internacionais

Podemos dar destaque especial para dois ETFs internacionais, que apresentaram crescimento nos recursos sob gestão de mais de 600% desde 2012.

WisdomTree Europe Hedged Equity Fund

A WisdomTree Investments, fundada em 2006, é sediada em Nova York, especializada no patrocínio e gestão de ETFs e também de ETPs (Exchange Traded Products). Possui mais de 71 fundos de todas as classes ao redor do globo, com aproximadamente USD 61 bilhões de patrimônio sob gestão e é a quinta maior fornecedora desta indústria nos Estados Unidos.

Basicamente o WisdomTree Europe Hedged Equity Fund, tem como objetivo se expor a ações europeias, e ao mesmo tempo, neutralizar as flutuações entre o dólar e o euro. Atendendo a certos parâmetros, as empresas que compõe o índice apresentam, pelo menos, USD 1 bilhão de capitalização de mercado e que obtiveram mais de 50% de sua receita no último ano fiscal em países fora da Europa, ou seja, com exposições em empresas do setor exportador.

Sua carteira recente apresentava 19,4% no setor industrial (Daimler e Siemens), 18,7% em consumo (InBev e Unilever) e 11,7% no setor financeiro (Banco Bilbao Vizcaya e Santander).

Dado a normalização ocorrida recentemente, em escala global, do patamar do dólar em relação a todas as moedas globais, tal estratégia se tornou muito atrativa e procurada por grandes investidores.

Deutsche X-trackers MSCI EAFE Hedged Equity ETF

O Deutsche Asset & Wealth Management é a quinta maior gestora global de ETFs e a segunda maior da Europa. A família de fundos “X-trackers” possuem USD 17bilhões sob gestão, e é considerada um caso de sucesso, pois cresceu muito nos últimos anos. São especializados em rastrear ativos, através de estratégias inovadoras e portfolios otimizados.

Possuem três princípios: eXceptional scale, eXtraordinary global intelligence e eXacting produts desing.

O ETF em questão, com USD 12 bilhões sob gestão, com indexação passiva, acompanha o desempenho de ativos e valores mobiliários em mercados desenvolvidos (atualmente aloca 2/3 na Europa e 1/3 na Ásia) e na outra ponta, se protege de variações do dólar e de moedas não americanas.

Apresenta uma carteira bem diversificada. Na mais recente, estava posicionado 26,6% no setor financeiro (HSBC, Commonwealth Bank of Austral, AIA e AXA), 12,7% em consumo (Nestlé, Toyota e British American Tobacco), 12% em indústria (Siemens, ABB e Air Liquide) e 11% em no setor de saúde (Novartis, Roche e Bayer), dentre outros.

ETFs no Brasil

Como era de se esperar, representamos uma parcela muito pequena da indústria global, apenas 3%, levando em consideração que é um produto muito incipiente e não popularizado entre os investidores.

No Brasil, o primeiro foi lançado em 2004, e hoje temos 18 ETFs listados na BM&FBOVESPA, totalizando aproximadamente R$ 3,9 bilhões.

Existem apenas 4 provedores no país, Caixa, Itaú e Banco do Brasil (representando bancos locais) e a BlackRock, maior provedora global de ETFs, com o maior valor sob gestão e os mais negociados.

Fonte: BM&FBOVESPA, Elaboração: Terraço Econômico (dados até junho/15)

Apesar da baixa liquidez, o volume operado apresenta tendência crescente. A participação no total do segmento da BOVESPA não ultrapassa 5%, ao mesmo tempo que nos Estados Unidos já representam aproximados 25% do volume total transacionado.

Na tentativa de atrair o investidor pessoas física, a CVM emitiu em 2013, uma instrução que permite a criação de ETFs indexados a ativos de renda fixa. Mesmo com a medida, nenhum ETF desta categoria tinha sido criado, até que o Ministério da Fazenda lançou um pacote de medidas em julho de 2014, que atribuía tributação especial para ETFs de renda fixa, e, em outubro de 2014, anunciou por meio de decreto que o IOF incidente sobre as vendas de cotas desse tipo seriam de alíquota de 0% [4].

Em tese, para expandir o mercado, o aumento da procura por ETFs aumentaria por consequência a liquidez desses ativos, o que atrairia ainda mais novos investidores para este segmento.

