Muito antes da atual Era dos Memes, o Brasil sempre serviu de palco para histórias, no mínimo, bem peculiares, que só nos consagraram com o título simbólico de “terra das jabuticabas”, ou de “terra dos fiscais do Sarney”. Junto com essa particularidade, outra questão que quase sempre fez parte da essência tupiniquim, é o de ficar bem averso com quase tudo que vem do exterior, algo que ficou conhecido tradicionalmente como nacionalismo e, mais recentemente, como antiglobalismo.
Mesmo conhecendo os potenciais riscos dessa complicada combinação histórica, parece que definitivamente, quando trata-se de Brasil, a zoeira não tem limites, inexistindo qualquer fronteira entre o fictício e o real, entre a comédia e o absurdo. Para provar isso, e aproveitando a proximidade do Natal, vou tentar expor uma história que foi esquecida por muitos, mas que nem por isso deixa de ser menos absurda e hilariante.
Essa história começou nos anos 30, a partir do movimento integralista. A Associação Integralista Brasileira foi um movimento brasileiro inspirado nos movimentos fascistas europeus. De caráter ultranacionalista, o integralismo defendia uma agenda política/econômica anticomunista e antiliberal, altamente centralizadora e com tendências autoritárias. O principal líder desse movimento foi Plínio Salgado, um escritor nascido no interior de São Paulo, que acabou sendo exilado pelo governo Vargas – no momento que o integralismo foi posto na ilegalidade -, chegando anos mais tarde até a disputa de uma eleição presidencial (no ano de 1955).
Os integralistas estavam dispostos a defender uma identidade nacional puramente brasileira, e dentre os seus objetivos, constava a erradicação de símbolos considerados como estrangeiros e antinacionais. No grupo desses símbolos, estava o nosso tão amado Papai Noel, considerado pelos integralistas como uma figura “perigosamente antinacional”. Dado que, um homem branco e corpulento, trajado com roupas vermelhas e montado em um trenó puxado por renas, simbolizava uma ameaça estrangeira, e por isso – segundo o ideário integralista -, deveria ser expulso do Brasil aos sons de “Anauê!”.
Mas os integralistas não queriam apenas expulsar o bom velhinho das terras brasileiras, e sim substituí-lo por outro símbolo, digamos, mais abrasileirado. Numa espécie de substituição de importações a nível cultural, demonstrando que esse tipo de projeto sempre tende ao fracasso – algo bem constatado nos governos de Dilma Rousseff e de Ernesto Geisel –, tendo terminado em uma tentativa pífia de substituir o Papai Noel por um personagem silvícola, chamado de Vovô Índio.
O Vovô Índio, figura criada em meados do anos de 1932 (não há muito consenso sobre essa data) e apresentada oficialmente no estádio de São Januário, acabou não agradando as crianças, que numa demonstração genuinamente queremista, optaram em meio aos berros, por ficar com o Papai Noel. Assim, o Papai Noel permaneceu nos braços do povo (mirim), enquanto que o Vovô Índio se perdeu no ostracismo das histórias pitorescas do Brasil.
Essa tentativa de expulsar o Papai Noel acabou sendo esquecida com o tempo, mas para os poucos que ainda se lembravam ou para os que estão lendo esse texto agora, fica claro que as loucuras tupiniquins vão muito além da nossa imaginação.