Nobel 1984: Richard Stone| por Claudio Lucinda

Richard Stone ganhou o Prêmio Nobel de Economia do ano de 1984 pelas suas contribuições para o sistema de contas nacionais e, portanto, melhorando as bases para análise econômica empírica, segundo a Academia de Ciências da Suécia.

Economista britânico nascido em 1913, Stone fez sua graduação na Universidade de Cambridge, inicialmente em Direito mas posteriormente atraído por Economia. Um elemento importante nesta atração foi o trabalho de seu professor Colin Clark, que à época se dedicava à mensuração e definição do conceito de Renda Nacional. Ainda que a ideia de Renda Nacional não seja nova (poucas ideias em Economia o são e o próprio Stone em sua palestra ao receber o Prêmio Nobel reconhece vários antecedentes, começando por William Petty em 1664), o tema começa a ganhar importância prática e acadêmica no início dos anos 30 do século XX.

Com o início da Segunda Guerra Mundial o governo inglês convoca John Maynard Keynes para analisar a economia britânica, para que os seus recursos possam ser utilizados no esforço de guerra da forma mais eficiente. Para isso Keynes coordenou um esforço para a construção de um sistema de contas nacionais, com uma equipe composta por dois futuros Prêmios Nobel: Richard Stone e James Meade. Tal sistema foi publicado como o livro de 1944 National Income and Expenditure, de Richard Stone e James Meade. 

Keynes recomenda ao final da Segunda Guerra Mundial que a Universidade de Cambridge crie um Departamento de Economia Aplicada, dirigido por Stone, cujo trabalho na construção do sistema de contas nacionais o impressionou bastante. E assim, em 1945 Richard Stone se tornou professor em Cambridge e diretor desse novo departamento. A Universidade de Cambridge foi seu domicílio acadêmico desde 1945 até sua aposentadoria em 1980.

Em termos de contribuição acadêmica, a contribuição de Richard Stone criando o Sistema de Contas Nacionais não pode ser minimizada, é também uma linguagem e parte da forma de pensar do economista moderno. Termos como Produto Interno Bruto, Consumo do Governo, Balanço de Pagamentos, que são comuns no debate público em economia são entendidos hoje num contexto do Sistema de Contas Nacionais.

O Sistema de Contas Nacionais é essencialmente uma aplicação do método de Partidas Dobradas para o registro das atividades de cada um dos setores que compõem a economia – famílias, empresas, governo e residentes no exterior. Em sua versão original de 1953, esses registros eram compostos por quatro contas: produção, consumo, acumulação e relação com o exterior. 

Em cada uma das contas, temos entradas e saídas registradas de forma integrada: uma entrada em uma conta têm que corresponder a uma saída em outra conta. A vantagem desse sistema é que ele é integrado – ou seja, o sistema garante a sua consistência interna.

Stone sempre preferiu a apresentação desse sistema em uma forma matricial, com as contas de entrada representadas em linhas e as contas de saída em colunas. Nessa forma de apresentação, os conceitos como Produto Interno Bruto, Consumo ou Balança Comercial também aparecem, mas também é possível visualizar as inter-relações entre os setores da economia. A análise de Insumo-Produto de Wasily Leontief, por exemplo, pode ser vista como o estudo das relações correspondentes à matriz associada à conta de produção da economia. Tais desagregações inclusive ganharam um nome próprio, Sistema de Contabilidade Social.

As principais utilidades do Sistema de Contas Nacionais são, em primeiro lugar, a capacidade de se avaliar o estado de uma economia de uma forma organizada e logicamente consistente a partir da análise destas contas. Além disso, a comparação das Contas Nacionais ao longo do tempo também permite que monitoremos o desempenho da economia ao longo do tempo, levando-se em conta a mudança no poder de compra da moeda ao longo do tempo. 

Tais vantagens fizeram com que a metodologia do Sistema de Contas Nacionais tenha sido empregada por organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (que publicou o Sistema de Contas Nacionais de Stone em 1953), o Banco Mundial, o FMI e a OCDE. Tais organizações foram fundamentais para a disseminação e padronização internacional deste sistema, usado por todos os países do mundo atualmente.

A influência do Sistema de Contas Nacionais não é restrita ao aspecto da mensuração; a forma de se escrever e pensar sobre macroeconomia se beneficiou enormemente do Sistema de Contas Nacionais. Para alguns casos, o Sistema de Contas Nacionais já é algo muito próximo de um modelo: uma matriz insumo-produto é, ao mesmo tempo, um registro de transações entre os diferentes setores e, também, uma representação da tecnologia de produção da sociedade. Ao forçar uma definição precisa e consistente de termos como “Consumo”, “Investimento” e “Gastos do Governo”, o Sistema de Contas Nacionais fez com que o debate acadêmico deixasse de se perder em aspectos semânticos e de definições, algo muito presente na literatura da virada do século XX.

Finalmente, Richard Stone tem contribuições relevantes na área de modelos empíricos de demanda, ainda que não diretamente mencionadas pelo Comitê do Prêmio Nobel. Nesta área, a principal contribuição foi o desenvolvimento do Linear Expenditure System, um modelo de demanda que (i) podia ter seus parâmetros estimados com os dados e computadores disponíveis nos anos 50 do século XX, (ii) era consistente com a teoria econômica, significando que os parâmetros estimados representariam o processo de escolha de um consumidor representativo. Hoje em dia considerado simples e exageradamente restritivo, este modelo foi a base da grande parte da literatura subsequente na área – inclusive do Almost Ideal Demand System de Angus Deaton, outro Prêmio Nobel. 

Em resumo, o Sistema de Contas Nacionais, além de ser um tema a que milhares de alunos de graduação em economia são apresentados no início de sua carreira – com diferentes graus de entusiasmo – foi e é um elemento na forma de se pensar e se comunicar a Macroeconomia. E por isso nossas contas registram um débito com Richard Stone.

Claudio Lucinda – [email protected]

Referências:

Stone, John Richard Nicholas (1913-1991) – Capítulo no The New Palgrave Dictionary of Economics. Disponível em https://www.princeton.edu/~deaton/downloads/Deaton_STONE_JOHN_RICHARD.pdf

The Accounts of Society – Richard Stone Nobel Lecture. Disponível em

https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/1984/stone/lecture/

Essays of an Information Scientist, Vol:8, p.469-479, 1985     Current Contents, #49, p.3-13, December 9, 1985 – disponível em http://garfield.library.upenn.edu/essays/v8p469y1985.pdf 

 

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