No Brasil, existem duas grandes famílias de fundos:

Fundos It Now (https://ww93.itau.com.br/itnow-pt/)

A família de fundos It Now está sob gestão do Itaú Asset Management, com aproximadamente R$ 1,3 bilhões de patrimônio total sob gestão, foram pioneiros no mercado brasileiro nesse segmento.

Ao passar dos anos, novos fundos foram paulatinamente sendo criados, indexados a outros tipos de índices e aumentando a diversificação, flexibilidade e eficiência do mercado brasileiro, ainda muito prematuro em muitos aspectos. O mais recente foi o lançamento do fundo que reflete a performance do índice S&P500, seguindo a tendência recente do mercado de internacionalização dos investimentos [5]

A seguir, uma rápida descrição de cada ETF com um gráfico mostrando as rentabilidades acumuladas desde a criação de cada um:

Seleciona as empresas que se destacam pela maior remuneração aos acionistas na forma de dividendos.

O Índice Dividendos – IDIV tem por objetivo oferecer uma visão segmentada do mercado acionário, medindo o comportamento das ações das empresas que se destacaram em termos de remuneração dos investidores, sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.

Seleciona as ações dos principais bancos e empresas financeiras.

O IFNC é composto pelas ações que são emitidas por companhias do setor financeiro brasileiro. Essas ações são selecionadas em função de sua liquidez e refletem nas carteiras o valor de mercado das ações do setor que estão disponíveis à negociação.

Seleciona as empresas que tem práticas de gestão transparentes, igualitárias no tratamento com acionistas e por consequência, adotam padrões de governança corporativa diferenciados.

Seleciona as ações de empresas que produzem insumos para outras indústrias como mineradoras, siderúrgicas, indústrias químicas, entre outras.  Medindo o comportamento das ações das empresas representativas do setor de materiais básicos.

Seleciona as 40 empresas com melhores práticas de equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.

O IBrX-50 é um índice que mede o retorno total de uma carteira teórica composta por 50 ações selecionadas entre as mais negociadas em termos de liquidez.

Ele foi desenhado para ser um referencial para os investidores e administradores de carteira, e também para possibilitar o lançamento de derivativos (futuros, opções sobre futuro e opções sobre índice).

O S&P 500® TRN representa a versão do índice S&P 500 com reinvestimento dos dividendos líquidos de impostos. O S&P500® faz parte da família de índices da Standard and Poor’s e foi projetado para refletir o mercado de ações dos Estados Unidos. É o índice mais usado no acompanhamento do mercado financeiro norte-americano e considerado um termômetro da economia daquele país.

 

Fonte: Bloomberg, Elaboração: Terraço Econômico

Fundos iShare (http://br.ishares.com/home.htm)

Os Fundos de Índice iShares são geridos pela BlackRock. No dia 1º de dezembro de 2009, BlackRock e Barclays Global Investors (incluindo iShares, líder mundial em ETFs) uniram-se para criar uma das maiores gestoras de investimentos do mundo. A nova companhia, que atua sob o nome BlackRock, administra mais de 3 trilhões de dólares em ativos e oferece uma gama completa de soluções de investimentos e gestão de risco em escala global. Cada Fundo de Índice iShares busca retornos de investimentos que correspondam, de forma geral, ao desempenho de um determinado índice de referência. A seguir, uma rápida descrição de cada ETF com um gráfico mostrando as rentabilidades acumuladas desde a criação de cada um: O iShares Ibovespa busca obter retornos de investimentos que correspondam, de forma geral, do Índice Bovespa. O Índice Bovespa é um índice de mercado que mede o retorno de uma carteira teórica calculada pela BM&FBOVESPA, composta pelas ações que respondam por mais de 80% do número de negócios e do volume financeiro no mercado à vista. O Índice mede o retorno de uma carteira teórica composta pelas 100 ações mais negociadas na BM&FBOVESPA, em termos de número de negócios e volume financeiro. O MidLarge Cap é um índice de mercado que mede o retorno de uma carteira teórica, composta pelas companhias com os maiores valores de capitalização listadas na BM&FBOVESPA, cujo valor total represente, 85% da soma dos valores de capitalização de todas as companhias listadas. O Small Cap é um índice de mercado que mede o retorno de uma carteira teórica, composta pelas pelas companhias com os menores valores de capitalização, listadas na BM&FBOVESPA, cujo valor total represente, 15% da soma dos valores de capitalização de todas as companhias listadas. O Índice BM&FBOVESPA de Consumo mede o retorno de uma carteira teórica, composta pelas ações representativas dos setores de consumo cíclico e não cíclico. O fundo acompanha o Índice Carbono Eficiente – ICO2, sendo um indicador baseado na carteira do IBrX-50 que leva em consideração, na ponderação das ações participantes, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) das empresas. O Índice BM&FBOVESPA Imobiliário mede o retorno de uma carteira composta pelas ações dos setores do ramo imobiliário: construção civil, intermediação imobiliária e exploração de imóveis. O Índice Utilidade Pública mede o retorno de uma carteira teórica, a partir de uma visão segmentada do mercado, medindo o comportamento das empresas representativas do setor de utilidade pública (energia elétrica, água e saneamento e gás).

