Homens públicos não choram

Leonardo Palhuca

Você deve ter recebido em algum grupo de Whatsapp o vídeo em que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega é hostilizado em um restaurante de São Paulo. Caso não tenha visto, cá estão.

https://youtu.be/goObu7YTDpM

https://youtu.be/uEMsoqzxyEo

Não é a primeira vez que isso acontece recentemente com alguém do alto escalão do PT. Aliás, não é a primeira vez que acontece com alguém do alto escalão de qualquer partido que esteja mal avaliado ou com qualquer homem público (mulher pública incluída aqui).

Denominações à parte do grupo social que enquadrou o ex-ministro (elite branca paulistana raivosa hidrófoba coxinha e afins), todos os cidadãos têm o direito de protesto desde que não coloquem em risco a integridade física do alvo. E se a insatisfação é grande, o protesto também o será.

Quanto ao tom das agressões verbais, é natural esperar alguns palavrões e xingamentos. Mas argumentar que a verborragia é sem educação somente contribui para tirar do foco das ações que levaram à insatisfação popular (ou coxinha, ou da elite branca paulista hidrófoba…como queira).

Ao escolherem a vida pública, homens e mulheres estão sujeitos à avaliação constante de todos os grupos sociais e devem lidar com isso tanto para o bem quanto para o mal. Quando a economia brasileira voava, os cabeças da nossa equipe econômica se vangloriavam de seus feitos e eram aplaudidos com justiça em praça pública (ou nos caros restaurantes frequentados pela elite branca paulista hidrófoba e coxinha). Agora que a economia vai mal das pernas e os escândalos de corrupção tornam-se públicos, nada mais justo que aguentar as vaias.

E isso vale a todos os partidos e públicos. Abaixo uma coletânea de atos hostis (compilada pelo departamento de curadoria de tretas do Terraço) contra homens públicos que estavam mal avaliados.

Da política nacional:

Mário Covas e a ovada – durante greve de professores em SP, o então governador da província paulista tomou uma ovada de um manifestante: http://www.istoe.com.br/reportagens/37855_BRIGA+DE+RUA

Bengalada no José Dirceu – em 2005, ano do Mensalão, o escritor Yves Hublet agrediu José Dirceu com uma bengalada para demonstrar sua insatisfação: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u74252.shtml

Barbosa no bar – o ex-ministro do STF que ficou famoso pelo julgamento do Mensalão, Joaquim Barbosa, foi hostilizado em um bar em Brasília por manifestantes que o enxergam como um “projeto de ditador”: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/04/1438936-joaquim-barbosa-e-hostilizado-por-petistas-em-restaurante.shtml

Protestos contra o ajuste fiscal – durante a posse da nova presidente da Caixa, o atual ministro da Fazenda Joaquim Levy foi hostilizado por manifestantes que discordavam do ajuste fiscal e da privatização da Caixa: http://oglobo.globo.com/economia/levy-hostilizado-mas-defende-ajuste-fiscal-em-posse-da-presidente-da-caixa-15417517

Um giro pelo mundo:

Flying Dildo pro Putin – durante uma coletiva de imprensa o ditad…presidente russo Vladimir Putin foi recebido com um vibrador voador. Prontamente derrubado por um de seus seguranças: http://www.dailymotion.com/video/x2ofl6n

Sapatada no George Bush – durante uma conferencia no Iraque o então presidente americano George Bush levou duas sapatadas em protesto contra a controversa guerra: http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/8410946.stm

Igrejada no Berlusconi – após uma série de escândalos, o ex-Primeiro Ministro italiano é atacado em Milão com uma miniatura de uma igreja. O resultado foi um dente quebrado: http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/8410946.stm

Políticos no lixo – com a recente crise política na Ucrânia, manifestantes aguardam deputados saírem do congresso e os atiram na lata do lixo: http://www.ibtimes.com/ukrainian-parliament-member-tossed-trash-bin-angry-protesters-video-1690106

A ditadura nua do BCE – enquanto discursava em conferencia no Banco Central Europeu, o presidente Mario Draghi foi surpreendido com uma manifestante seminua que clamava pelo fim da ditadura do BCE: http://www.reuters.com/article/2015/04/15/us-ecb-policy-dispruption-idUSKBN0N61GE20150415

Personalidades públicas estão sujeitas a tais protestos. Caso não desejem passar por isso, sugiro a vida privada ou um tempinho fora dos holofotes…e se não dá para ir em paz ao restaurante favorito, abaixo a solução…

[caption id="attachment_4269" align="aligncenter" width="449"]Vai uma pizza quentinha ai, Sr Ministro? Vai uma pizza quentinha ai, Sr Ministro?[/caption]  

Leonardo Palhuca

Doutorando em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg. Interessado em macroeconomia - política monetária e política fiscal - e no buraco negro das instituições. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2018.

3 Comentários

  1. Boa Leonardo, gostei da coletânea! Algumas pessoas que se servem da rés-pública ou que pretendem se servir ( com o mesmo discurso de sempre, que querem servir) agora vai carecer de pensar um poucochinho mais…O povo tem visto que esse pessoal está chegando nos limites do tolerável e infelizmente impetrar honestidade deles já não tem mais sentido. No Japão não tem conversa, errou na vida pública, está fora! Assim espero que um dia cheguemos nesse status sine qua non no Brasil também. Sucesso pra voçê e vida longa ao Terraço!

  2. Pelo que entendi do texto, agressão verbal, calúnia, etc, são defensáveis quando perpetradas contra uma figura pública? Todos os exemplos enfileirados no artigo são lamentáveis, assim como a postura do redator. O protesto de quem elege pode e deve ser feito com respeito, assim como a condução da política deve ser feita com respeito. E protesto de maior eficácia seria debater os maus caminhos da política eventualmente tomada, bem como negar o ativo mais precioso aos homens púbicos: o voto. Não vejo como a defesa de xingar um cidadão brasileiro pode contribuir para o fortalecimento da democracia.

  3. Gosto muito do site de vocês!
    Mas confesso que fiquei atônito com esse artigo!
    Qual caminho vocês estão decidindo tomar?
    Não contem nenhum embasamento econômico, simplesmente um texto sensacionalista.
    Espero que reflitam sobre todas as criticas.
    Abraço
    Carlos Viacava

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