A meta de inflação deixou de influenciar as expectativas dos agentes econômicos?

trade-off entre comprometimento e flexibilidade, o regime de metas explícitas para inflação tem sido utilizado por diversos países atualmente. Esse regime, em sua abordagem flexível, serve tanto para ancorar as expectativas dos agentes privados como dá a possibilidade do policymaker acomodar ou reagir a choques sobre a estrutura econômica. Isso dito, em edição recente do Clube do Código investigamos a atratividade da meta de inflação em relação às expectativas dos agentes privados no Brasil. Em outras palavras, verificamos se a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) tem sido uma variável importante para explicar o comportamento das expectativas de inflação dos agentes econômicos. Para isso, nos baseamos em Carvalho e Minella (2012) e Bevilaqua et al. (2008) para construir um modelo explicativo para as expectativas de inflação. A estimação, por suposto, foi feita via Mínimos Quadrados em 2 Estágios (TSLS). A equação dos autores é a que segue  \begin{equation} \begin{footnotesize} E_t \pi_{t,t+11} = \beta_1 + \beta_2 \bar{\pi}_{t,t+11} + \beta_3 \pi_{t-12,t-1} + \beta_4 \Delta e_t + \beta_5 \Delta p_t^{c} + \beta_6 h_{t-2} + \varepsilon_{t} \label{eq} \end{footnotesize} \end{equation}  onde $E_t \pi_{t,t+11}$ é a expectativa de inflação para os próximos 12 meses, $\bar{\pi}_{t,t+11}$ é a meta de inflação para os próximos 12 meses, $\pi_{t-12,t-1}$ é a inflação acumulada nos últimos 12 meses, $e_t$ é a taxa de câmbio R\$/US\$, $p_{t}^{c}$ é o índice CRB e $h_{t}$ é o hiato do produto obtido a partir do PIB mensal do IBRE/FGV. Com base em \ref{eq}, verificamos se a meta de inflação continua sendo importante para explicar o comportamento das expectativas. Uma vez que tenhamos a especificação \ref{eq} e os dados devidamente tratados, podemos proceder a estimação. A tabela abaixo traz os resultados da regressão. Observe que à exceção da meta, todas as demais variáveis escolhidas são estatisticamente significativas para explicar as expectativas de inflação. O resultado difere do originalmente publicado por Carvalho and Minella (2012), uma vez que dado o aumento da amostra, a meta perdeu a capacidade de influenciar as expectativas de inflação. A explicação provável para isso é a mudança na função de reação do Banco Central, mais preocupado com o hiato do produto do que propriamente com a ancoragem das expectativas de inflação em uma grande do período da amostra considerada.  

Modelo Base
Dependent variable:
expectativa
meta 0.029
(0.211)
lag(inflacao, -1) 0.331***
(0.017)
lag(cambio, -1) 1.191***
(0.160)
lag(commodities, -1) 0.002*
(0.001)
lag(hiato, -2) 0.128***
(0.022)
dlula 3.453***
(0.409)
Constant 3.063***
(0.951)
Observations 174
R2 0.834
Adjusted R2 0.828
Residual Std. Error 0.586 (df = 167)
F Statistic 140.030*** (df = 6; 167)
Note: *p<0.1; **p<0.05; ***p<0.01
De forma a verificar em que ponto da amostra a meta de inflação deixou de influenciar as expectativas dos agentes, procedemos agora uma rolling regression de 48 meses sobre a equação \ref{eq} estimada acima e guardamos o p-valor das regressões estimadas. Ele irá dar a significância estatística do coeficiente da meta de inflação. O gráfico abaixo ilustra o comportamento do p-valor.   Os resultados encontrados sugerem que após a crise de 2008 a meta de inflação deixou de ser uma âncora para as expectativas dos agentes. Dadas as mudanças no período recente, é possível que isso tenha mudado. Mas, em termos econométricos, ainda é cedo para auferir alguma coisa, não é mesmo?   ______________________________________________ BARRO, R. J. and GORDON, D. B. A positive theory of monetary policy in a natural rate model. The Journal of Political Economy, 91(4):589–610, 1983a. BARRO, R. J. and GORDON, D. B. Rules, discretion and reputation in a model of monetary policy. Journal of monetary economics, 12(7):101–121, 1983b. Bevilaqua, A. S.; Mesquita, M., and Minella, A. Brazil: taming inflation expectations. Bank for International Settlements (Ed.), Transmission Mechanisms for Monetary Policy in Emerging Market Economies, (35):139–158, 2008. Carvalho, F. A. and Minella, A. Survey forecasts in Brazil: A prismatic assessment of epidemiology, performance and determinants. Journal of International Money and Finance, 31:1371–1391, 2012. KYDLAND, F. E. and PRESCOTT, E. C. Rules rather than discretion: the inconsistency of optimal plans. The Journal of Political Economy, 85(3):473–492, 1977. MUTH, J. F. Rational expectations and the theory of price movements. Econometrica, 29(3):315–335, 1961. Pastore, A. C. Inflação e Crises – o papel da moeda. Editora Campus, 2015.
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