Desde o começo deste ano, o renomado economista André Lara Resende – um dos formuladores do Plano Real – vem causando certa polêmica ao propagar algumas teses bastante heterodoxas.
Lara Resende criticou aquilo que chama de “dogmatismo fiscal” dos liberais, devido à busca pela estabilidade fiscal, através de superávit primário. Disse que a economia brasileira teria dificuldade em voltar a crescer se a prioridade do governo continuar a ser a Reforma da Previdência.
Alguns meses atrás, o economista escreveu artigo no qual defendeu a Modern Monetary Theory (MMT), uma “inovadora” teoria econômica que permite a governos emissores da própria moeda um endividamento infinito, visto que poderão sempre emitir moeda para quitá-lo. Tal endividamento seria necessário para manter o pleno emprego e financiar políticas públicas que combatam as desigualdades.
Essa atual postura de Lara Resende é surpreendente e, até mesmo, chocante, dado o histórico e a experiência do economista no Setor Público brasileiro. Ano passado, por exemplo, Lara Resende era colaborador da campanha de Marina Silva (Rede). Em entrevista, ele disse que a prioridade da candidata, caso eleita, seria fazer uma reforma da Previdência e outra tributária, com vistas a fazer um superávit primário de 1,2% a 1,5% do PIB no curtíssimo prazo. Além disso, ele defendeu a revisão de diversos benefícios fiscais, como a Zona Franca de Manaus.
Outro ponto recente, e bastante lembrado na vida do economista, foi sua participação no Roda Viva que entrevistou o francês Thomas Piketty, em novembro de 2014. Na ocasião, Lara Resende polarizou com o francês, ao questionar suas ideias de taxação dos mais ricos como uma forma de combater as desigualdades nas sociedades. Na época, André Lara Resende foi achincalhado por militantes e intelectuais da esquerda do espectro político nas redes sociais.
Mas, a grande lembrança sobre André Lara Resende foi sua participação na equipe responsável pela confecção do Plano Real, o qual abriu o caminho para livrar o Brasil da hiperinflação. Outro economista com participação no Plano, Gustavo Franco, narra em seu livro “A moeda e a lei” detalhes da confecção daquele novo marco monetário. O autor, em diversos momentos, lembra o quanto o alto déficit fiscal tinha participação na inflação brasileira, além de como era complicado mensurar de forma correta o tamanho do rombo, pois os dados à época eram pouco confiáveis.
Uma das primeiras etapas anteriores ao Plano Real foi o Programa de Ação Imediata (PAI), que previa um ajuste fiscal duro nos gastos da União. Foi nessa época, relembra o autor, que também iniciou-se um programa para reduzir dívidas de governos estaduais, sobretudo através de um arrojado plano de privatizações. Não havia dúvida de que o déficit público e o alto endividamento estavam na raiz dos problemas brasileiros, principalmente da hiperinflação.
É comum ouvir a história de pessoas que, durante parte da juventude e da jornada na universidade, tinham uma visão da economia mais ligada às ideias socialistas, de que superávit primário era coisa de “neoliberal rentista” e que o Estado deve garantir o máximo de direitos possíveis. Porém, essas pessoas, depois de algum tempo, evoluem seu entendimento e passam a levar em conta as restrições orçamentárias, além da importância da Responsabilidade Fiscal para o pleno desenvolvimento do país.
Entretanto, o caso de Lara Resende vai justamente na direção contrária.
Após anos com uma carreira pautada pela defesa das teses liberais e conhecendo os problemas que afligem o governo, principalmente aqueles relacionados ao endividamento e inflação, o economista, agora, apresenta uma visão econômica de fazer inveja a qualquer economista do PSOL. É como se Lara Resende fosse o Benjamin Button da economia brasileira. É questão de tempo até aparecer uma liderança política viável para abraçar as ideias de Lara Resende e defender um programa baseado na impressão de dinheiro na próxima eleição.