Schumpeter sozinho não explica a morte da MTV

MTV, uma palavrinha de três letras que remonta à saudade, nostalgia e por fim: decadência. Os mais velhos entendem muito bem o que significou a MTV, mais precisamente a MTV Brasil – a primeira rede de televisão segmentada a ser transmitida em sinal aberto – e mesmo os mais novos, ao menos possuem certa noção do tamanho da influência exercida pela emissora, que se faz presente até nos dias atuais.

Em 1981 nos Estados Unidos, ao som de Video killed the radio star, do Buggles, a MTV fazia a sua estréia. Mas logo a emissora, pertencente a empresa VIACON, espalharia filiais para o mundo inteiro, inclusive no Brasil. A MTV Brasil entrou no ar em 1990, sobre a égide administrativa do Grupo Abril, que pagava uma taxa de licenciamento anual a VIACON pelos direitos de transmissão da marca.

A MTV Brasil chegou revolucionando a forma de fazer televisão nos anos 90, fidelizando um público em específico – o público jovem – levando ao ar uma programação criativa, dinâmica e extremamente original, tudo isso feito sem a perda da sua essência (ao menos inicialmente), que era a de ser um canal dedicado a música. Uma gigantesca gama de cantores tiveram suas carreiras catapultadas pela emissora, que fez um estrondoso sucesso por pelo menos quase duas décadas.

Depois de tamanho sucesso viria de maneira um tanto abrupta, a decadência, decretada no ano de 2013, quando o Grupo Abril entrega o direito de transmissão da marca para a VIACON e a MTV Brasil encerra as suas atividades, pelo menos da maneira como conhecíamos. Mas como uma emissora que alcançou tamanho sucesso pôde ter definhado tanto ao ponto de ser fechada? 

A mais consagrada explicação para o ocorrido é atribuída, mesmo que inconscientemente, a Schumpeter, por meio do que se chama de “destruição criativa”. O grande culpado pela morte da MTV Brasil seria o fenômeno da inovação, descrito por Schumpeter. A inovação aqui seria o advento da internet, dado que com o surgimento de milhares de aplicativos para baixar vídeos e músicas, além de claro, do Youtube, que facilitou o acesso a milhares de vídeos quase que instantaneamente. Devido a isso, a MTV teria perdido o seu “monopólio” de entretenimento musical dedicada principalmente a jovens.

Apesar de tal explicação ter sua lógica e ter validade ao menos em parte, dado que a internet facilitou incrivelmente e de forma muito mais cômoda o acesso a uma programação que só era transmitida pela MTV, esse argumento de maneira alguma exaure os motivos da queda da MTV Brasil. E o motivo é simples, por mais avassalador que tenha sido a inovação trazida pela internet, esta não teve nada a ver com o capitalismo de compadrio o qual o Grupo Abril estava inserido.

O Grupo Abril que por muito tempo reinou como o maior conglomerado editorial do Brasil é um dos grandes símbolos da relação pouco saudável entre Estado e grandes empresas. Dessa relação que garantiu o domínio quase absoluto do grupo sobre o mercado editorial brasileiro, enfim se mostrou pouco sustentada dado que acabou terminando com um pedido de recuperação judicial da empresa devido a uma dívida bilionária acumulada por vários anos.

Além disso, é possível destacar outro importante fator: as péssimas escolhas feitas pela administração da MTV Brasil no que consiste a elaboração da sua programação. Em meio a crise do Grupo Abril, a essência da MTV acabou sendo abandonada numa tentativa desesperada de se popularizar a todo custo. Assim, um canal inicialmente voltado para um cardápio variado de músicas – que iam do pop mainstream até ao underground – se viu ocupado por milhares de programas de comédia e por rodas de samba.

Não foi apenas a internet a responsável pela decadência da MTV Brasil, mas o ambiente de capitalismo de compadrio e claro, a erros estratégicos. Foi esse mix que acarretou a derrocada da emissora, e não somente o fator inovação, de maneira isolada. Schumpeter sozinho não explica o porquê da morte da MTV.

Lucas Adriano

Mestre em Economia e bacharel em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Vindo de Ponte Nova (MG), cruzeirense e fã de observar a abordagem econômica sendo utilizada nos mais diversos assuntos. Espera um dia poder dar a sua contribuição para a Ciência Econômica.

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