Matemática também é ciência!

“Sabe por que a previdência se torna deficitária? Porque não se fazem concursos. Porque para a previdência se equilibrar tem que ter gente contribuindo e não só gente recebendo. Tem mais gente se aposentando, mais gente virando inativa. E como não se faz concurso, tem menos gente contribuindo pra previdência pública. Fazer concurso é uma forma de arrecadar mais para previdência pública e equilibrar a conta com os inativos. Então é isso que eu vou fazer”. A fala do candidato Guilherme Boulos (PSOL) sobre a Previdência Municipal de São Paulo veio em um momento crucial, no qual o negacionismo é muito denunciado.

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia do novo coronavírus. Desde o início do ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez uma série de recomendações a respeito do enfrentamento da pandemia: uso de máscaras, isolamento social, aumento da higiene pessoal, entre outras. Além disso, cientistas também apontavam que remédios, como a cloroquina, não eram capazes de curar a Covid-19.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro e apoiadores criticavam a OMS, promovendo ações que iam de encontro com as recomendações. Imediatamente, o comportamento era rechaçado, não apenas pela mídia como por oposicionistas do presidente, entre os quais está Guilherme Boulos. Partidários do atual candidato a prefeito de São Paulo não titubeavam em chamar o presidente de “negacionista”, “terraplanista” e rotulá-lo como alguém que odeia a ciência.

Pois bem. Eis que o mundo gira (claro, ele não é plano…) e chegamos ao segundo turno da disputa eleitoral, com Boulos enfrentando o atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). Em meio a uma sabatina, o candidato psolista vomita a “proposta” que será capaz de salvar a Previdência Municipal, e ao mesmo tempo, melhorar os serviços públicos da capital paulista.

Ao agir desta forma, Boulos escancara a hipocrisia presente em sua narrativa política, negando uma das ciências mais puras, antigas e intuitivas do mundo: a matemática. De fato, a matemática anda um pouco esquecida, talvez até tenha saído de moda, em meio à exposição cada vez maior das ciências humanas (e até da infectologia) na mídia, redes sociais e grupos de trabalho.

No entanto, um dos aspectos mais maravilhosos da matemática, é tratar-se de uma ciência que não requer tempo de observação tampouco contexto histórico ou social ou psicológico. O resultado de dois mais dois é quatro. Sempre. Não é necessário um experimento em laboratório para detectar isso.

De forma semelhante, o resultado de realizar mais concursos públicos para uma Prefeitura é o aumento do gasto. Para o gestor público, o risco iminente de superar os limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, sofrendo sanções por conta da irresponsabilidade. Para o município, o risco de ver os ratings de crédito despencarem, inviabilizando a obtenção de recursos junto a governos estadual e federal para a realização de obras importantes. Fora o caos e sucateamento de serviços públicos, com atrasos contumazes de pagamentos a servidores e fornecedores.

Qualquer candidato a cargo público minimamente preparado sabe disso. Aliás, qualquer candidato a cargo público minimamente honesto sabe que, na condição de empregadora, a Prefeitura é quem faz as contribuições previdenciárias. Ou seja, a ideia do candidato é que a Prefeitura encha o bolso esquerdo, com dinheiro que está no bolso direito.

Boulos tentou se defender e disse que a frase foi tirada de contexto. Novamente, é importante salientar, a matemática não precisa de contexto. A “proposta” de Boulos para a Previdência paulistana é, simplesmente, uma fraude. Tal mentira, infelizmente, ainda encontra respaldo em alguns economistas, que talvez estejam em busca de uma reformulação da matemática, de modo a fazer com que seus corporativismos caibam dentro das restrições orçamentárias.

Para agradar setores simpáticos à sua candidatura, Boulos age como aquilo que chama de “populista”, negando a matemática e apresentando soluções falsas e milagrosas para graves problemas estruturais, que requerem reformas profundas e muito bem desenhadas por técnicos, comprometidos com o equilíbrio fiscal e encontrando respaldo em lideranças responsáveis e racionais.

Cabe ressaltar, aliás, que o negacionismo da matemática por parte do PSOL já vem acontecendo e sendo negligenciado há tempos. Eram os parlamentares do PSOL que mais defendiam a tese de que não haveria déficit na Previdência Social do Brasil ou ainda que o país gasta 50% de seu orçamento com pagamento da dívida pública. O risco é tal negacionismo encontrar respaldo nas urnas, o que colocaria em risco a vida de milhões de pessoas.

 

 

 

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