Nesta coluna que trata de assuntos correlatos a finanças pessoais e como você pode se beneficiar se colocar em prática, até então abordamos que deve ser feito um esforço para que o futuro financeiro seja mais confortável e, na prática, isso significa que escolhas deverão ser feitas no caminho para que isso seja de fato possível. Porém, assim como os antigos sábios diziam, “tudo que é demais é prejudicial” e, poupar o presente deixando para utilizar no futuro, em demasia, também é prejudicial. Sempre busque o equilíbrio.
Dentro das estatísticas que levantamos aqui em outros artigos você já sabe que boa parte do Brasil se encontra alocado nos grupos interseccionados de pessoas que estão com crédito negativado e indivíduos que não possuem reserva financeira alguma. No grupo menor de pessoas que têm reservas financeiras, temos um subgrupo pequeno – mas que você certamente conhece alguém que se encaixa -, que é o de pessoas que deixam oportunidades passarem adiante basicamente porque elas afetariam sua renda ou seu nível de gastos.
O primeiro dos casos desse grupo é mais complicado. Aquela pessoa que detesta o trabalho em que está atualmente mas, pelas necessidades do dia a dia (e também pelos planos financeiros que deseja executar), não busca mudar de emprego basicamente porque isso alteraria sua renda mensal. Em um momento como o atual, em que o mercado de trabalho está bem complicado, é mais compreensível que isso ocorra. Mas mesmo em momentos de economia em alta e uma mobilidade maior como possibilidade, ainda assim vemos esse cidadão presente. Resultados disso, ao longo do tempo, envolvem o desgaste físico e mental da pessoa – e, nunca se esqueça disso, sem saúde não adianta nada ter um belo patrimônio. Muitas pessoas tornam-se reféns de suas dívidas ou do estilo de vida que vivem, colocando a flexibilidade na tomada de decisões da vida em xeque.
O segundo caso é mais presente e paradoxal na nossa sociedade brasileira. Sempre se ouve por aí que o brasileiro é um povo empreendedor, que tem ideias inovadoras e coloca em prática planos que “até a NASA devia vir estudar”. Mas, piadas à parte, uma verdade é que cavalos selados costumam passar diante de nossos olhos e, para não aumentar os desembolsos (mesmo que temporariamente), decidimos que outra pessoa aproveitará a viagem. Esse é o caso de ver aquela oportunidade, aquela demanda não cumprida que você sem muito esforço (mas com algum gasto/investimento) supriria, mas “desse jeito não vou conseguir poupar o que planejei”. Uma recente medida do governo pode ajudar nessa tomada de decisão: caso seja aprovada, a MP da Liberdade Econômica reduzirá a burocracia dos pequenos negócios – e facilitará a execução de várias ideias que hoje estão nas mentes.
Parafraseando Leandro Karnal em uma de suas palestras, “não é porque estou falando que casamento é complicado que você deve se divorciar”. Não leve ao pé da letra o que você lê neste artigo, chegando em casa hoje e dizendo “vou largar meu emprego para finalmente tentar trabalhar naquela empresa que sempre amei” ou “agora é hora de colocar todas as minhas reservas para fazer aquela pousada em Trancoso que sempre pensei em fazer”. Tudo depende do momento em que você se encontra e da viabilidade de colocar em prática esses projetos.
Porém, fica a reflexão, que muitas vezes é realizada em relação a aspectos mais gerais da vida, mas que perfeitamente consegue se encaixar se o assunto for dinheiro: com que frequência deixa de aproveitar oportunidades mesmo tendo dinheiro para isso? É justo consigo mesmo poupar todo seu presente em prol do futuro? Qual é o limite entre melhorar o futuro e desgastar o presente?
Todas essas perguntas têm respostas abertas e particulares, longe de ser um consenso. Procure sempre adaptar as suas finanças para que você consiga ter segurança para tomar decisões que realmente sejam positivas na sua vida. Ter um estilo de vida coerente com a renda, poupar e estar preparado para conseguir abraçar as oportunidades são pontos que minimizam riscos nas tomadas de decisão e criam alicerces para dar passos para frente.
Ter liberdade de poder escrever o seu futuro com aquilo que realmente gosta tende a trazer mais valor a sua vida do que viver em um marasmo de secar gelo todos os dias e reclamar dia sim e dia sim.
Cada escolha gera uma renúncia. Levante os pontos positivos e negativos de cada escolha, pense nos riscos e pergunte a si mesmo se você tem disposição de assumi-lo.
O que se tem de recomendação média dentre os especialistas em finanças pessoais é que você reserve cerca de 10% de seu orçamento para seu eu de amanhã. Ainda assim, é válido sempre reavaliar o que você abre mão pelo seu futuro financeiro.
Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico Douglas Albuquerque – Editor do Terraço Econômico