O Brasil que eu NÃO quero

Desde o começo do ano, a Rede Globo tem convidado os brasileiros e brasileiras a falarem sobre o que querem para o Brasil em vídeos de 15 segundos, com o celular na horizontal, tendo em vista as eleições de outubro/2018 na qual iremos eleger os governadores estaduais e o presidente da república, além de senadores e deputados federais e estaduais. Pessoas do Brasil inteiro tem pedido governantes honestos, mais educação, saúde e segurança, entre outras demandas.


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Mas, olhando sobre a perspectiva histórica, podemos enumerar também coisas que NÃO queremos mais para o Brasil, pelo seu alto custo social, econômico e político. Como esse é um artigo livre, teremos mais de 15 segundos para discutir o Brasil que não queremos:

(1) Populismo – Uma palavra tão combatida e ao mesmo tempo tão utilizada. Populismo, na prática, é quando conjuntos de ideias simples rodeadas de boas intenções são anunciadas independente da possibilidade real de execução ou mesmo desconsiderando os custos sociais que implicam. É aquela situação clássica na qual o político promete algo que não é factível (trem bala entre Rio e São Paulo para a Copa do Mundo de 2014) ou mesmo que desconsidera todos os resultados de sua ação sobre demais elos da cadeia (liberar crédito barato por um longo tempo para a compra de caminhões desconsiderando possível descasamento entre essa oferta e a demanda por fretes). Geralmente isso envolve também uma boa dose de “aqueles que estão contra na verdade são contra o povo”.

O Brasil que não queremos é o que abraça a causa populista e depois diz não saber a origem de tantos males advindos dela.

(2) Descontrole Fiscal – Que diferença faz para a vida das pessoas se as contas do governo fecham ou não? Sendo o governo uma entidade que não gera recursos (a não ser a partir dos monopólios naturais e das estatais que comanda), apenas arrecada e direciona, na verdade faz muita diferença. Certamente a análise que o Estado faz sobre a relação entre os recursos que arrecada, as destinações que oferece e o endividamento promovido ao longo do tempo é bem diferente do que fazem as famílias, mas isso não o isenta de analisar cuidadosamente seus gastos para evitar que eles saiam do controle. Até porque, sem controle, quem paga somos justamente nós: por meio de inflação, de aumento da dívida pública ou mesmo pela taxa de juro. E isso ocorreu de uma maneira sem precedentes na economia brasileira, considerando o aumento real de gastos do governo, principalmente com salários e rendimentos da previdência social.

O Brasil que não queremos é o que acha um absurdo analisar programas de desembolso público mas depois diz não entender quando os programas eficientes sofrem os mesmos cortes proporcionais dos programas que pouco acrescentam em termos sociais.

(3) Estelionato Eleitoral – Ficou famosa essa expressão logo após a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Após uma campanha recheada de avisos sobre os “inimigos do povo” que falavam sobre uma crise que não existia de verdade em nosso país, a presidenta decidiu atuar justamente na corrente contrária ao que pregou. Não havia crise fiscal, mas o “mãos de tesoura” Joaquim Levy foi chamado para o Ministério da Fazenda; não tinha sido incorreta a medida em 2012 de abaixar na canetada o preço da energia, mas agora havia uma liberalização de preços que fez com que estes ficassem 60% maiores em um único ano; não havia nenhum problema a política de preços da Petrobras de congelar os preços virtualmente, mas foi preciso aumentar fortemente os preços para fazer caixa frente aos subsídios dos últimos anos. Estelionato eleitoral é a ação realizada por todo aquele que mente sobre a situação atual para se eleger (ou se reeleger) e, logo ao entrar, age de maneira completamente diferente. Nesse ponto, precisamos tirar o chapéu para o presidente americano Donald Trump; por mais questionáveis e polêmicas que sejam suas medidas econômicas e sociais, quase a totalidade foi apresentada no momento de campanha pré-eleição. Seus eleitores não estão se sentindo enganados, como foi o caso aqui com o governo Dilma II.

O Brasil que não queremos é aquele que o governante é eleito com uma plataforma e, logo que entra, põe em prática medidas que demonstram claramente que ele tinha consciência de que a situação era diferente daquilo que anunciou para chegar até lá.

(4) Benefícios Concentrados e Custos Difusos – Em nome do “povo sofrido do Brasil” muitas ideias geniais costumam surgir. Tudo, é claro, sempre em nome do povo trabalhador que paga seus impostos e tem um péssimo retorno sobre isso. Por que não subsidiar combustíveis para os pobres caminhoneiros? Que tal também dar descontos maiores aos professores na compra de veículos porque eles exercem uma interessante função social, a da educação? E ainda, o que dizer de manter o sistema previdenciário atual já que ele alcança a todos e não tem déficit? Pois é, por trás de muitos “interesses do povo” estão na verdade grupos de interesse buscando concentrar seus benefícios às custas de um custo que será arcado por todos os brasileiros.

O Brasil que não queremos é aquele cuja hipocrisia de alguns grupos de interesse os impeça de serem sinceros sobre suas solicitações e, em vez disso, continuam atribuindo ao “bem do povo brasileiro” as benesses que recebem de forma concentrada enquanto o povo apenas as custeará sem se dar conta.

(5) Empresas “do povo” – Algo absolutamente enraizado em nosso país é a crença de que estatais são um verdadeiro orgulho nacional. Segundo essa ideia, deixar nas mãos do temido mercado a atuação que estas desenvolvem seria “entregar o patrimônio nacional a interesses nocivos”. No entanto, o que tivemos observado desde “O Petróleo é Nosso” até os dias atuais dá conta de demonstrar que o maior interesse sobre essas empresas está sobre o poder que elas podem oferecer politicamente a quem as comanda. Uma dica que mostra como isso é real: poderiam elas continuarem sim existindo, mas qual o sentido da maioria delas não poderem competir com outras empresas privadas? Talvez porque isso encaminhará a uma redução de poder que não interessa aos que estão por trás delas dando direcionamentos diversos, novamente, “em nome do povo”.

O Brasil que não queremos é o da estatização danosa, aquela que rasteiramente afirma estar presente para beneficiar a vida do povo mas cujos prejuízos e demais ineficiências são custeadas por este mesmo povo.

A lista de itens teria continuação, mas os motivos são basicamente todos originados dos cinco apresentados acima. É muito importante que nós brasileiros fiquemos atentos a estes itens porque, na campanha eleitoral que se aproxima, o canto da sereia do “tudo é possível e nada tem custo” será novamente cantado; um Estado imenso, belo e agregador, novamente será apresentado como possibilidade que só não existiu porque ainda não fizemos o esforço correto. Caso novamente nos encantemos por esse canto, não restará apenas aceitarmos o status atual – para a alegria de quem usufrui dele em sua totalidade.

Em outras palavras: além de saber o que queremos, temos de ter bem claro o que NÃO queremos para o Brasil do futuro. Afinal, não existe almoço grátis.

Arthur Solow Editor do Terraço Econômico

Caio Augusto Editor do Terraço Econômico

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