O fator sorte

A Clear Corretora realizou uma pesquisa que aponta que 7 em cada 10 traders estudam o mercado em que operam há menos de um ano. Ao ler esse resultado, confesso que não fiquei surpreso…  dado que são tempos em que a busca pelo conhecimento está sendo deixada de lado em troca de um imediatismo por resultados. 

Ao contrário do que falam os oráculos do Instagram, o mercado deixa um rastro maior de sangue do que de flores por onde ele passa. Isso quer dizer que precisamos nos manter afastados dele? De forma alguma. Temos que ter a prudência de quem senta em frente ao volante de um carro para sua primeira lição. Após comprovar conhecimento teórico, você irá pilotar, e não o contrário. Esse exemplo simples fala muito sobre a ordem dos fatores para o investidor iniciante. Precisamos respeitar nossos limites e sentir o efeito que o acelerador causa no carro, e, muito mais importante, é saber a reação do freio. Afinal de contas, é ele quem vai nos manter vivo nas curvas.

Poucos desses aspirantes a investidores oferecem a glória de algum bom resultado para a verdadeira responsável: a sorte. Mas o que é a sorte? Sorte é quando você entra no cassino, encontra dez dólares e resolve “devolver” esse dinheiro ao Senhor Destino, apostando no caça-níquel. Surpresa! Você levou para casa 21 milhões de dólares. Essa é uma história real que aconteceu no Caesars Palace em 1999. Não tenho mais informações sobre o felizardo ou felizarda, mas tenho certeza que essa pessoa não devolveria os 21 milhões para a sorte em mais uma rodada.

Outro exemplo é o de Napoleão Bonaparte que, ao perder um de seus generais em guerra, buscava substitutos que tivessem sorte. Por vezes, talvez ela os tenha acompanhado durante as inúmeras batalhas. Mas os sortudos generais viram o fim da era Napoleônica em 1815. 

A sorte, aliada ao conhecimento e a disciplina de uma estratégia bem arquitetada, pode trazer muitos frutos ao longo do tempo. Investir no mercado de ações é uma decisão para a vida. Ser sócio de uma empresa vai muito além de olhar números verdes ou vermelhos em um monitor. Os próximos 20 anos reservam uma história ainda opaca para petroleiras, bancos e varejistas, mas é possível projetar e discutir com grau de assertividade maior sobre esse período do que sobre os próximos 20 minutos.

Leia bons livros e cartas de gestores, assista entrevistas de quem respira investimentos. Minha dica nas redes sociais é: siga todo tipo de influenciador financeiro, esteja aberto para novas ideias. Um erro muito comum é buscar apenas confirmação daquilo que você julga certo. Alguns dos maiores aprendizados que adquiri nesse campo foi seguir pessoas que não pensam como eu. Isso não quer dizer que abri mão de minha estratégia, quer dizer que deixei a sorte para meu hobby no pôquer e os estudos e pesquisas para meus investimentos.

Daniel Bozz

Graduado em Ciências Econômicas pela UCS e Pós-Graduação em Finanças e Investimentos pela PUC-RS.

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