Continuo apresentando as quatro breves lições a respeito do livro Pai Rico, Pai Pobre, de Robert T. Kyiosaki e Sharon Lechter. Isso é, aquelas que este que vos escreve considera serem mais importantes no best seller de finanças pessoais. Neste chega a seu terceiro capítulo, após falar sobre ativos (e não passivos) e eficiência no uso do orçamento pessoal, falemos sobre os rendimentos! Esqueça o capital!
Construindo patrimônio
Esse ensinamento pode estar no topo de prioridades de quem já investe altos montantes e pensa até em parar de trabalhar, mas se engana quem pensa que este artigo dialoga apenas com este perfil. Na verdade, o alvo aqui são todas as pessoas que pensam sobre dinheiro e na construção de um patrimônio para se resguardar seu futuro.
Há uma ilusão acerca daqueles que têm dinheiro, supostamente fazem uma retroalimentação entre seu estilo de vida (possivelmente mais caro em termos de consumo) e os bens acumulados ao longo do tempo: “a pessoa é rica porque tem como gastar”. É justamente nesse ponto que muita gente se engana, as pessoas acumulam bem porque conseguem viver um degrau abaixo do que ganham, não porque gastam mais do que ganham.
Há uma pergunta que incita muitas respostas em termos de consumo e quase nenhuma em termos de investimento: o que você faria se ganhasse alguns milhões no próximo sorteio da Mega Sena? A resposta média se aproxima bastante da clássica cena do Pica Pau: “iates, mansões, automóvel…”
É claro que, a depender do quanto você ganhe, vai querer ajudar seus familiares e realizar sonhos que antes não eram possíveis. Contudo, o pecado está em não acreditar que há dia seguinte. Inclusive, alguns casos práticos que mostram como isso pode mesmo ocorrer.
O cenário de vencedor na Mega Sena é pouco provável, então vamos à realidade dos fatos. Considerando que você consiga juntar um alto montante durante décadas de sua vida. Ótimo, chegou ao tão sonhado milhão de reais acumulados, após muitos anos de investimento (erros e acertos) e alocação do dinheiro que foi sobrando período a período. Se você chegou a este ponto ou mesmo almeja chegar, pense no seguinte: não basta chegar, mas é preciso permanecer (ou melhorar) nessa situação. Por esse motivo, o máximo que você pode gastar desse montante são seus rendimentos.
Vamos aos números, considerando este montante de R$1.000.000,00 (que, reforço, você juntou durante muitos anos e com muitos investimentos diferentes, pois essa missão realmente está longe de ser fácil), se você conseguir um investimento que te dê um retorno de 7% ao ano (já líquido de impostos), são R$70.000,00 anuais e cerca de R$5833,33 a mais a cada mês.
Levando em conta que você começou a trabalhar com 25 anos e demorou 30 anos para juntar esse montante (juntando R$500,00 por mês, a uma taxa mensal de 0,80% de rendimento), pode passar a contar com um salário razoável e extra que, a depender de sua situação aos 55, vai te permitir inclusive deixar de trabalhar.
Não existe caminho fácil
Convém dizer por uma terceira vez, para que realmente não exista enganos por aqui: não se trata de uma missão fácil, envolve ter um compromisso consigo mesmo ao longo do tempo. Trata-se de guardar recursos para seu eu do futuro e ouvir muito durante o caminho que “isso é besteira, pois você nunca sabe o dia de amanhã”. A parte paradoxal é que, no fim das contas, não saber como será o dia de amanhã deveria ser o maior estímulo possível para que você se prepare hoje, financeiramente, fisicamente e emocionalmente.
Essa lição, de todas as que o livro apresenta, é uma das mais difíceis de seguir. Porque você, se ainda não tem patrimônio, tende a acreditar que nunca acumulará tal montante inimaginável. Pode ter certeza, basta consultar alguém que acumulou patrimônio por toda a vida para descobrir como vale a pena dar valor àquilo que se construiu. Uma grande crítica sobre a educação financeira recai justamente sobre esse ponto: os educadores financeiros estariam imaginando um mundo colorido em que todos seriam racionais e capazes de seguir normas e mudar suas realidades.
Realmente, não são todos os indivíduos que decidirão por poupar recursos para o futuro, nem serão todos que optarão por pensar sobre o futuro. Na verdade, pouquíssimos entre os que acompanham o Terraço Econômico tomarão alguma decisão mesmo. Porém, se você que estiver lendo fizer parte do grupo dos que tomarão alguma decisão, independente do ponto que você estiver em termos de patrimônio agora: começando ou já finalizando seu planejamento, lembre-se que viver dos rendimentos é muito mais adequado do que reduzir o capital acumulado após chegar onde você desejava. Subir a enorme escada dos investimentos pode ser complicado, mas descer dela pode ser muito mais rápido e certamente uma decepção.