Mateus Albino | Campinas-SP

Especial Eleições Municipais 2020

Por que tão rica e tão desigual? Por que tanta história e tanta cultura abandonadas? Eu nasci em Campinas, interior de São Paulo, e essas perguntas sobre a cidade nunca saíram de mim. Talvez por isso me encantei pela economia, e depois pela história de Campinas, e mais tarde pela luta política. Eu sou Matheus Albino, jovem de 25 anos, economista, mestre e doutorando em Demografia, filiado ao Partido dos Trabalhadores. 

Cresci e moro hoje em um bairro originado de moradias populares do final do século 20, a Vila Miguel Vicente Cury, na região leste da cidade. Casas construídas por e para trabalhadores, com arquitetura uniforme, inicialmente precárias em acesso a todo o tipo de serviços. O sonho dos primeiros moradores era tão logo conseguissem ocupar as casas, reformá-las, pintá-las e assim torná-las diferentes umas das outras. Todo brasileiro tem desses sonhos simples de sobreviver e se destacar na multidão. Muito do que hoje existe foi fruto da luta dos moradores por escolas, posto de saúde, segurança, iluminação pública, linhas de ônibus. Essa é hoje a realidade de muitos bairros de Campinas, e aprendi com isso que a mobilização e organização espontânea das pessoas podem mudar significativamente a vida.

Foi como filho dessas lutas e para encontrar respostas às perguntas que me acompanhavam que prestei o vestibular para o curso de Economia Empresarial e Controladoria, na USP de Ribeirão Preto. Curso interdisciplinar, que une a economia e a contabilidade de forma singular. Na USP, conheci o movimento estudantil e iniciamos a discussão sobre a democratização do seu acesso. Percebemos que, se por um lado a USP era ainda distante do perfil da população que mais pagava por ela, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) chegava a todo o território nacional. A adesão da USP ao Enem por meio de vagas para estudantes de escola pública pretos, pardos e indígenas, fez a universidade alcançar sua meta de inclusão social no ano de 2020. 

A pesquisa que realizei durante esse período, sobre a história econômica e demográfica de Campinas no século 19 me levou de volta à minha cidade natal para iniciar o mestrado e o doutorado na Unicamp. Construí nela o movimento de refundação da Associação de Pós-graduandas e Pós-graduandos e a resistência da universidade ao movimento anti científico guiado pelo governo federal. Foi quando entramos em contato com as pautas da cidade, enfrentando e derrotando, junto ao movimento de educação, pais de alunos e conselhos de escola o projeto de Escolas Cívico-Militares (PECIM), que tinha como objetivo aproveitar militares da reserva para a gestão educacional das escolas municipais, ferindo o princípio de gestão democrática. 

Me filiei ao Partido dos Trabalhadores no segundo turno das eleições de 2018. Assistimos a enorme capacidade das redes sociais em construir e destruir reputações em minutos, e a incapacidade da justiça em acompanhar e punir os abusos. Senti que deveria entrar para a política. O impeachment de Dilma, a prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro me indicavam que um novo olhar mais crítico e jovem merecia ser colocado. Por isso, propus minha candidatura ao legislativo da cidade em torno das pautas de educação, cultura, defesa da vida e de uma economia justa. 

Campinas é a única metrópole do país que não é uma capital estadual. No entanto, o legado de oito anos de governo de Jonas Donizette (PSB) e de sua base de vereadores mostrou para quê a cidade é governada – atender interesses privados  das Organizações Sociais da saúde, empresas de água e saneamento, empresas de ônibus e de interesses imobiliários.  O desprezo à vida está estampado nas 1.242 mortes e nas 31.452 pessoas infectadas até 1º de outubro, na maior taxa de incidência do Estado de São Paulo e na letalidade, que também está entre as mais elevadas. 

Diante desses inúmeros problemas de gestão, os jovens economistas devem se colocar no campo político e no debate público. Uma cidade educadora, mais justa e menos desigual é necessariamente uma cidade comprometida com projetos de longo prazo. Isso exige um legislativo atuante e executivo mais preocupado com a vida da população.  A defesa de uma escola democrática, plural, diversa e de qualidade socialmente referenciada é uma condição necessária nesse projeto.

A pandemia revelou e aprofundou as desigualdades no ensino, que chamam a atenção para medidas emergenciais que garantam a qualidade da alimentação escolar, o acesso à internet e material impresso aos estudantes das escolas municipais. A educação também tem o papel de formar para a cidadania pessoas que irão repudiar qualquer tipo de opressão. Por isso, o legislativo deve fiscalizar as ações municipais em medidas de prevenção à violência e a implementação nos currículos escolares da rede municipal os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça. Na segurança pública, fiscalizar as ações de capacitação permanente da Guarda Municipal, assim como aperfeiçoar os processos seletivos e avaliação psicológica dos trabalhadores da segurança para que casos como o do menino Jordy, adolescente de 15 anos baleado em Campinas por um GM, sejam apurados com rigor e não continuem a se repetir. 

Assim como a educação, a cultura está em todos os cantos e reflete os problemas da cidade. Nas feiras livres, no busão lotado, nos teatros e nos bares. Por isso, pautamos a descentralização da cultura valorizando as expressões da periferia, sugerindo expansão de linhas de fomento regionais ao setor cultural e denunciando a destruição dos espaços e equipamentos de cultura hoje abandonados. Também é importante aproximar os profissionais do setor cultural ampliando os mecanismos de controle e o diálogo da secretaria com os conselhos municipais e organizações da sociedade civil. 

Por último, a defesa da vida e de uma economia justa pressupõe a valorização dos profissionais da saúde, o combate às distorções tributárias da cidade e fazer a peça orçamentária enviada à Câmara um reflexo da vontade popular. Tarifas de água e transporte elevadas, impostos regressivos que prejudicam os trabalhadores são os principais problemas que devem ser enfrentados. Diante disso, devemos estar comprometidos na fiscalização e no controle dos contratos com empresas de transporte público, coleta de lixo, água e saneamento. Devemos, além disso, discutir a implementação de isenção de tarifas de transporte para desempregados e estudantes, e faixas de consumo de água mais baixas para bairros populares, que poderiam diminuir as barreiras para que pessoas atingidas pela pandemia e pelo desemprego consigam capacitação, reposicionamento no mercado de trabalho em condições dignas.  

A partir dos ideais de solidariedade e cidadania plena e para fazer a disputa política com coragem e coração, um jovem demógrafo-economista apaixonado pela história da cidade se colocará para defender a educação, a cultura e a juventude na Câmara Municipal de Campinas como um caminho para uma nova metrópole melhor. 

Disclaimer:

O Terraço Econômico abriu uma oportunidade para que candidatos a vereador das eleições deste ano em TODO o país e de QUALQUER partido político enviassem suas contribuições respondendo a questão de como melhorar os seus respectivos municípios a partir da proposição de políticas públicas via Câmara Municipal.

Ressaltamos que todas as OPINIÕES expressas nesses artigos são de TOTAL responsabilidade dos AUTORES.

 

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