Meu mestrado, meu futuro? Como a disparada do dólar vem sacrificando o estudo de brasileiros

Você no Terraço | por Geórgia Freire

Afirmar que o futuro de um país está na educação já virou máxima do senso comum, além de item obrigatório no repertório de promessas políticas. Em suas infinitas variações esta crença foi transformada em ação nos países do topo do ranking de IDH, e permaneceu no campo do imaginário nos países que ostentam posições mais modestas.

Minha relação com essa crença vem de longa data, mas se intensificou em 2012 e 2013. Primeiro com o nascimento do Núcleo Mater, grupo de estudos sobre desenvolvimento emocional que tive a honra de ajudar a criar. Depois com o convite para ser professora substituta no curso de Psicologia (minha profissão e grande paixão). Embebida num afã de compartir o que sabia e de buscar saber mais, vi no mestrado um caminho, um futuro. As trilhas levavam a Universidade de Columbia, considerada uma das 10 melhores universidades do mundo. Me senti mais que honrada por continuar meu caminho acadêmico iniciado com a graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

O objetivo era estudar a relação mãe-bebê e o desenvolvimento da resiliência, ou seja, a capacidade de superar dificuldades. Na teoria tudo parecia que ia ser fácil: o dólar estava abaixo de dois reais (portanto, o carro, os livros, os moveis do consultório e tudo o mais que vendi, junto com dois empréstimos deveriam ser suficientes para custear essa empreitada); além disso eu poderia conseguir uma bolsa, certo?

E não é que eu estava redondamente enganada!!??? Meu plano se tornou mais utópico que imaginar os EUA deixando de ser um grande poluidor ainda em 2015 ou, a Rússia implementar uma política anti homofobia mês que vem.

A flutuação cambial ou, como gosto de chamar a cotação do desespero, transformou meu curso de mestrado em algo quase quatro vezes mais caro do que as projeções iniciais. E as bolsas, viraram outra desilusão. Algumas cujo processo seletivo envolviam várias viagens a São Paulo, ficaram complicadas para alguém morando no Rio Grande do Norte, já que significavam gastar o mesmo que dois meses de aluguel no exterior, sem garantia de resultado positivo. Outras deixam a cargo da Universidade a escolha dos bolsistas, e muitas instituições estrangeiras (ou a maioria delas) não tem noção de que o acesso a suporte para carreira academia está longe de ser bem distribuído em todo Brasil. E o Ciências sem fronteiras? Acho que já mencionei que sou Psicóloga, e minha área não é exatamente top five dos cursos de foco do programa.

O resultado foi que gastei tudo o que tinha e não tinha, e passei a contar com a ajuda dos amigos e conhecidos no Brasil e aqui. Faltou grana para comida, pros livros e até para a matricula nas disciplinas.

A um semestre do fim, meu futuro está incerto. Uma vaquinha online incentivada por amigos, junto com o apoio de pessoas que nunca vi, renovam minhas forças. O sonho de usar a educação para melhorar o Brasil, ainda permanece acesso, por mais ingênuo que pareça. A intenção é lutar para embarcar em dezembro com o diploma na mão. Ainda creio que vai fazer diferença pro meu futuro. O lema no entanto, teve que mudar um pouco. Por sugestão de uma amiga, tenho na porta da geladeira (e impregnada na cabeça) a frase dita por Gene Kranz, diretor de voo da missão espacial Apollo 13 “failure is not an option” (“O fracasso não é uma opção”, em português); e se é meu futuro que está em risco, aí que não pode ser opção mesmo.

Para contribuir com que a Georgia termine o seu mestrado acesse o site do projeto. https://www.vakinha.com.br/vaquinha/campanha-para-concluir-mestrado-e-voltar-pro-brasil

Entre em contato também com uma mensagem de apoio: [email protected]

Geórgia Freire

Graduada em Psicologia pela UFRN Coordenadora Pedagógica do Núcleo Mater Mestranda do Curso de Psicologia do Desenvolvimento da Teachers College, Columbia University

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2 Comentários

  1. Qual exatamente é o propósito deste artigo? Não quero parecer um fdp, mas desculpa, Shit happens! Vida é assim, segue em frente.
    Quando o dólar sobe as coisas em dólar ficam mais caro, sim, não me lembro de ver artigos dizendo quão insano a vida do autor ficou quando a cotação do dólar desceu de R$4,00 para R$1,60. Também não vejo propósito de reclamar do contrário.
    E quanto à bolsa, eu fico feliz em não ter sido tributado adicionalmente com o propósito de subsidiar seus estudos. Não é mérito moral do governo defender quais linhas de estudo devem ser priorizadas, ou até mesmo, se educação deveria ser uma prioridade. Essa é uma escolha individual. Se a pessoa quiser dar preferência para o seu consumo de sorvete em detrimento de sua saúde ou educação, que ela assim o faça e que não seja penalizada pelas preferências arbitrárias de um grupo de burocratas.

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