Lições de Kyiosaki-Lechter: como você gasta? (parte 2)

O livro Pai Rico, Pai Pobre, de Robert T. Kyiosaki e Sharon Lechter apresenta o confrontamento entre uma visão tradicional e outra mais inovadora sobre dinheiro. Confira hoje o segundo ponto que, na visão deste que vos escreve, representa outro grande ensinamento desta clássica obra: como gastamos o nosso dinheiro? O primeiro da série está aqui.

Quando perguntados sobre hábitos de consumo, praticamente todos os indivíduos apresentam três grupos diferentes: o de gastos dos quais não pode deixar de fazer (o aluguel da casa, o combustível para ir trabalhar), o de gastos com estilo de vida (jantar fora, ir ao estádio de futebol com seus filhos) e o da vida financeira futura (reserva ou mesmo investimentos). Segundo alguns indicam, a proporção 50-35-15 para essas alocações é saudável ao longo do tempo.

Porém, para além da categorização de onde vai parar seu dinheiro (de salário, alugueis ou quaisquer outros rendimentos que você tenha), é preciso pensar sobre as prioridades de cada gasto. E, para isso, é saudável que você conheça o conceito de utilidade.

Em resumo, utilidade é o quanto você atribui de valor a algo. Veja bem que aqui falamos em valor, não preço. A diferença entre valor e preço é que enquanto o primeiro reflete a utilidade dada a algo, o segundo reflete o que você efetivamente paga por aquilo.

Saindo do economês para o português: suponha que você goste muito do Metallica e tenha um conhecido que goste muito do Molejo; saber que um ingresso para o camarote do show está por R$50,00; você ficará muito feliz se souber que esse preço é para o show do Metallica (porque o valor que você atribui é muito superior a isso) e seu amigo ficará também feliz se souber que esse preço é do show do Molejo (pelo mesmo motivo). Já se o preço for de R$50.000,00 por ingresso, independente do show é bem provável que você e seu amigo digam que “está muito caro”, que significa, na prática, que o valor observado é inferior ao preço que deveria ser pago para estar em algum desses shows.

Conhecido o conceito de utilidade, voltemos ao questionamento: de todas as saídas do seu orçamento, quais são as que te trazem maior utilidade? E as que te trazem menor utilidade?

Vamos a uma nova suposição: todos os fins de semana do ano você abre sua casa para amigos e conhecidos em um churrasco, mas, se for parar para pensar, você acha que isso é de certa forma cansativo e não é algo que te chatearia se precisasse deixar de fazer. Já parou para pensar que, caso você deixe de fazer algo que não te traz tanta felicidade, sobrarão mais recursos para que você possa fazer o que realmente gosta?

Esse questionamento é árduo, talvez o mais árduo que o livro de Kyiosaki-Lechter apresenta. Envolve uma quantidade de escolhas que provavelmente o leitor dirá que prefere não enfrentar — talvez por gerar desafetos entre seus amigos, familiares e próximos. Veja que aqui não estamos tratando de desfazer amizades para ter uma vida financeira mais tranquila, mas de ser mais racional sobre o que pessoalmente se deseja fazer.

No final das contas, não tomar nenhuma atitude em relação a gastos feitos com frequência sem que se tenha retorno adequado em utilidade é, paradoxalmente, tomar uma atitude — a de não se importar com o destino de sua vida financeira. Mas, por outro lado, ao se atentar às decisões que são tomadas, sobrarão mais recursos para que você possa fazer o que lhe dá mais satisfação.

Aquele show do Metallica (ou do Molejo) que você tanto gosta, mas “nunca tem dinheiro para ir” talvez está mais próximo do que se imagina. Usar essa análise de custo-benefício pode te ajudar muito a não perder tais oportunidades.

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