O iShares S&P 500 é um fundo de índice constituído no Brasil que busca retornos de investimentos que correspondam, à performance do Índice S&P.

O S&P 500® é amplamente considerado o melhor indicador individual do mercado acionário americano de grande capitalização. Há mais de USD 7,8 trilhões referenciados no índice, com ativos do índice compondo aproximadamente US$ 2,2 trilhão deste total. O índice inclui as 500 empresas líderes e capta cerca de 80% de cobertura de capitalização de mercado disponível.

 

Fonte: Bloomberg, Elaboração: Terraço Econômico

As tendências para o futuro dos ETFs no Brasil

Paulatinamente os ETFs vão encontrando seu espaço do mercado brasileiro,  a fase seguinte deve ser o desenvolvimento de ETFs de diversos índices específicos, assim como aconteceu nos Estados Unidos, como índices de renda fixa, commodities e índices estrangeiros.

O mercado brasileiro de fundos hoje é um dos mais desenvolvidos do mundo, apresenta um patamar de segurança, tecnologia e legislação bastante avançado, porém ainda apresenta espaço para se desenvolver, sobretudo em investimentos alternativos e mais arrojados.

Como apresentado, a participação dos ETFs no mercado brasileiro ainda é timida, pouco conhecidos pelos investidores locais, com baixa liquidez e, por enquanto, com baixa variedade. Porém, possui um claro potencial de crescimento e como observado, a estrutura dos ETFs é flexível ao ponto de poder oferecer indexações a vários índices, de forma que podem atrair desde grandes investidores institucionais até a pessoa física, além de apresentarem baixa taxa de administração, baixo custo e serem simples de negociar.

Assim, há uma tendência, de um possível próximo boom no mercado de fundos brasileiro seja impulsionado pela difusão dos ETFs, o que atrairia ainda mais investiores para o mercado de capitais, estimulando também a educação financeira, bem como a internacionalização das plataformas de investimentos.

Esses são justamente alguns dos principais pontos necessários para levar o mercado de fundos brasileiro a um próximo patamar de desenvolvimento, que o aproximaria dos mercados mais evoluídos do mundo.

Nesse aspecto, talvez H. Minsky estivesse certo sobre as inovações financeira. Existem fortes indícios de que os ETFs são o caminho para um novo patamar do mercado financeiro.

          Anexo Todos ETFs listados no Brasil: http://www.bmfbovespa.com.br/etf/fundo-de-indice.aspx?Idioma=pt-br Referências [1] H. Minsky, The modelling of financial instability: an introduction, 1974. http://www.levyinstitute.org/pubs/wp74.pdf [2] Hedge Fund são fundos  de gestão ativa que buscam alocar seus recursos em diversos mercados onde possam vislumbrar ganhos expressivos no médio e longo prazo. [3]http://www.bloomberg.com/news/articles/2015-05-13/etf-assets-set-to-overtake-hedge-funds-this-year [4] http://www.reuters.com/article/2014/10/08/snippet-idUSL2N0S31P620141008 [5]https://verios.com.br/blog/como-investir-no-exterior-com-etfs-de-bolsa-americana/          
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