Coronavírus e China

Ainda é difícil mensurar os reais efeitos do Coronavírus sobre a economia mundial. O governo chinês continua restringindo muito o acesso à informação sobre o que realmente está acontecendo dentro do país. As informações oficiais não nos dão uma real visão sobre a verdadeira situação, sendo assim, vamos lentamente entendendo o impacto dessa doença no mundo.

O Brasil por ser um parceiro comercial da China está exposto às crises internas vividas pelos chineses. O comércio com o país asiático tem um grande peso na balança comercial nacional, sendo assim, qualquer tipo de restrição imposta pelo governo chinês a seus cidadãos, a suas fábricas e suas empresas têm potencial de afetar o Brasil. 

Para se ter uma melhor ideia dos efeitos que o vírus está causando na economia chinesa, e por consequência, no mercado brasileiro, podemos começar olhando para a cidade de Wuhan, cidade que foi o epicentro da doença. A cidade possui uma população aproximada de 11 milhões de habitantes, superando outras grandes metrópoles como Tóquio e Nova York. Wuhan é composta por mais vários centros de ensino (de pré-escolas a universidades), o que a torna como um centro de educação na China. Além disso, Wuhan contém três zonas de desenvolvimento nacional e quatro parques de desenvolvimento científico e tecnológico, fora as inúmeras incubadoras de empresas, o que inclui institutos de pesquisa e empresas de alta tecnologia.

A China, que possui a maior população no mundo, ultrapassando 1.394.550.000 de pessoas, é a segunda maior importadora do mundo e a primeira exportadora. Em valores, ela é responsável por importar mais de USD 2.1 trilhões e por exportar mais de USD 2.3 trilhões por ano.

Com o país praticamente em quarentena as indústrias estão trabalhando com uma mão de obra muito reduzida, gerando uma escassez na oferta de inúmeros produtos ao redor do mundo. Um exemplo disso são os brinquedos, uma das maiores empresas de brinquedos do mundo a MGA`s Toys tem 80% da sua produção na China. Eles contratam mais de 50 fábricas de brinquedos na China e com essas fábricas produzindo brinquedos em uma escala muito menor que o normal, existe o temor inclusive que a China não consiga fornecer brinquedos suficientes para o natal de 2020.

Outro setor que será fortemente afetado pelo vírus é o de produção de smartphones. Um levantamento feito pela  TF International Securities indica uma possível queda de 32% nas remessas chinesas de smartphones somente no primeiro trimestre de 2020. E uma queda de 5% durante o ano de 2020. Um exemplo disso é uma queda esperada de 4 milhões na entrega de iPhones nos primeiros 3 meses do ano. 

A grande maioria das indústrias na China estão passando pelos mesmos problemas, e infelizmente esse problema não se estende somente a China. Por eles serem os maiores importadores do mundo é de se esperar que diversas indústrias passem por problemas parecidos, algo que afeta inclusive as indústrias e os mercados de outros países, incluindo o nosso. 

Importamos anualmente 34 bilhões de dólares em produto chineses, ou seja, a China sozinha é responsável por mais de 20% das importações brasileiras. Desse montante mais de 50% são os manufaturados. Esses produtos vão desde circuitos impressos, material que são usados para a exportação de petróleo até produtos que usamos no nosso dia a dia, como nossos aparelhos celulares. Basicamente tudo que usamos no nosso cotidiano tem componentes que vem da China, quando os produtos em si não são produzidos inteiramente lá.

Em outras palavras, a depender do período em que as fábricas fiquem com suas linhas de montagem reduzidas é possível que tenhamos uma carência de inúmeros produtos que são produzidos lá, ou artigos que em seu processo de produção utilizam de materiais provenientes da China. 

Outro fator que devemos nos atentar é o fato de que mais de 25% das exportações brasileiras têm como destino o país asiático. De janeiro a novembro de 2019, a China foi responsável pela compra de mais de mais de 57 bilhões de dólares de produtos brasileiros, por volta de 88% das exportações são commodities como o óleo e a soja, ou seja, produtos comumente usados como matérias primas.

Com as indústrias chinesas paralisadas a demanda por matéria prima irá diminuir, impactando assim a indústria nacional. É de se esperar que ao longo de 2020 tenhamos uma demanda menor na exportação para os países asiáticos. 

Acredita-se que o Coronavírus afete a economia brasileira durante o ano todo. Apesar de que no momento ainda temos muito poucos dados referentes aos impactos do vírus em nosso mercado. Mas no momento, a grande pergunta é: Qual a real situação na China? 

Somente quando tivermos um panorama mais claro do que está acontecendo por lá é que vamos prever quais os impactos reais que vamos sofrer no Brasil. Por hora apenas nos resta esperar.

Mateus Reppucci
Aluno de Administração da PUC-SP, atualmente trabalha na Middle Office da Claritas Investimentos.

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